Ondas de calor marinhas no Mediterrâneo: impactos e estudos

De forma a conseguir uma melhor investigação acerca das ondas de calor marinhas, um novo estudo afirma a necessidade de uma abordagem diferente nas áreas de estudo. Saiba mais aqui!

Mediterrâneo
Cerca de 90% do calor acumulado é armazenado no oceano global, sendo que 2021 teve o maior teor de calor oceânico registado.

As ondas de calor marinhas, consideradas como anomalias persistentes e espacialmente extensas da temperatura da superfície do mar, surgiram como um dos eventos de alto impacto global induzido pelas mudanças nos oceanos.

O estudo deste tipo de onda de calor tem tido progressos significativos nos últimos anos, embora muitas incógnitas permaneçam. Uma das debilidades mais notáveis está relacionada com a ausência de uma definição universalmente estabelecida que permita uma melhor comparação dos resultados.

O objetivo de um novo estudo, publicado no ScienceDirect, foi contribuir para este debate, considerando a extensão espacial para definir o conceito de ondas de calor marinhas.

O estudo

Ao aplicar esta hipótese a uma bacia relativamente pequena, mas complexa, como o Mediterrâneo, as ondas de calor marinhas foram caracterizadas e as tendências a longo prazo avaliadas através da análise de dados de satélite da temperatura da superfície do mar.

Os resultados deste estudo mostram que a inclusão de um limiar mínimo de área, 5% da bacia da área, reduz consideravelmente a quantidade de eventos de ondas de calor ao não considerar anomalias locais da temperatura da superfície de mar.

temperatura da superfície do mar Mediterrâneo
Diferenças regionais da temperatura da superfície do mar Mediterrâneo.

Verificou-se, também, uma tendência para ondas de calor marinhas mais frequentes, intensas e mais longas no período de 1982-2021, no Mediterrâneo. Na caracterização espacial e na análise de tendências a longo prazo, foram aparentes as diferenças regionais.

Torna-se necessária uma perspetiva espacial nos estudos

Os resultados evidenciaram variações nas características e tendências das ondas de calor marinhas nas diferentes sub-bacias, evidenciando o facto de que, mesmo numa bacia relativamente pequena como o Mediterrâneo, as diferenças regionais significativas tornam necessária a inclusão de uma perspectiva espacial nos estudos, para além da análise puramente local em cada ponto de observação numa grande bacia ou mesmo no oceano global.

Relativamente à caracterização deste tipo de ondas de calor e à análise de tendências na bacia mediterrânica, foi encontrada uma tendência crescente em termos de frequência, duração e intensidade que se acelerou desde 2000 e especialmente na última década, apontando não só para uma intensificação constante e uma maior frequência de ondas de calor marinhas, mas também para a emergência de um novo conjunto das mesmas, mais intensas, duradouras e espacialmente extensas.

Apesar dos impactos conhecidos causados pelas ondas de calor marinhas, essencialmente, nos ecossistemas subaquáticos, é de extrema importância que se façam estudos de avaliação de impacto em áreas mais pequenas, de forma a conseguir melhores resultados.

As ondas de calor marinhas são, assim, um campo de estudo emergente com duas perspectivas diferentes. A primeira devido ao aquecimento global dos oceanos, resultado das alterações climáticas. A segunda, devido aos seus impactos na biologia marinha e nas interações do sistema mar-atmosfera, acoplado através da evaporação e dos fluxos de calor.

O essencial a retirar deste estudo é que deveria haver algumas limitações espaciais no que toca à investigação das ondas de calor marinhas, especialmente quando se pretende visar os impactos, tendo em conta que o resultado seria mais fidedigno.