Os Tsimanes: a comunidade cujos corações envelhecem mais lentamente
Na floresta amazónica vive uma comunidade indígena que, devido ao seu estilo de vida, envelhece mais lentamente do que os residentes de outros locais. Saiba mais aqui!
Segundo um estudo publicado na revista The Lancet, existe uma comunidade indígena semi-nómada que vive nas profundezas da floresta amazónica, a 600 km a norte da maior cidade da Bolívia, La Paz.
São cerca de 16.000 Tsimanes, pronuncia-se chee-may-nay, e os cientistas, que os estudam há duas décadas, concluíram que este povo tem as artérias mais saudáveis já estudadas e os seus cérebros envelhecem mais lentamente do que os das pessoas na América do Norte, Europa e noutros locais.
Hillard Kaplan, antropólogo da Universidade do Novo México.
Os Tsimanes são um povo que está constantemente ativo: caça animais, planta alimentos, mandioca, milho, banana-da-terra e arroz e tecem telhados.
Menos de 10% das suas horas de luz do dia são passadas em atividades sedentárias, em comparação com 54% nas populações industriais. Vivem no rio Maniqui, a cerca de 100 km de barco da cidade mais próxima, e têm tido pouco acesso a alimentos processados, álcool e cigarros.
O meio de subsistência dos Tsimanes
Os investigadores descobriram que apenas 14% das calorias que ingerem provêm da gordura. Os seus alimentos são ricos em fibras e 72% das suas calorias provêm de hidratos de carbono.
As proteínas provêm de animais que caçam, como aves, macacos e peixes. Quando se trata de cozinhar, tradicionalmente, não há fritura.
No desenrolar desta investigação os cientistas começaram a ver que os idosos Tsimanes não apresentavam sinais de doenças típicas da velhice, como hipertensão, diabetes ou problemas cardíacos.
À medida que os seres humanos envelhecem, a acumulação de gorduras, colesterol e outras substâncias pode fazer com que as artérias engrossem ou endureçam, causando a aterosclerose.
As equipas de investigação uniram esforços e efetuaram exames de TAC a 705 Tsimanes com mais de 40 anos, procurando cálcio nas artérias coronárias (CAC), um sinal de obstrução dos vasos sanguíneos e de risco de ataque cardíaco.
Porém, o estudo revelou que 65% dos Tsimanes com mais de 75 anos não apresentavam CAC.
Assim como a saúde física também a saúde mental é diferente neste povo
Numa segunda fase desta investigação, publicada em 2023 na revista Proceedings of the National Academy of Science, revelou que os Tsimanes idosos apresentavam até 70% menos atrofia cerebral do que as pessoas da mesma idade em países industrializados como o Reino Unido, o Japão e os EUA.
Daniel Eid Rodríguez, médico boliviano
Contudo, os investigadores acreditam que todos os Tsimanes sofreram algum tipo de infeção por parasitas ou vermes durante as suas vidas.
Encontraram também níveis elevados de agentes patogénicos e de inflamação, o que sugere que os corpos dos Tsimanes estavam constantemente a combater infeções.
O estilo de vida da comunidade está a mudar
Juan, um dos indígenas diz que há meses que não consegue caçar um animal suficientemente grande.
Isto é apenas uma das consequências de uma série de incêndios florestais, no final de 2023, que destruiu quase dois milhões de hectares de selva e floresta.
Começou agora a criar gado que espera que venham a fornecer proteínas à família no final deste ano.
Começaram também a utilizar barcos com motor fora de borda, conhecidos como peque-peque, facilitando o acesso aos mercados, dando aos Tsimanes acesso a alimentos como açúcar, farinha e óleo. Com isto significa que estão a remar menos do que antes, uma das atividades físicas mais exigentes.
Há vinte anos, quase não se registavam casos de diabetes. Agora, começam a aparecer e os níveis de colesterol também começaram a aumentar entre a população mais jovem, concluíram os investigadores.
Referência do artigo:
Kaplan, H. et al. (2017) "Coronary atherosclerosis in indigenous South American Tsimane: a cross-sectional cohort study"