Ondas de calor aumentam a mortalidade por problemas cardiovasculares
Quando estamos perante uma onda de calor, estudos recentes vieram demonstrar que as mesmas são responsáveis pelo aumento da mortalidade por problemas cardiovasculares. Saiba mais aqui!
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Numa análise para o período entre 2008 e 2017, uma equipa de investigadores registou as mortes por todas as causas em 3108 condados dos EUA. Foram encontrados níveis mais elevados de mortalidade em períodos de calor extremo, com o aumento da mortalidade entre adultos seniores, homens e negros.
Os mesmos investigadores realizaram uma nova análise, com dados mensais, para o mesmo período e descobriram que o excesso de mortalidade (cerca de 5978 mortes) era explicado por doenças cardiovasculares. Em ambos os estudos, a mortalidade diferiu significativamente entre o género masculino e feminino e em função da cor da pele. A título de exemplo, para os homens, o calor extremo foi associado a um aumento de 0,21% na mortalidade cardiovascular, mas não houve associação significativa para as mulheres.
New Commentary outlines how climate change contributes to cardiovascular disease risk factors:
— BMJ Global Health (@GlobalHealthBMJ) June 14, 2022
Extreme weather (e.g., heat waves)
Scarcities of healthier foods
�� Forced displacement (to places with limited access to care)
Air pollution
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Os investigadores justificam estes resultados com a maior proporção de homens que trabalham nos setores onde é mais difícil evitar a exposição ao calor, como a agricultura ou a construção. Por outro lado, o maior risco entre a população negra pode relacionar-se com as dissimetrias no acesso aos cuidados de saúde e as diferenças do ambiente entre classes.
Quais são as principais consequências do calor extremo?
Os seres humanos têm uma temperatura corporal constante no core próximo de 36,5–37ºC, que é mantido por um sistema de termorregulação corporal, garantindo a homeostase em condições normais. A termorregulação incorpora um conjunto de processos fisiológicos e comportamentais que gerem as trocas de calor entre o corpo e o ambiente, de modo que o ganho ou a perda líquida de energia seja de aproximadamente 0. Trata-se, pois, de uma regulação da disposição do calor gerado por processos metabólicos internos em resposta às condições ambientais, incluindo a radiação e as trocas de calor sensível e latente.
O calor extremo interfere na capacidade do corpo de arrefecer, dado que os vasos sanguíneos a nível da pele sofrem um processo de vasodilatação para permitir que o maior fluxo sanguíneo dissipe o calor do corpo para o ar. Para conseguir isso, o corpo redireciona automaticamente uma parte do sangue, que normalmente estaria nos principais órgãos, para os vasos dilatados da pele e acelera a frequência cardíaca de modo a manter a pressão arterial em níveis adequados. Em casos extremos, as pessoas não conseguem manter o equilíbrio térmico e entram num estado de hipertermia.
Consequências mais graves ocorrem nas pessoas com problemas cardiovasculares, sendo que o coração não é capaz de responder tão eficazmente através dos seus mecanismos de compensação. Os fatores de risco para doenças cardiovasculares, como a Diabetes Mellitus e o uso de certos fármacos, como betabloqueadores e diuréticos, podem contribuir igualmente para a diminuição da capacidade do indivíduo para regular a temperatura corporal, adensando ainda mais os problemas associados.
Evidencie-se, além disso, que o calor mata mais pessoas por ano do que qualquer outro evento climático, designadamente furacões, tornados ou inundações.
Quais os desafios que se colocam à sociedade contemporânea?
Estes resultados sugerem que existem efeitos adversos à saúde causados pelo calor extremo mais significativos do que aquilo que se pensava. Aliado a isso, as alterações climáticas e as suas consequências terão impactes maiores na sociedade em termos de saúde e qualidade de vida.
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Para fazer face a este problema, é necessário que os líderes políticos internacionais reconheçam a relevância dos impactes na saúde das pessoas e a relevância do uso da informação disponível através de grandes plataformas de dados disponíveis on-line para a tomada de opções. As alterações climáticas acarretarão mais desafios, pois muitas destas já estão a ocorrer, mas tenderão a piorar com o aumento da temperatura.