Ondas da Nazaré: porque são tão grandes?
Na semana passada houve ondas perto da Nazaré que superaram os 15 metros de altura! Um surfista chegou inclusive a desaparecer por momentos debaixo das ondas. Mas afinal, o que leva à formação de ondas tão grandes? Contamos-lhe tudo aqui!
A vila de Nazaré, Leiria, localizada a cerca de 130 km a norte da capital Lisboa, é um lugar famoso devido ao surf e às suas fascinantes e aterradoras ondas geradas no Oceano Atlântico. Na semana passada, o alto swell resultante de um poderoso ciclone no Atlântico Norte originou ondas enormes, com vários metros de altura, nas envolvências do Golfo da Biscaia, que se espraiaram pela linha de costa ibérica. Para tal, viajou pelo Atlântico e foi potenciado pelos ventos de Oeste-Noroeste provenientes do Golfo da Biscaia. Os ventos, para além do swell gerado pelo ciclone, contribuíram para uma altura de onda consideravelmente monstruosa. As ondas mais altas registadas nesses dias na Nazaré chegaram mesmo a superar os 15 metros!
Swell é a palavra inglesa que define a formação de ondas dentro de zonas de geração, ou seja, a região onde ocorrem as tempestades. Quando tal se proporciona, a turbulência das tempestades impulsiona a superfície oceânica, criando grandes ondulações que se propagam e viajam por longas distâncias, que incrementam de tamanho quando o mar fica mais raso. Assim, acabam por se constituir grandes ondas no momento de atingir a costa.
Mas há outros aspetos de natureza morfológica que compõem o célebre lugar do canhão Nazaré. O seu relevo submarino estende-se ao longo de 210 km a oeste da costa portuguesa, evidenciando uma batimetria (profundeza) de 4300 metros. A considerável heterogeneidade (distintos padrões) de habitat que podemos observar no canhão ou canyon, é influenciada por duas essenciais características topográficas: as correntes fortes e decorrente disso, as águas turvas, que acabam por moldar o relevo dessas áreas. Assim, a morfologia do canhão abarca declives extremamente íngremes, escarpas, terraços e subsidências bem como um thalweg profundamente escavado na parte inferior do canhão.
A orografia do fundo marinho do canhão contém tamanhos diversos de rochas e sedimentos que oscilam desde areia atá lama fina. A grande variação no ambiente físico reflete-se na fauna variada que habita o canhão. A biodiversidade local tende a diminuir com a profundidade. Por exemplo, por lá podemos encontrar determinados grupos de organismos como os gorgonianos (recifes de coral) e os lírios do mar (equinodermes - Crinoidea), da família dos ouriços do mar e costumam ser encontrados em superfícies rochosas, enquanto que os grandes protozoários dominam sedimentos a 3400 m de profundidade.
Porque são tão grandes as ondas da Nazaré?
Normalmente, as ondas diminuem conforme se aproximam da costa, uma vez que o fundo do mar empurra-as contra o swell. Mas quando o fundo do mar se amplifica, as ondas adquirem energia extra uma vez que a água galga metros para preencher esse espaço. Quando as ondas gigantes se formam na Nazaré, trata-se do produto de dois swells - um vindo do canyon e outro da plataforma continental mais rasa - convergindo e resultando em interferência construtiva. Essencialmente, as ondas são enormes porque se empilham umas sobre as outras. Além do canhão, existe um pequeno canal que expulsa a água para fora da costa, aumentando a já de si impressionante altura das ondas.