Os últimos glaciares do Pacífico estão a desaparecer
Os últimos glaciares existentes entre os Himalaias e os Andes poderão desaparecer na próxima década, devido às alterações climáticas, segundo um novo estudo. Contamos-lhe mais detalhes aqui.
Os glaciares que existem na Papua, Indonésia, são "os canários da mina de carvão" para outros glaciares no topo de montanhas ao redor do mundo, disse Lonnie Thompson, um dos principais autores do estudo publicado no Proceedings of the National Academy of Sciences, professor universitário da Escola de Ciências da Terra e investigador do centro de investigação climática (Climate Research Center) da Universidade de Ohio. Esta expressão remete para um indicador avançado da iminência de um perigo. Frisa ainda que: "Estes serão os primeiros a desaparecer; os outros certamente os seguirão".
Os glaciares de montanha perto de Puncak Jaya, na metade ocidental da ilha da Nova Guiné, estão também a derreter há anos, mas esse derretimento aumentou rapidamente devido ao forte El Niño de 2015-2016, um fenómeno natural que faz com que as temperaturas atmosféricas e do oceano fiquem mais quentes. Este estudo sugere que estes glaciares vão desaparecer nos próximos 10 anos, provavelmente durante o próximo El Niño mais forte.
Thompson afirma que é provável que outros glaciares, como os de Kilimanjaro na Tanzânia, e Quelccaya no Peru, se sigam. "Acho que o glaciar de Papua, na Indonésia, é o indicador do que vai acontecer em todo o mundo", disse.
Monitorização e resultados
Thompson e a sua equipa monitorizam o glaciar desde 2010. Perfuraram núcleos de gelo para determinar a composição e a temperatura da atmosfera em redor do mesmo, ao longo da história. O degelo do glaciar começou há pelo menos 150 anos, segundo Thompson, tendo acelerado na última década.
Durante a expedição de perfuração de 2010, a equipa instalou uma série de secções de tubos de PVC, ligadas por uma corda no gelo. A ideia era medir a quantidade de gelo perdida com base nas secções de corda deixadas a descoberto, à medida que o gelo derretia.
Quando a estaca foi medida em novembro de 2015, cerca de cinco metros de corda estavam descobertos, o que significa que a superfície do glaciar estava a derreter a uma taxa de 1 metro por ano, aproximadamente. Uma equipa voltou em maio de 2016 e viu que foram descobertos mais de 4,26 metros de corda - um rápido aumento neste degelo, em apenas seis meses. Assim, a extensão do degelo foi de cerca de 75% entre 2002 e 2018.
A nível global, o degelo é um dos principais fatores para a subida do nível do mar, que, juntamente com o aquecimento das águas do oceano, pode levar a tempestades mais frequentes e mais intensas.