Ondas de calor e tempestades: Como as alterações climáticas aumentam a probabilidade de propagação de vírus na água
A intensificação das tempestades e das ondas de calor pode contribuir para a disseminação de vírus na água, aumentando os riscos de infeções gastrointestinais e respiratórias. Saiba mais aqui!

As alterações climáticas estão a tornar-se cada vez mais evidentes, com eventos climáticos extremos, como ondas de calor e tempestades intensas, a ocorrerem com maior frequência.
Além dos impactes bem conhecidos, como inundações, incêndios florestais e perda de biodiversidade, há um risco crescente para a saúde pública que tem recebido menos atenção: a disseminação de vírus através da água contaminada por esgotos.
Um estudo recente revela que as alterações climáticas podem aumentar significativamente o risco de exposição a vírus associados a esgotos em rios, lagos e águas costeiras.
Ondas de calor e persistência viral na água
As tempestades intensas têm vindo a aumentar em frequência e severidade devido às alterações climáticas. Estas chuvas extremas podem sobrecarregar os sistemas de esgoto, levando à descarga de esgotos não tratados diretamente nos corpos de água. Neste caso, os sistemas de esgotos urbanos, especialmente em cidades mais antigas, muitas vezes não conseguem suportar o volume excessivo de água pluvial, resultando na descarga de contaminantes, incluindo vírus e bactérias.
Estes eventos de descarga representam uma agravante para as populações locais, especialmente para aqueles que usam águas contaminadas para lazer ou consumo. Os vírus como enterovírus, norovírus e adenovírus podem sobreviver durante dias nestes ambientes, aumentando ainda mais o risco de infeções gastrointestinais e respiratórias.

As ondas de calor também têm um papel importante na disseminação de vírus na água. Com temperaturas mais elevadas, os padrões de precipitação podem tornar-se irregulares, causando longos períodos de seca seguidos por chuvas intensas. Este ciclo leva à acumulação de contaminantes no solo e nos sistemas de drenagem, que são posteriormente deslocados para os corpos de água com as primeiras chuvas intensas.
Além disso, as temperaturas mais elevadas podem influenciar a sobrevivência dos vírus na água. Alguns estudos demonstram que enterovírus e norovírus podem permanecer infeciosos em águas salinas e doces durante três dias a 30°C e ainda mais tempo em temperaturas mais baixas. Isto significa que, mesmo após um evento de contaminação, as águas podem continuar perigosas por vários dias, aumentando o risco para os utilizadores.
Implicações para a saúde pública e minimização de riscos
A radiação solar desempenha aqui um papel essencial na inativação de vírus em águas superficiais. Em dias ensolarados, os vírus na água são significativamente reduzidos em menos de 24 horas devido à exposição aos raios ultravioleta. No entanto, em dias nublados, os vírus podem persistir por até 2,5 dias, aumentando as chances de infeção para aqueles que entram em contacto com a água contaminada.
A contaminação viral da água tem implicações graves para a saúde pública, especialmente em regiões onde os esgotos são frequentemente descarregados em corpos de água. As infeções gastrointestinais, como as causadas por norovírus, podem espalhar-se rapidamente em comunidades que utilizam água contaminada. Além disso, os vírus respiratórios, como o adenovírus, também podem estar presentes, aumentando a incidência de doenças.
O aumento do turismo e das atividades recreativas em águas naturais também agrava a situação. A exposição a águas contaminadas por esgotos pode levar a surtos de doenças entre banhistas, praticantes de desportos aquáticos e pescadores, tornando essencial a monitorização da qualidade da água e a implementação de medidas preventivas.
Diante deste cenário, é fundamental adotar medidas para minimizar os impactes das alterações climáticas na qualidade da água. Algumas estratégias incluem melhorias nos sistemas de esgotos, investimentos em infraestruturas para reduzir descargas de esgotos não tratados, monitorização frequente da qualidade da água para detetar a presença de vírus, avisos públicos para informar sobre riscos em áreas afetadas e promoção de boas práticas, alertando a população para evitar atividades aquáticas em águas potencialmente contaminadas.
Referência da notícia
Kevill, J. L., Herridge, K., Li, X., Malham, S. K., Robins, P., & Jones, D. L. (2025). Comparative impact of sunlight and salinity on human pathogenic virus survival in river, estuarine, and marine water microcosms. Water Research, 123411.https://doi.org/10.1016/j.watres.2025.123411