Padrões de precipitação sofrem mudanças significativas e aumentam risco de eventos extremos
Os relatórios da Agência Europeia do Ambiente (EEA) revelam mudanças significativas nos padrões de precipitação na Europa. No sul da Europa, registou-se uma diminuição até 9 mm na precipitação anual, com uma redução até 2 mm no verão.
Segundo os dados da Agência Europeia do Ambiente (EEA), os padrões de precipitação estão a sofrer mudanças significativas, com ritmos e direções distintas em toda a Europa.
Mudanças preocupantes nos padrões de precipitação e temperatura acarretam mais riscos
De facto, em toda a Europa estão a verificar-se mudanças significativas nos padrões de precipitação, com ritmos e tendências muito diferenciadas. Entre 1960 e 2015, observou-se um aumento anual até 7 mm no norte da Europa, com um acréscimo até 1,8 mm no verão. Por outro lado, o sul da Europa registou uma diminuição até 9 mm na precipitação anual, com uma redução até 2 mm no verão. Na Europa Central e Oriental, houve consideráveis decréscimos na precipitação de verão.
Além disso, os valores publicados pela EEA indicam uma tendência de aumento na frequência e intensidade das precipitações intensas em toda a Europa entre 1960 e 2018, especialmente nas regiões norte e nordeste. No entanto, a Península Ibérica e o sul da França registaram uma diminuição na frequência de precipitações intensas durante o verão e inverno.
No que concerne à temperatura média anual superficial global tem apresentado um aumento significativo desde meados do Século XIX, com um acréscimo de quase 1ºC em relação aos valores pré-industriais entre 1850-1900. Com base nos objetivos do Acordo de Paris, que procura limitar o aumento da temperatura média global até 2ºC até 2050, as evidências científicas destacam que metade desse objetivo já foi alcançado, considerando o aquecimento observado até o momento.
De acordo com a EEA, o período entre 2009 e 2020 registou temperaturas médias anuais da superfície da Terra superiores em 1,6-1,7°C aos níveis pré-industriais. Durante este período, foram registadas ondas de calor nos anos de 2010, 2014, 2015, 2017, 2018, 2019 e 2020, sendo o ano de 2019 o mais quente já registado na Europa, seguido por 2014, 2015 e 2018.
As projeções de alterações climáticas indicam um aumento esperado nos eventos de seca e inundação, o que não deixa de preocupar os cientistas. Prevê-se um aumento das precipitações anuais em comparação com as tendências entre 1960 e 2015, sendo no sul da Europa e em partes do Mediterrâneo, onde se prevê um cenário mais pessimista com uma diminuição de 10-30% na precipitação média anual entre 2071 e 2100, em comparação com o período entre 1971 e 2000. Especificamente, durante o período de verão, prevê-se uma redução mais acentuada, atingindo de 20-40% em grande parte da Europa meridional e ocidental. Já na Europa Central e Oriental, espera-se um aumento de 10-30% na precipitação, com um acréscimo de 30% durante o verão.
O aumento da ocorrência de fenómenos de precipitação intensa será responsável, a médio e longo prazo, por consequências generalizadas na população e nas economias locais. Muitos desses impactes poderão ser ainda mais nefastos do que aqueles que se verificaram durante as inundações de julho de 2021 na Alemanha e Bélgica e embora a história recente da Europa não deixe qualquer dúvida quanto à urgência das medidas, muito ainda deve ser feito. Repara-se que entre 1980 e 2021, os danos causados pelas inundações ascenderam a 258 mil milhões de euros e aumentaram, em média, 2% em cada ano. Estes dados são disponibilizados no documento on-line da EEA, intitulado "Extreme summer weather in a changing climate: is Europe prepared?", e disponibilizado nesta semana.
Impactes das alterações climáticas na Europa patenteiam a necessidade de medidas de prevenção e gestão de riscos
De facto, as alterações climáticas, em termos latos, e as alterações dos padrões de precipitação e temperatura, em específico, aumentarão os riscos de inundação e de alagamentos em toda a Europa, a médio e longo prazo. Não se pode descurar que o crescimento populacional e as atividades económicas contribuíram para a impermeabilização do solo, reduzindo a capacidade natural de reter água e resultando em maior escoamento superficial e no aumento do volume dos rios.
Diante destes desafios, torna-se cada vez mais urgente a definição de medidas de prevenção, proteção e gestão de riscos. Para além disso, é de relevar a importância de sistemas de previsão e alerta, planeamento de emergência, gestão adequada dos caudais dos rios, além de melhorias no conhecimento e perceção dos riscos. Doravante, para que essas medidas sejam efetivas talvez seja momento de equacionar o seu desenvolvimento à escala das bacias hidrográficas, promovendo práticas sustentáveis de uso do solo, melhoria da retenção de água e, quando necessário, a adoção de estratégias controladas de inundação.
De facto, estes dados vêm enfatizar a urgência das ações para enfrentar os desafios impostos pelas alterações climáticas na Europa, onde se torna necessário agir rapidamente para garantir a sustentabilidade ambiental e proteger as populações e o património relativamente aos impactes climáticos cada vez mais intensos.