O que é inversão térmica?

Já alguma vez reparou que faz mais frio no fundo de um vale do que no topo? Isto normalmente acontece quando há uma inversão térmica, um fenómeno que está associado a situações de grande estabilidade atmosférica. Aqui explicamos-lhe.

Inversão térmica;
Quando há um anticiclone, o ar desce das camadas mais altas da troposfera, aquece e retém junto à superfície o mais frio, que aparece por radiação.

Em condições normais, a temperatura diminui com a altitude (cerca de 6,5 ºC para cada 1000 metros) na troposfera, que é a parte mais baixa da atmosfera. No entanto, isto não se cumpre sob certas circunstâncias. Em situações de inversão térmica, a temperatura da parte superior de uma camada é superior à da parte inferior.

Este fenómeno ocorre geralmente durante as noites de inverno, em situações de grande estabilidade atmosférica, embora na realidade, se as condições forem adequadas, possa acontecer em qualquer altura do ano. O movimento que o ar frio das camadas superiores faz na sua descida em direção à superfície é conhecido como subsidência. O ar comprime-se, aumenta a pressão, aquece e perde humidade, o que explica a ausência de nebulosidade.

Por esta razão, em noites de céu limpo no inverno, quando o solo perdeu calor através da radiação, as camadas de ar perto do solo arrefecem mais rapidamente do que as camadas superiores. Este ar tão frio é muito denso e deposita-se nos fundos dos vales, fossos ou outros setores orograficamente propensos à formação de depressões de ar frio, tais como dolinas ou poljes, onde predominam rochas calcárias. Por esta razão, por vezes as temperaturas (especialmente as noturnas) são muito mais frias nas zonas baixas do que nos topos.

A inversão térmica é quebrada à medida que o sol aquece ou devido ao vento, que normalmente anuncia uma mudança nas massas de ar, permitindo que as diferentes camadas de ar finalmente se misturem. Até lá, devido a estes movimentos descendentes do ar, não podem ser geradas nuvens de desenvolvimento vertical.

sincelo
A inversão térmica, em ocasiões, pode levar à formação de um fenómeno conhecido por sincelo, que em Portugal normalmente surge na região de Trás-os-Montes.

Consequências da inversão térmica em Portugal

As inversões térmicas são bastante comuns em Portugal continental, e às vezes fazem com que grandes regiões a baixa altitude como o vale do Tejo, Douro ou Sado, ou as planícies do Alentejo sejam consideravelmente mais frios do que as montanhas. Em dias de inversão térmica muito acentuada, sobretudo durante o inverno, ocorre a formação de um fenómeno conhecido como sincelo na região de Trás-os-Montes e Alto Douro. Isto acontece quando o ar seco arrefece até atingir a saturação, e quando tal acontece com valores abaixo dos 0 ºC, formam-se nevoeiros de gelo, sincelo e por vezes, precipitação de cristais.

O problema é que estas situações trazem riscos acrescidos, quer para as áreas rurais, com efeitos adversos na agricultura devido ao surgimento de geadas localizadas que danificam as culturas, quer em áreas urbanas, onde a concentração de poluição é maior. Assim, no interior das camadas de inversão térmica existe em muitas ocasiões, um risco associado de degradação da qualidade do ar, gerado pela acumulação de poluentes misturados na camada de ar frio, que não se conseguem libertar.