Os pesticidas e a vida
O planeta Terra constitui-se pela diversidade de biomas que abrigam uma panóplia de seres vivos e cujas interações caracterizam um equilíbrio que possibilita a vida. Saiba mais aqui.
A vida no planeta existe em resultado da adaptabilidade a um delicado equilíbrio dinâmico entre os organismos vivos e o ambiente em que vivem, inter-trocas e inter-influências que formam o ecossistema, o qual pode ser perturbado por efeito, quer de factores naturais, como eventos meteorológicos ou geofísicos, quer por antropogénicos, como poluição ou desflorestação. O óptimo do equilíbrio na dinâmica homem-meio, pretensamente, deve ser constante, a fim de garantir não apenas a sua sobrevivência, mas também a preservação dos recursos.
Neste seguimento, aludir qu,e em meados do século passado, Albert Einstein alvitrou, que se as abelhas desaparecessem da superfície da Terra, a espécie humana teria apenas quatro anos de vida, isto porque, cerca de 2% das abelhas selvagens do planeta, são responsáveis pela polinização de 80% das culturas mundiais. O que é o mesmo que dizer, que sem abelhas não haveriam frutos silvestres, tomates, abacates, couves, maçãs, amêndoas, laranjas, entre muitos outros alimentos. À escala global, o desaparecimento das abelhas significaria o adensar de dificuldades na produção de alimentos para a população mundial.
As abelhas são um insecto voador, aparentado das vespas e das formigas, que ao longo de milhares de anos de evolução se foram adaptando aos mais diversos habitats, existindo cerca de 25 mil espécies. Apesar de nem todas construírem colmeias e fabricarem mel, todas têm um determinante papel na polinização e saúde dos ecossistemas, uma vez que, voando de flor em flor, as abelhas promovem a reprodução de diversas espécies de plantas, sendo importante interveniente na cadeia alimentar – as plantas precisam das abelhas para formar as suas sementes e frutos, que são o alimento de diversas aves, que por sua vez, são o alimento de outros animais.
Podem as acções humanas afectar a sobrevivência das abelhas?
A vulnerabilidade das abelhas é gravemente afectada por factores como, a agricultura intensiva, o uso de pesticidas, a poluição, a introdução de culturas geneticamente modificadas, assim como, os incontornáveis efeitos de alterações nos padrões climáticos. E, inevitavelmente, a crescente demanda por alimentos, exponencia os efeitos nefastos dos cultivos intensivos, largas vezes recorrentes a espécimes mais resistentes a intempéries e a parasitas, falamos das sementes transgénicas, assim como, o galopante uso de pesticidas, personificando uma problemática trigonométrica que é avassaladora para a sobrevivência das abelhas.
Referir que, os pesticidas não afetam só a classe polinizadora das abelhas, as operárias. Efectivamente, a maioria destas morrem no momento do contacto, mas outras ficam desorientadas, e apesar de infectadas, se conseguirem regressar à colmeia, acabam por contaminar todo o enxame – 30 a 60 mil indivíduos, aniquilando-o em pouco mais de um dia. Ora, o problema do uso de pesticidas não se reflecte só na sobrevivência das abelhas, eles também potenciam o crescimento da população de insectos, no caso, a espécie mosquito. E, não sendo a sua proliferação por si só grave, acresce que existem espécies de mosquitos que propagam doenças através do transporte de vírus, de microrganismos patogénicos, que causam danos à saúde humana.
Existem mais de 5 mil espécies de mosquitos, e algumas espécies demonstram grande plasticidade, tanto que resistem, adaptam-se e fortalecem-se, aumentando a sua população, face ao contacto com pesticidas, os quais, efectivamente se demonstram muito eficazes no combate a outras espécies, como os predadores de mosquitos! Estima-se que os mosquitos, insectos particularmente astutos e extremamente sensíveis ao movimento, foram responsáveis por metade das mortes da história da humanidade, com trágicos efeitos na saúde humana, como as epidemias de malária, febre amarela, dengue, febre do Nilo...
Com efeito, o uso de misturas químicas para repelir, destruir ou mitigar pragas agrícolas, vulgo os pesticidas, possibilitaram que a agricultura acompanhasse a demanda alimentar do crescendo demográfico que pauta a história da Humanidade. Aludir a exemplo, que o centeio surgiu como cultura há milhares de anos, depois de aparecer como "infestante" das culturas de trigo e de cevada, ou seja, no caso do centeio, a pressão química sobre a infestante favoreceu a sua resistência, evolução e adaptabilidade como espécie, sendo indispensável na alimentação humana nos dias de hoje, utilizado como farinha para pão, na fabricação de cerveja e ração de gado.
A continuidade de práticas, como o uso intensivo de pesticidas, não obstante assegurar e aumentar a produtividade agrícola, para responder à crescente demanda consumista, tem efeitos nefastos nos solos, pela contaminação, na saúde humana, porque ingerimos substâncias químicas tóxicas, e na vida dos polinizadores, porque os mata. Embora o uso de pesticidas tenha alavancado o aumento da produção alimentar, os seus impactes negativos parecem estar a suplantar as vantagens da sua utilização, sendo premente a reintrodução da agro-ecologia, fomentando por exemplo, a rotação de culturas e a diversidade de plantio. É urgente considerar a importância que as abelhas assumem na vida de todos os seres vivos do planeta, pois a sua eventual extinção, teria consequências trágicas, não só para a Humanidade, mas para todo o ecossistema terrestre.