Pode o clima influenciar o nosso humor?
Vários estudos revelam que o estado de tempo, mais precisamente a temperatura, exerce um efeito direto sobre como nos sentimos físico e mentalmente. Com a chegada do Inverno e mesmo no Verão é necessário estarmos atentos a certos sintomas, pois podem ser indicadores de uma condição mais grave.
Atualmente, a ciência sabe que, isoladamente, nem o clima nem qualquer outra razão específica detêm tamanho poder sobre as pessoas. Somos resultado de uma série de influências, como cultura, violência, pobreza, experiências de vida e histórico familiar.
No entanto, o ambiente influencia o indivíduo e o seu comportamento, e o clima é um desses componentes. Pode afetar a nossa vida.
Assim, nesta demanda, vários investigadores adotaram o termo depressão sazonal, aquando a mudança de estação, principalmente no outono e inverno, quando os dias frios, cinzentos e chuvosos começam a ser mais habituais. Contudo, pode também aparecer na primavera ou no verão, pois o clima quente e, consequentemente, da falta de sono, para algumas pessoas podem apresentar irritabilidade e até depressão.
Os sintomas de depressão sazonal são muito semelhantes aos que se observam em pessoas com depressões crónicas, embora menos agudizados, e incluem a mudança no apetite e dores de cabeça, mas também sentimentos crescentes de agitação e ansiedade.
É mais comum nos países nórdicos
A depressão sazonal mostra que a felicidade nos países nórdicos está longe de ser um sentimento universal. Esta é mais comum em países nórdicos, como é o caso da Finlândia, Noruega e Dinamarca, em que a estação é muito longa e rigorosa, o clima é mais frio e cinzento, com dias em que a luminosidade do sol apenas se faz notar durante cinco a seis horas, incentivam a população a recolher-se em espaços fechados, o que contribui para a introspeção.
A título de exemplo, na Finlândia parte da população precisa de tomar vitamina D, precisamente por causa da falta de sol. Esta vitamina é muito importante para o nosso corpo. Na interação social existem também diferenças acentuadas, pois não só a luz, mas também a temperatura influenciam as relações humanas e as manifestações culturais. Contudo, estes países não significam só escuridão, também há uma parte do ano em que não anoitece completamente o que leva a que muitas pessoas tenham distúrbios no sono.
No verão também
Vários estudos têm vindo a provar que tanto a depressão como o suicídio, sendo obviamente problemas multifatoriais, podem não estar relacionados da mesma forma com a falta de luminosidade natural.
Nestor Kapusta, investigador e professor na Universidade Médica de Viena, chegou a uma conclusão, no mínimo curiosa e particular. Há uma maior incidência de suicídios nos meses de verão em ambos os hemisférios (em junho no norte e em dezembro no sul). E isto porque, com o aumento da duração do dia, há maior exposição à luz do sol, as pessoas ficam excitadas, agressivas e impulsivas e isso, da mesma forma que faz aumentar o número dos crimes violentos e as agressões, também pode fazer disparar comportamentos suicidas.
O psiquiatra e investigador não atribuiu o aumento dos suicídios diretamente à baixa produção de melatonina, a hormona do sono e inércia, mas sim à serotonina, a hormona que comanda os nossos estados de vigília e cuja produção aumenta com a luz do sol.
“O aumento da incidência dos raios solares leva o corpo a estar mais ativo e reativo a todos os estímulos" - mas não necessariamente no bom sentido. "Tornamo-nos mais excitados, agressivos e impulsivos. E isso pode ser um gatilho para potenciais suicídios", acrescenta.
Clima tropical na influência do humor
Em conversa com a Doutora Larissa Piffer Dorigon, geógrafa brasileira residente em Presidente Prudente, no interior do estado de São Paulo, com um clima Tropical Continental, distante, em média, 550 km do mar, a própria aponta que apesar de contemplar muitos fatores de análise, o conforto térmico é um dos elementos essenciais para maximizar a atividade humana e até mesmo prevenir doenças. Como residente de um país tropical, reconhecido pelas suas belezas naturais e um clima predominante quente, diz que viver com temperaturas acima de 30ºC não é fácil.
"Não eram raros os dias de verão em que era necessário dormir no chão em busca de uma superfície gelada ou então sair do banho já suando, visto que a água do chuveiro estava quente naturalmente. Eram “normais” as sensações de “corpo mole” ou cansaço extremo causadas pelas quedas de pressão arterial, a falta de apetite e a dor de cabeça e a irritação constante.
Recordo de um dia, em 2009, chegar à sala as 7h da manhã para uma aula da graduação em geografia, com todos os ventiladores ligados, receber um “bom dia” da professora e, depois de uma noite quente mal dormida, responder: “como se tem um bom dia com esse calor?”. Ou seja, para mim o calor extremo resultava em descontentamento, lentidão de pensamento e ações e irritabilidade drástica."