Ondas de calor aumentam a mortalidade por problemas cardiovasculares
Quando estamos perante uma onda de calor, estudos recentes vieram demonstrar que as mesmas são responsáveis pelo aumento da mortalidade por problemas cardiovasculares. Saiba mais aqui!
Numa análise para o período entre 2008 e 2017, uma equipa de investigadores registou as mortes por todas as causas em 3108 condados dos EUA. Foram encontrados níveis mais elevados de mortalidade em períodos de calor extremo, com o aumento da mortalidade entre adultos seniores, homens e negros.
Os mesmos investigadores realizaram uma nova análise, com dados mensais, para o mesmo período e descobriram que o excesso de mortalidade (cerca de 5978 mortes) era explicado por doenças cardiovasculares. Em ambos os estudos, a mortalidade diferiu significativamente entre o género masculino e feminino e em função da cor da pele. A título de exemplo, para os homens, o calor extremo foi associado a um aumento de 0,21% na mortalidade cardiovascular, mas não houve associação significativa para as mulheres.
Os investigadores justificam estes resultados com a maior proporção de homens que trabalham nos setores onde é mais difícil evitar a exposição ao calor, como a agricultura ou a construção. Por outro lado, o maior risco entre a população negra pode relacionar-se com as dissimetrias no acesso aos cuidados de saúde e as diferenças do ambiente entre classes.
Quais são as principais consequências do calor extremo?
Os seres humanos têm uma temperatura corporal constante no core próximo de 36,5–37ºC, que é mantido por um sistema de termorregulação corporal, garantindo a homeostase em condições normais. A termorregulação incorpora um conjunto de processos fisiológicos e comportamentais que gerem as trocas de calor entre o corpo e o ambiente, de modo que o ganho ou a perda líquida de energia seja de aproximadamente 0. Trata-se, pois, de uma regulação da disposição do calor gerado por processos metabólicos internos em resposta às condições ambientais, incluindo a radiação e as trocas de calor sensível e latente.
O calor extremo interfere na capacidade do corpo de arrefecer, dado que os vasos sanguíneos a nível da pele sofrem um processo de vasodilatação para permitir que o maior fluxo sanguíneo dissipe o calor do corpo para o ar. Para conseguir isso, o corpo redireciona automaticamente uma parte do sangue, que normalmente estaria nos principais órgãos, para os vasos dilatados da pele e acelera a frequência cardíaca de modo a manter a pressão arterial em níveis adequados. Em casos extremos, as pessoas não conseguem manter o equilíbrio térmico e entram num estado de hipertermia.
Consequências mais graves ocorrem nas pessoas com problemas cardiovasculares, sendo que o coração não é capaz de responder tão eficazmente através dos seus mecanismos de compensação. Os fatores de risco para doenças cardiovasculares, como a Diabetes Mellitus e o uso de certos fármacos, como betabloqueadores e diuréticos, podem contribuir igualmente para a diminuição da capacidade do indivíduo para regular a temperatura corporal, adensando ainda mais os problemas associados.
Evidencie-se, além disso, que o calor mata mais pessoas por ano do que qualquer outro evento climático, designadamente furacões, tornados ou inundações.
Quais os desafios que se colocam à sociedade contemporânea?
Estes resultados sugerem que existem efeitos adversos à saúde causados pelo calor extremo mais significativos do que aquilo que se pensava. Aliado a isso, as alterações climáticas e as suas consequências terão impactes maiores na sociedade em termos de saúde e qualidade de vida.
Para fazer face a este problema, é necessário que os líderes políticos internacionais reconheçam a relevância dos impactes na saúde das pessoas e a relevância do uso da informação disponível através de grandes plataformas de dados disponíveis on-line para a tomada de opções. As alterações climáticas acarretarão mais desafios, pois muitas destas já estão a ocorrer, mas tenderão a piorar com o aumento da temperatura.