Poluição: como algumas espécies marinhas usam os nossos resíduos para sobreviver?

Há muito lixo nos nossos oceanos, especialmente plástico, o que representa uma ameaça real para muitos animais marinhos. Porém, alguns conseguiram adaptar-se e até utilizá-lo para sobreviver.

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Os nossos oceanos estão cheios de resíduos plásticos. Embora isso represente uma ameaça à biodiversidade, algumas espécies conseguiram tirar vantagem disso para seu benefício.

A poluição dos ambientes marinhos é cada vez mais importante à escala planetária, particularmente dos plásticos que formam verdadeiros “continentes” flutuantes em algumas partes dos oceanos. No entanto, certas espécies marinhas encontraram soluções para se adaptarem a esta poluição.

O plástico como refúgio

Estima-se que, dos 400 milhões de toneladas de resíduos plásticos produzidos pelo homem todos os anos, 22 milhões são lançados no ambiente natural e muitos deles acabam nos oceanos. Esta gigantesca poluição plástica perturba fortemente os ecossistemas, sejam terrestres ou marinhos; no entanto, certas espécies conseguiram adaptar-se a ela, e até usam o plástico em seu benefício.

É o caso, por exemplo, do caranguejo eremita, crustáceo conhecido por ter abdómen mole, vulnerável aos raios solares, que se esconde numa concha “roubada” de outra espécie. Um estudo recente destacou o facto destes crustáceos terem uma tendência crescente para utilizar conchas artificiais.

Dada a abundância de plástico nos oceanos e a diminuição do número de moluscos e conchas disponíveis, alguns caranguejos eremitas utilizam o lixo como abrigo. Alguns foram fotografados usando gargalos como conchas e até rolhas de plástico!

Também foram observados outros animais que utilizam o plástico a seu favor, como certas espécies de pássaros que utilizam pedaços de plástico e até sacos inteiros para construir ninhos mais fortes. Os polvos também desenvolveram o hábito de utilizar resíduos plásticos para esconder a entrada dos seus abrigos, além de se abrigarem diretamente em lixos como garrafas (plástico ou vidro), baldes ou mesmo latas.

Este tipo de abrigo feito com resíduos plásticos também é utilizado por algumas espécies de ouriços-do-mar, que agora preferem esconder-se em objetos de plástico em vez de perfurar a rocha para se camuflar. Contudo, os plásticos transparentes representam um risco para este invertebrado, vulnerável aos raios solares.

Plástico para viajar

Atualmente, a comunidade científica reconhece que diversas espécies marinhas utilizam resíduos como a madeira para atravessar oceanos e expandir-se para mais regiões. No entanto, estas 'jangadas naturais' permanecem relativamente raras e também se deterioram rapidamente com as ondas e correntes.

É assim que autênticas 'ilhas' flutuantes de plástico são utilizadas como meio de transporte para inúmeras espécies, hoje presentes em grandes quantidades e revelando-se mais resistentes. Por exemplo, após o tsunami de 2011 que atingiu o Japão, um estudo descobriu que quase 300 espécies marinhas que anteriormente viviam ao longo da costa do país tinham vagueado pelos oceanos em detritos de plástico, por vezes estendendo-se até ao norte do Japão!

Em 2023, os cientistas também descobriram espécies normalmente encontradas nas costas em 70% das amostras de plástico recolhidas no Giro Subtropical do Pacífico Norte, um 'beco' sem saída natural para detritos de plástico flutuantes. No entanto, este setor está localizado a milhares de quilómetros das costas americana e asiática.

No entanto, estas autênticas jangadas de plástico também favorecem a proliferação de certas espécies invasoras em muitas regiões do planeta, cujos resíduos humanos lhes permitem viajar mais facilmente e por períodos mais longos através dos oceanos.

Apesar destes exemplos incomuns de adaptação de certas espécies aos nossos resíduos plásticos, ainda falta conhecimento sobre o seu verdadeiro impacto nos ecossistemas marinhos em todo o mundo. Em qualquer caso, os investigadores têm agora a certeza de que são necessárias medidas urgentes para reduzir drasticamente a quantidade de resíduos nos nossos oceanos, porque, se algumas espécies se adaptaram rapidamente para beneficiar deles, outras sofrem as consequências prejudiciais.