Parâmetros utilizados nos modelos climáticos subestimam o aquecimento no verão da Europa Ocidental

Um estudo publicado nesta semana na Communication Earth & Environment revela a discrepância entre o aquecimento observado e simulado na estação do verão na Europa Ocidental, desde 1980 até aos dias de hoje.

Artigo recente publicado numa revista da Springer demonstra uma subestimação no aquecimento durante o verão na Europa Ocidental.

Investigadores do Coordinated Regional Downscaling Experiment (CORDEX) identificaram, num estudo publicado na Communications Earth & Environment, que os modelos climáticos subestimam normalmente o aumento das temperaturas, e destacaram duas razões principais para esta disparidade.

Subestimação do aquecimento na Europa Ocidental: falhas nos modelos climáticos foram reveladas

Desde a década de 1980, as temperaturas de verão na Europa Ocidental aumentaram aproximadamente três vezes mais rápido do que a média global, segundo o estudo. No entanto, muitos modelos climáticos não conseguiram capturar a razão para este aumento de forma explícita. A análise, liderada por especialistas do CORDEX, identificou os fatores termodinâmicos e de circulação que contribuem para este aquecimento.

Os resultados revelaram que, enquanto a contribuição termodinâmica para o aquecimento é parcialmente representada nos modelos, a que representa a circulação atmosférica não é ainda adequadamente avaliada. Esta falha na representação dos padrões de circulação é apontada como uma das principais razões para a subestimação do aquecimento observado.

Outro fator crítico prende-se com a falta de consideração das alterações nos aerossóis atmosféricos em modelos climáticos regionais. Ademais o aumento de Gases com Efeito de Estufa (GEE), desde 1980, teve grande relevância no aumento das temperaturas na Europa Ocidental, especialmente durante o verão. No entanto, grande parte dos modelos climáticos não inclui estas mudanças nos cálculos, o que resulta numa subestimação do aumento da temperatura do ar observada.

Múltiplas implicações para serviços climáticos e projeções futuras

A implicação deste tipo de modelação é pertinente para os serviços climáticos e para as projeções do clima futuro. A precisão das projeções climáticas depende da capacidade dos modelos para representar, com rigor, os processos físicos e as forças exógenas, como as alterações relativamente aos GEE. A subestimação do aquecimento observado pode influenciar a confiança nas projeções climáticas, a médio e longo prazo, e em certa medida, comprometer a capacidade de planeamento, adaptação e mitigação perante as alterações climáticas.

Recorde-se que, por exemplo, outros cientistas do Centro Nacional de Oceanografia (NOC) descobriram uma cadeia de eventos que levam a verões europeus mais quentes e secos, o que significa que o clima pode ser projetado com meses ou anos de antecedência.

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De facto, investigadores de diversas instituições salientam a necessidade de melhorar a representação dos padrões de circulação e dos efeitos dos aerossóis nos modelos climáticos regionais. Tal compromete, neste momento, a inclusão de dados mais precisos e confiáveis para os policy makers e decisores, especialmente em relação às medidas de adaptação e mitigação.

Com base nas evidências salientadas do estudo, são feitas duas recomendações específicas. Uma primeira prende-se com a necessidade de, a nível internacional, se selecionar modelos climáticos que não se baseiem somente no desempenho histórico, mas também na precisão em representar os padrões de aquecimento observados. Um segundo aspeto destaca a relevância de se aprimorar a representação dos GEE nos modelos, garantindo que os mesmos sejam efetivamente considerados.

Referência da notícia:

Schumacher, D.L., Singh, J., Hauser, M., Fischer, E., Wild, M., & Seneviratne, S. (2024). Exacerbated summer European warming not captured by climate models neglecting long-term aerosol changes. Communications Earth & Environment, 5, 182.https://doi.org/10.1038/s43247-024-01332-8