Poderá a toma de paracetamol durante a gravidez comprometer o futuro do bebé?

Segundo um estudo, a toma de paracetamol durante a gravidez exclui uma associação direta do medicamento com uma série de patologias. Fique a saber mais aqui!

Uso de fármacos na gravidez
Uso de paracetamol na gravidez não está ligado a aumento do risco de autismo ou hiperatividade.

De acordo com um estudo sueco publicado no Jornal El Mundo, a não utilização de fármacos durante a gravidez por precaução é uma regra que procura evitar causar qualquer tipo de alteração ao desenvolvimento do feto.

Contudo, nos últimos anos, são várias as investigações que têm surgido no âmbito do uso de medicamentos durante a gestação para patologias específicas, mas também naqueles de uso mais frequente, como o paracetamol, uma substância com efeitos analgésicos e antipiréticos.

Alguns destes publicados no International Journal of Epidemiology sugerem que pode a toma em específico de paracetamol pode aumentar o risco de autismo e de perturbação de défice de atenção e hiperatividade (PHDA) nos filhos de grávidas que o tomaram durante a gravidez.

Todavia, segundo um estudo sueco publicado no JAMA, examinou as associações entre o consumo de paracetamol durante a gravidez e o risco de autismo, PHDA e deficiência intelectual nos bebés, tentando perceber se realmente o consumo de paracetamol durante a gravidez aumentaria o risco de perturbações do desenvolvimento neurológico nos bebés.

Estudo exclui uma associação direta

De acordo com Mara Parellada, chefe da Unidade de Perturbações do Espectro do Autismo do Hospital Gregorio Marañón, em Madrid, nos últimos anos foram efetuados estudos de associação em que as mães expostas ao medicamento têm mais filhos com autismo do que as mães não expostas. Mas trata-se apenas de uma associação.

"Pode não ter a ver com a causa, porque pode haver outro problema ou distúrbio para o qual a mãe está a tomar o medicamento e que pode ser a causa. Deve haver outro fator de confusão que não se conhece, como o facto de as mães terem mais enxaquecas, mais infeções, por exemplo."

Mara Parellada - chefe da Unidade de Perturbações do Espectro do Autismo do Hospital Gregorio Marañón (Madrid).

Esta investigação mostra que o risco de perturbações do desenvolvimento neurológico com a exposição neonatal ao paracetamol pode dever-se a outros fatores.

Este estudo defende que muitos fatores familiares e de saúde diferentes estão associados tanto ao consumo de paracetamol como a perturbações do desenvolvimento neurológico.

"É provável que a genética também desempenhe um papel, mas são necessários estudos futuros para clarificar este possível envolvimento."
Renee Gardner - Instituto Karolinska, na Suécia.

2 480 797 crianças foram expostas ao paracetamol durante a gravidez

O público-alvo para esta investigação foram crianças nascidas entre 1995 e 2019 na Suécia, com acompanhamento até 31 de dezembro de 2021.

Os riscos absolutos brutos aos 10 anos de idade para não expostos vs. expostos ao paracetamol foram de 1,33% vs. 1,53% para o autismo, 2,46% vs. 2,87% para a PHDA e 0,70% vs. 0,82% para a deficiência intelectual.

Autismo
Este estudo vem contrariar investigações e outros trabalhos que têm concluído que existe um risco acrescido de autismo, PHDA e deficiência intelectual em crianças expostas a este fármaco durante a gravidez.

Em modelos sem controlo de irmãos, a utilização de paracetamol alguma vez, ou nenhuma utilização de paracetamol durante a gravidez foi associada a um risco ligeiramente superior de autismo.

Num novo estudo, no qual foi realizada uma estratégia bem concebida baseada no controlo de irmãos e através da qual observaram que os irmãos de crianças sem autismo também estavam expostos a mais paracetamol do que os irmãos de crianças com autismo.

Em suma, esta investigação conclui que o uso de acetaminofeno durante a gravidez não foi associado ao risco de autismo, PHDA ou deficiência intelectual das crianças na análise de controlo de irmãos. Isto sugere que as associações observadas noutros modelos podem ter sido atribuídas a fatores de confusão familiar.

Referência da notícia:

H. Ahlqvist, V. et. al, (2024) "Acetaminophen Use During Pregnancy and Children’s Risk of Autism, ADHD, and Intellectual Disability"