O oceano Atlântico Norte está mais quente e ácido do que há 40 anos
Um estudo publicado recentemente apontou que as águas do oceano Atlântico Norte, a sudeste das Ilhas Bermudas, estão mais ácidas e mais quentes do que na década de 1980.
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Vimos que, de forma geral, os oceanos ficaram mais quentes do que nunca este ano, atingindo valores recordes de temperatura devido às alterações climáticas. A temperatura média de todos os oceanos ultrapassou a marca dos 21 °C, um valor nunca atingido desde o início dos registos em 1981.
Mas agora, um estudo analisou mais regionalmente as águas do Atlântico Norte, a cerca de 80 quilómetros a sudeste das ilhas Bermudas, e identificou que as águas nessa região estão mais quentes e ácidas do que há quatro décadas atrás.
A investigação foi realizada por cientistas da Universidade Estadual do Arizona (ASU) e publicada recentemente na revista Frontiers in Marine Science.
Quarenta anos de dados analisados
Os investigadores analisaram dados mensais da física, biologia e química das águas superficiais e do fundo do oceano nesta região desde 1983, dados esses recolhidos e fornecidos pelo projeto Bermuda Atlantic Time-series Study (BATS).
Os resultados mostraram que houve um aquecimento das águas superficiais, um aumento da salinidade, diminuição de oxigénio dissolvido, aumento do dióxido de carbono (CO2) e acidificação das águas, em comparação com o que era há quatro décadas atrás.
Em relação à temperatura, observou-se um aumento de 0,24 °C por década desde 1983 na superfície do Atlântico norte subtropical – o que significa um oceano cerca de +1 °C mais quente do que há 40 anos atrás. Durante este período, a salinidade aumentou em +0,136 e a perda de oxigénio foi de aproximadamente 6% (ou 12,5 µmol kg-1).
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Além disso, a acidez aumentou em 30%, resultando em concentrações mais baixas de iões de carbono. Isto pode afetar, por exemplo, a capacidade de sustentação de conchas em animais que as possuem (ostras, mariscos, caracol, caramujo).
De acordo com Nicholas Bates, autor principal do estudo, estas mudanças devem-se à absorção de CO2 antropogénico da atmosfera. Os investigadores destacam a importância de recolher dados em longos períodos para prever mudanças futuras a partir de alterações que ocorreram num passado recente. "Elas também comprovam as mudanças ambientais regionais e globais e os desafios existenciais que enfrentaremos como indivíduos e sociedades num futuro próximo", afirmou Bates.
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Segundo o estudo, estes dados são essenciais para prever a resposta da química dos oceanos e dos ecossistemas marinhos às futuras mudanças nas condições da terra e dos oceanos.
Referência da notícia:BATES, N. R.; JOHNSON, R. J. Forty years of ocean acidification observations (1983–2023) in the Sargasso Sea at the Bermuda Atlantic Time-series Study site. Frontiers in Marine Science, v. 10, 2023.