A perniciosa utilização do plástico
A relação do Homem com a Natureza é inquestionavelmente intrínseca, porém, o seu valor é perigosamente depreciado. Da fragilidade do ecossistema Terra, resulta a responsabilidade ao Homem pelo seu respeito e preservação.
Elementos químicos como o carbono, o oxigénio, o azoto, o hidrogénio e o fósforo constituem-se como átomos que compõem Homem e Planeta. A evolução da história da vida do Homem na Terra funde-se com a constante transformação, ainda que numa escala temporal dissonante da da vida humana, que caracteriza as dinâmicas da litosfera e da atmosfera.
Numa perspetiva de moldagem do espaço às necessidades humanas, ao longo dos tempos foi sendo infligido à mecânica das esferas do sistema terrestre, determinantes impactes, que inevitavelmente reconduzem o rumo da dinâmica do sistema terrestre, interferindo na existência de vida no planeta. Efetivamente, economia e ambiente são indissociáveis, e a antropogenia tem crescente impacte nocivo na saúde do sistema terrestre.
De facto, o amplo uso de plásticos potenciou a evolução das sociedades, possibilitando desde a saúde até à indústria toda uma série de benefícios, como a potecção e a preservação de alimentos, ajudando a reduzir o desperdício alimentar. Todavia, o seu uso desregrado demonstra exponenciar perigos que vulnerabilizam ambiente e sobrevivência de seres vivos. Ciente dos efeitos nefastos daí advindos, o engenho humano personifica uma busca constante por ações mitigadoras, como a fundação do Banco do Plástico.
Perante a ausência de ações verdadeiramente eficientes, a montante da problemática do uso do plástico, como a utilização, já com eficácia cientificamente asseverada, de enzimas e microrganismos como a bactéria Ideonella sakaiensis, insaciável devoradora de PET’s, os polímeros termoplásticos usados como recipientes de líquidos (água, refrigerantes, etc), paradoxalmente, têm-se instituído medidas incorretas, como o aumento da densidade das sacolas, a fim de diminuir quantitativamente o seu uso, tendo sido depreciada a consequente implicação no aumento do prazo da degradação polimérica.
Audaciosamente, em 2013, foi criado por David Katz um modelo de negócio, o Banco do Plástico, através do qual se procede à compra e venda de plástico, com o intuito de fomentar a limpeza dos ecossistemas marinho e terrestre, através da recolha do lixo plástico que neles abundam, propiciando como retorno, melhores condições de vida a comunidades com maiores carências económicas.
Qual a missão do Banco do Plástico?
Trata-se de um modelo que visa renovar o valor daquilo que outros consideram lixo, ajudando na redução da pobreza, impulsionando um desenvolvimento económico responsável nas comunidades carentes, e contribuindo para a redução do fluxo de plástico. Personifica-se em lojas físicas, onde se recebe o plástico, entregue pelas pessoas que o recolhem, às quais em troca, são facultadas, ou mercadorias ou dinheiro, depositado em conta bancária ou carregado em cartão digital, permitindo-lhes fazer face a necessidades imediatas.
Aumentando os incentivos a este tipo de reciclagem, as comunidades são motivadas para agir contra a poluição quotidiana. Este conceito de plástico social, está associado a gigantes económicos como a Enkel e a Aldi, os quais reciclam o plástico que “compram” no Banco do Plástico, transformando-o em embalagens que servem de invólucro aos produtos que comercializam, representando um conjunto de vantagens para todos os participantes envolvidos.
Este modelo de negócio alavancado no Haiti, um dos países mais pobres do mundo, estabeleceu delegações em países como Filipinas, Indonésia e Egipto, gerindo as suas sedes geográficas com base na conjuntura de carência económica dos Estados e em áreas com maior vulnerabilidade de degradação ambiental.
Por onde anda o plástico?
A maioria do lixo plástico provem de países em desenvolvimento, onde não existem infraestruturas de reciclagem. Dados demonstram que metade dos resíduos de plástico não tratado, são gerados por apenas cinco países asiáticos: China, Indonésia, Filipinas, Vietname e Sri Lanka, os países mais populosos e atravessados pelos maiores rios do planeta. Estima-se que anualmente chegam ao oceano entre 5 a 13 milhões de toneladas de plástico, deitando-se a maior parte fora, em terra ou nos rios, sendo transportado pelo vento ou pelas águas até ao mar.
Refira-se ainda Donald Thomson, um construtor civil da Costa Rica, para quem o plástico tem um valor especial. Criou blocos de cimento, incorporando o lixo plástico que encontrava nas praias. Um processo que aproveita todo o tipo de plástico, sujo ou limpo, mesmo o que não pode ser reciclado.
O plástico é limpo a seco, com cal ativada, agindo como secante e desinfetante de odores e patogénicos, depois é sujeito a altas temperaturas que o tornam inerte, usando posteriormente essas partículas de plástico na indústria de blocos de cimento. Mais leves e mais fortes, são já a matéria-prima de centenas de casas na Costa Rica e África do Sul, em parceria com a Habitat for Humanity.
Com a sobrevivência em causa, uma ação concertada e holística entre empresas, Estados e cidadãos deverá ser o mote. Quando conservar já não chega, urge agir para ajudar o planeta na regeneração do capital biosfera.