Perdeu-se o maior eucalipto azul (Eucalyptus globulus) alguma vez medido, a Strong Girl de 82 metros de altura
Os violentos incêndios que assolaram o sul da Tasmânia em 2019 fizeram sucumbir aquela que era a mais alta árvore florida do mundo. Cientistas lutam agora por preservar estes verdadeiros gigantes centenários.
A Tasmânia, estado insular australiano, é há muito tempo o lar de plantas e árvores centenárias e gigantes. Por exemplo, um dos mais raros arbustos, a Lomatia do rei (Lomatia tasmanica), existe neste território há pelo menos 43.000 anos.
Contudo, nos últimos anos, muitos destes gigantes e antigos exemplares florísticos têm sucumbido. Muitos deles foram e são diariamente sujeitos a diversas ameaças, tais como secas, a extração de madeira, ou mesmo o uso do fogo, num mundo cada vez mais quente.
Em janeiro de 2019, o mais quente e seco registado naquela região, um conjunto de devastadores incêndios queimaram um total de mais de 200.000 hectares, o que representa 2,9% da área terrestre da Tasmânia.
Esta perda causou grande consternação na comunidade científica, afinal, acabara de se perder um verdadeiro marco de preservação do mundo. Esta realidade obrigou um conjunto de investigadores a sequenciar o genoma de diversas espécies aborígenes, por forma a preservar o seu esquema genético e evitar que se percam para sempre.
Preservar para perpetuar
O Tasmanian Herbarium hospeda agora um projeto para curar e armazenar amostras através do projeto Giant Eucalyptus Specimen Archive. Aqui estão vários dos maiores gigantes restantes no Vale Styx, uma floresta temperada húmida que é porto de abrigo para as mais altas plantas floridas do mundo.
Árvores gigantes são encontradas apenas em alguns locais na Austrália, como nas Terras Altas Centrais de Victoria (freixo da montanha) e nas florestas do sudoeste da Austrália Ocidental (tingle vermelho, Eucalyptus jacksonii). Estas regiões tendem a ter mais chuvas e com incêndios menos frequentes.
No Vale dos Gigantes (Vale Styx), no sul da Tasmânia, há uma sorveira-das-montanhas (Eucalyptus regnans) chamada Centurion, agora com mais de 100 m de altura. Centurion é uma das principais candidatas à planta com flores mais alta da Terra e à árvore mais alta do Hemisfério Sul.
Esta espécie de Centurion situa-se num pequeno pedaço de floresta do estado não cortada, numa área fortemente explorada. A exploração de madeira na região continua em alta, embora áreas contíguas de floresta antiga tenham sido adicionadas à área do Património Mundial, em 2013.
Foi descoberta em 2008, quando trabalhadores florestais analisaram dados de scanner aéreo a laser e identificaram a árvore como uma gigante de 99,76 metros de altura. Em 2018, Daniel Bar Ness investigador da Universidade da Tasmânia voltou a testar a sua altura através de uma medição a partir do solo com recurso a laser e concluiu que o topo vivo da árvore tinha crescido para além de 100 metros de altura.
Multiplicidade genética explica altura e longevidade
Bar-Ness escalou ao Centurion, e pode reparar que os galhos mais altos tinham crescido da lateral de um tronco superior partido de cerca de 90 m de altura, o que sugere que a árvore pode ter sido significativamente mais alta.
O crescimento destes galhos do tronco inferior aponta para que a árvore esteja a aproveitar uma mudança nas condições de luz após a morte de árvores vizinhas. As habilidades de renovação das espécies de eucalipto significam que estas árvores se podem recuperar melhor após o fogo e superar espécies menos resilientes, como plantas da floresta tropical.
Bar-Ness e outros colegas da Universidade da Tasmânia começaram a recolher amostras de folhas de Centurion para um estudo mais aprofundado e poder sequenciar o seu genoma e conseguiram concluir que o seu legado contribuiu em muito para o seu crescimento. A multiplicidade genética presente no DNA desta espécie permite apontar para a sua adaptabilidade e consequentemente para a sua longevidade.
Referência da notícia
Ferguson, S., Bar-Ness, Y., Borevitz, J. et. al. (2024). A telomere-to-telomere Eucalyptus regnans genome: unveiling haplotype variance in structure and genes within one of the world’s tallest trees. BMC Genomics.