O óleo de palma e a sede consumista
Apesar do optimum climático criado há milhares de anos, ao longo da história da Terra, esse equilíbrio oscilou ficando gradualmente mais quente, ou mais frio, durante longos períodos de tempo. Porém a antropogenia veio acelerar o ritmo natural da inevitável cíclica reorganização climática.
Resultado de alterações naturais e dimensionalmente incontornáveis, como a atividade solar, as correntes oceânicas ou variações na inclinação do eixo do planeta, nos últimos milhões de anos existiram cerca de dez períodos glaciares, interrompidos por períodos muito mais quentes. O planeta atravessa um desequilíbrio energético positivo, uma vez que irradia de volta ao espaço menos energia do que recebe, acumulando calor, refletindo-se num aumento não homogéneo, da temperatura média.
Ainda que numa dimensão colossalmente menor, comparativamente com as forçantes naturais, é facto que as atividades do ser humano estão a inferir no mecanismo climático, acelerando alterações cujas consequências começam a evidenciar-se por todo o planeta. E, quanto mais perturbamos o clima, maiores são os riscos de perigosas alterações, e mais difícil e dispendioso será mitigar as futuras mudanças e adaptar-nos aos inevitáveis impactes. Neste sentido, considerando que o homem transforma o meio e é transformado por ele, um novo conceito de sustentabilidade aponta para um premente equilíbrio na interação entre o homem e a natureza.
Um contínuo crescimento populacional aliado a uma disseminada cultura desenfreadamente consumista, traduzem-se numa maior necessidade exploratória de recursos naturais a fim de responder às demandas. A perceção da finitude e da incapacidade de regeneração à escala temporal da vida humana, de recursos e fontes de energia, impelem o Homem à adoção de alternativas que por vezes acarretam consequências manifestamente negativas para a biosfera.
A potencialidade do óleo de palma
Elaeis guineensis, vulgo palma, é uma palmeira oleaginosa de origem Africana, com até 30 m de altura, de ciclo perene, monocotiledónea e pertencente à família das Arecaceae, cuja polpa do fruto, cor-de-laranja, depois de refinada, se transforma no famoso óleo de palma. Uma cultura de ciclo longo e de cultivo manual, que se espalhou por toda a região tropical do planeta, atualmente com maior proeminência no sudeste asiático.
É o óleo vegetal mais produzido no mundo, representando aproximadamente 66 milhões de toneladas que absorvem cerca de 28 milhões de hectares de solo, outrora ocupado por florestas tropicais que foram sendo dizimadas para dar lugar aos denominados desertos verdes. E, o baixo valor comercial do óleo de palma exponencia o seu comércio em larga escala, o que, aliado à versatilidade da sua composição química que possibilita uma utilização em toda uma panóplia de bens alimentares, inclusive na indústria química e energética, configura-o com um enorme potencial económico-social.
Não obstante a maioria das empresas o dissimular como “óleo e gordura vegetal”, encontrámos o óleo de palma na composição de alimentos pré-confeccionados ultracongelados como pizzas, em bolachas, gelados, chocolates, iogurtes, batatas fritas, assim como, em detergentes de limpeza, sabonetes, cremes hidratantes, cosméticos como batons, etc. Todavia, a versatilidade da utilização do óleo de palma vais mais além – é amplamente utilizado para a produção de biocombustível.
Uma “equivocada” fonte de energia alternativa
É incontornável o potencial que a produção de óleo de palma representa na economia e serviços a nível mundial. Na União Europeia, de 61% do óleo de palma importado, 51% é usado para biodiesel, e os restantes 10% canalizados para e a produção de energia, sendo que deste quantitativo, reporta-se somente à Alemanha, a importação de 1,4 milhões de toneladas de óleo de palma.
Estes quantitativos representam grande parte da causa da desflorestação das manchas florestais na faixa tropical da esfera terrestre. Considere-se que a mistura do chamado biocombustível, a bioenergia no formato óleo de palma, na gasolina e no gasóleo, por determinação da União Europeia, é ação obrigatória desde 2009, até ao ano de 2030. Diariamente, vastas áreas da floresta tropical são queimadas, desflorestadas para libertar espaço para plantações de óleo de palma.
As consequências desta ação no delicado efeito estufa são triplamente mais nocivas na emissão de CO₂ e CH₄ do que a proveniente do crude refinado, vulgo petróleo. Não é só o mecanismo climático que sofre com a diminuição de sumidouros de dióxido de carbono, inúmeras espécies de animais, como orangotangos, felinos, e singelos indígenas que habitam e protegem a floresta, são aniquilados ou forçados a procurar reduto.
Enquanto consumidores, pouco ou nada nos sentimos afetados com a estatística climático-comercial, não devendo porém ser depreciado o elementar facto de que os ácidos gordos do óleo de palma refinado podem depreciadamente afetar o património hereditário do ser humano. O impacte da produção desmensurada de óleo de palma no desequilíbrio do efeito estufa, porquanto cortar árvores das florestas tropicais e drenar charcos de turfa, inferem na libertação de largas quantidades de CO₂, contribuindo para o aumento da temperatura média global. Não esquecendo ainda, a pegada ecológica que o cultivo de palma representa no que concerne ao uso de fertilizantes, pesticidas, transporte e tratamento, diga-se energia despendida na sua transformação.
De facto, nos últimos tempos tem havido um crescente aumento de interesse a nível mundial na produção de óleo de palma como matéria-prima na produção de biocombustíveis, despoletado nomeadamente pela escalada dos preços petrolíferos. Não obstante a panóplia de bens que o óleo de palma propicia, será legítimo, em prol de um bem-estar humano, depreciar a manutenção da biodiversidade que alimenta o bem-estar do planeta e da vida que o habita? Ainda não temos a chave do planeta B. Estaremos preparados para a consequência da avidez consumista que contagiou a humanidade?