O vulcão como fonte natural de poluição
Os vulcões são responsáveis por espetáculos únicos que a natureza nos oferece, no entanto, os seus impactos destrutivos nas vidas humanas e no no meio ambiente também guardam semelhante proporção.
A Organização Mundial da Saúde (OMS, 2003) refere no seu relatório que a exposição aos poluentes do ar é diretamente responsável pelo incremento de várias patologias, tais como asma, bronquite, doenças coronárias, baixo peso à nascença e malformações congénitas.
As fontes de poluição do ar podem-se classificar como naturais e/ou antropogénicas. Nem toda a poluição é imputável e diretamente atribuível à ação do humana, as fontes de poluição natural, no seu conjunto, de bem maior dimensão do que as antropogénicas. Destas fontes naturais fazem parte os incêndios florestais de causas naturais, as tempestades de poeiras, os poluentes biogénicos, a atividade vulcânica, entre outras.
Vulcões como fonte de poluentes do ar
Existem mais de 1.500 vulcões ativos em 81 países. Para as centenas de milhões de pessoas que vivem nas redondezas de vulcões, a sua presença faz simplesmente parte do quotidiano, como um engarrafamento de trânsito ou chuva frequente.
Estima-se que mais de 10% da população mundial viva nas imediações de um vulcão ativo ou com atividade histórica, devido à enorme fertilidade que caracteriza os solos vulcânicos, o que nos dá uma ideia da importância deste fenómeno quer em termos ambientais quer do ponto de vista da saúde.
Para termos uma ideia da dimensão do vulcanismo como fonte de poluição do ar, atentemos nos cerca de 540 milhões de toneladas de Dióxido de Carbono (CO2) vulcanogénico que anualmente são emitidas para a atmosfera.
Apesar de tudo, uma pequena fração ao pé da quantidade produzida pelas atividades humanas. Mais de 70% dos gases vulcanogénicos é vapor de água. No entanto, para além do vapor de água e do CO2, durante e após as erupções, os vulcões libertam outros gases e aerossóis, tão ou mais nocivos para a saúde, tais como Dióxido de Enxofre (SO2), Ácido Sulfúrico (H2SO2), Mercúrio (Hg), Alumínio (Al), Chumbo (Pb), entre muitos outros. Para além dos gases emitidos para a atmosfera, as cinzas vulcânicas, partículas finas de rocha vulcânica fragmentada (com menos de 2mm de diâmetro), formadas durante as explosões vulcânicas podem causar irritação nos pulmões e nos olhos.
Os vulcões e as doenças respiratórias
Segundo um estudo desenvolvido pela Universidade de Leeds, no Reino Unido e pela Universidade da Islândia, as doenças respiratórias aumentaram quase um quarto após a erupção de lava do vulcão Holuhraun em 2014-2015, uma das maiores erupções vulcânicas da Islândia.
A erupção do Holuhraun foi uma das maiores nos últimos 200 anos, libertando 11 milhões de toneladas de Dióxido de Enxofre que se espalhou pela Islândia e pelo Oceano Atlântico em direção à Europa. As emissões que retornam nos dias imediatamente após as erupções vulcânicas afetam a saúde e não são consideradas nas respostas à ameaça à saúde pública causada pelos vulcões.
Este estudo demonstra também que após a exposição a emissões que mudaram quimicamente de gás para partículas finas, os incidentes de doenças respiratórias na Islândia aumentaram em quase um quarto e a incidência de dispensa de medicamentos para asma aumentou em um quinto.
Estes resultados podem ter implicações significativas com o objetivo de serem desenvolvidas ações para proteger a saúde dos 800 milhões de pessoas que vivem globalmente perto de vulcões ativos. Na verdade, ainda no mês de março, o vulcão Fagradalsfjall entrou em erupção pela primeira vez em quase 800 anos.
Estima-se que a exposição a curto e longo prazo a este tipo de partículas finas, tanto de origem humana como natural, causam mais de três milhões de mortes prematuras a nível mundial por ano e continua a ser o maior risco para a saúde ambiental na Europa.
As novas descobertas destacam os riscos para a saúde dos poluentes remanescentes na atmosfera e as implicações para a monitorização das emissões da atividade vulcânica, havendo assim uma necessidade global de avaliações de risco para a saúde e a gestão de segurança da população após erupções vulcânicas.
Os resultados publicados pela Nature Communications, destacam a necessidade das autoridades se prepararem para os problemas de saúde associados ao retorno das emissões nos dias imediatamente após as erupções vulcânicas.