Poeiras do deserto são capazes de garantir o crescimento de fitoplâncton no mar
Poeiras do deserto fertilizam o crescimento de fitoplâncton no oceano, revela estudo da NASA. A deposição dessas poeiras contribui com até 40% da produção global anual de carbono, alimentando a cadeia alimentar marinha e desempenhando um papel crucial no sistema climático.
Um novo estudo realizado por investigadores da Oregon State University, da University of Maryland e da NASA revelou como a poeira do deserto fertiliza o crescimento de fitoplâncton no oceano.
O estudo publicado na revista Science, no passado dia 5 de maio, combinou observações de satélite com um modelo computacional avançado para entender como as poeiras provenientes do solo promovem o crescimento de fitoplâncton. O fitoplâncton é composto por organismos microscópicos semelhantes ao das plantas e desempenham um papel central na cadeia alimentar marinha.
Poeiras do deserto impulsionam produção de carbono pelo fitoplâncton nos oceanos
O fitoplâncton, que flutua perto da superfície do oceano, obtém energia principalmente do sol e de minerais, e outros nutrientes provenientes das profundezas, ou que são levados para o mar, a partir de águas costeiras. No entanto, as poeiras do deserto, ricas em minerais, também desempenham um papel importante na saúde e abundância do fitoplâncton.
De acordo com o estudo, a deposição de poeiras no oceano contribui com cerca de 4,5% da produção global anual de carbono, o que corresponde à quantidade de carbono absorvido pelo fitoplâncton durante a fotossíntese e que submerge para as profundezas do oceano. No entanto, essa contribuição chega a entre 20% a 40% em algumas regiões oceânicas nas latitudes médias e altas.
O fitoplâncton desempenha um papel fundamental no sistema climático e no ciclo do carbono. Assim como as plantas terrestres, contêm clorofila e obtêm energia do sol por meio da fotossíntese. Além de produzir oxigénio, retira uma quantidade enorme de dióxido de carbono da atmosfera, potencialmente a uma escala comparável com as florestas tropicais. Além disso, o fitoplâncton está na base de uma cadeia alimentar que abrange desde zooplâncton até aos peixes e baleias.
A larga distância, as poeiras alimentam o fitoplâncton e impulsionam saúde dos oceanos
As partículas das poeiras podem viajar milhares de quilómetros antes de caírem no oceano, nutrindo o fitoplâncton a grandes distâncias de sua fonte inicial. Tais considerações foram tecidas por Lorraine Remer, coautora do estudo e investigadora da University of Maryland.
De modo a rastrear a biologia oceânica a 400 milhas acima da superfície da Terra, os autores do estudo, Toby Westberry e Michael Behrenfeld, oceanógrafos especializados em deteção remota da Oregon State University, analisaram 14 anos de medições da cor do oceano coletadas pelo MODIS Aqua da NASA, entre os anos de 2003 a 2016.
Ao seguir os rastos verdes de clorofila no oceano, conseguiram determinar não apenas quando e onde ocorriam as florescências de fitoplâncton, mas também a saúde e abundância, com base na concentração de clorofila.
Para determinar se o fitoplâncton estava a responder às poeiras do deserto, a equipa de investigadores comparou os resultados da cor do oceano com os dados do modelo GEOS (Goddard Earth Observing System) da NASA sobre os eventos de deposição de poeiras durante o mesmo período.
Estes eventos variavam entre poderosas tempestades de poeira do Saara até plumas relativamente suaves ao longo da costa oeste dos Estados Unidos da América (EUA). Descobriram também que mesmo quantidades modestas de poeiras do deserto aumentavam a massa e melhoravam a saúde das florescências de fitoplâncton em quase todos os lugares observados. A presença do fitoplâncton pode, então, ter consequências positivas na biodiversidade marinha. Mas quais?
Os benefícios nutricionais das poeiras do deserto não se limitam apenas ao ferro, afirmaram os cientistas. As partículas de poeiras contêm outros nutrientes de que as plantas precisam, como o fósforo e o nitrogénio.
Mais investigações irão ser necessárias, à medida que as alterações climáticas afetam cada vez mais a ocorrência de processos atmosféricos.