Ondas gigantes traiçoeiras no oceano Antártico são mais comuns do que se pensava, diz estudo
Um estudo explica que as ondas gigantes que circundam o oceano Antártico, as chamadas “Rogue Waves”, são impulsionadas pelos fortes ventos e ocorrem com mais frequência do que se pensava.
As ondas colossais em alto mar, também chamadas em inglês como “Rogue Waves”, são ondas anormalmente grandes, imprevisíveis e de aparecimento súbito, que podem ser extremamente perigosas para as embarcações. Por isso, recebem o adjetivo de “traiçoeiras” ou “rebeldes”.
Estas são duas vezes mais altas do que as ondas vizinhas, e surgem aparentemente do nada. O registo de uma onda deste tipo não inclui características específicas do mar ao seu redor, por isso não é possível fazer comparações ou prever as condições necessárias para a sua formação.
Mas uma expedição da Universidade de Melbourne às águas que circundam a Antártica descobriu que o forte vento impulsiona a formação destas ondas e que estas são mais comuns do que se pensava anteriormente. Isto foi divulgado num estudo recente na revista Physical Review Letters.
Ondas rebeldes impulsionadas pelos fortes ventos
A equipa de investigação navegou junto ao navio South African Icebreaker S.A. Agulhas-II em 2017 para estudar as ondas gigantes traiçoeiras no oceano Antártico, ou oceano Austral, onde os ventos fortes moldam as ondas mais violentas da Terra.
Vários mecanismos dão origem a ondas traiçoeiras. Uma fonte primária envolve a sobreposição de várias ondas no mesmo local e no mesmo momento. Este processo resulta em muita energia concentrada, levando a ondas altas. Mas os ventos fortes também contribuem para o seu desenvolvimento, pois pressionam algumas formas de onda já altas.
O vento faz com que as ondas cresçam progressivamente, ficando mais altas, longas e rápidas. Quando estas viajam mais rápido que a velocidade do vento, deixam de ser aceleradas pelo mesmo e atingem um estágio “maduro” de pleno desenvolvimento. Através deste processo, o vento cria uma situação caótica onde coexistem ondas de diferentes dimensões e direções.
Ondas colossais mais comuns do que se imaginava
Os autores usaram um método de imagem tridimensional para analisar a superfície do oceano durante a expedição: sensores localizados no navio, próximos da água, registam sequências de imagens simultâneas.
Com isso, os algoritmos combinam estas imagens para reconstruir a superfície ondulada. Os sensores captaram dados durante as fases de crescimento das Rogue Waves, desde as fases iniciais de ondas jovens alimentadas pelo vento até ondas maduras que já não são influenciadas pelo mesmo.
Os resultados mostraram que as ondas jovens apresentam sinais de auto amplificação e uma maior probabilidade de chegar a ser uma onda gigante. Foram registadas ondas 2 vezes mais altas que as vizinhas uma vez a cada seis horas. Por outro lado, os mares maduros não apresentam uma probabilidade aumentada de ondas deste género. Não detetamos nenhum nessas condições.
Mas o que são as “ondas traiçoeiras”?
As “Rogue Waves”, ou “Ondas traiçoeiras”, também são conhecidas como ondas monstruosas e ondas estranhas ("Freak Waves"), e medem mais de 18 metros de altura. Podem formar-se em grandes massas de água doce e também nos oceanos.
Na imagem abaixo, o navio de carga Riverdance que ia da Irlanda para a Grã-Bretanha, estava a apenas 16 km de distância do seu destino, quando foi atingido por uma onda gigante. A equipa de resgate salvou toda a tripulação a bordo, mas o navio encalhou.
Um dos naufrágios mais famosos do século 20, o navio SS Edmund Fitzgerald, foi provavelmente causado por pelo menos uma onda traiçoeira no Lago Superior (Lake Superior), uma parte dos Grandes Lagos da América do Norte, em novembro de 1975. Tanto o navio de 222 metros, como a sua tripulação de 29 pessoas perderam-se.
Referência da notícia:Toffoli, A. et al. Observations of Rogue Seas in the Southern Ocean. Physical Review Letters, v. 132, n. 15, 2024.