Ny-Ålesund: o território com o ar mais limpo e onde a internet é restrita

Encontrar um território no planeta Terra livre de poluição atmosférica é, infelizmente, uma proeza complexa. No entanto, ainda é possível.

Na península de Brøggerhalvøya, de Spitsbergen, em Svalbard, o arquipélago norueguês no Oceano Ártico, situa-se a cidade de Ny-Ålesund. É considerada por muitos como a cidade com o ar mais limpo do mundo, mas porque é que é tão bem considerada?

A cidade é propriedade da baía estatal Kings Bay e pertence à Noruega desde agosto de 1925. Só é habitada por 45 pessoas em pleno Inverno. Ny-Ålesund é a povoação permanente mais setentrional do mundo, localizada a cerca de 1231 km do Polo Norte.

Kings Bay fornece instalações para apoiar as atividades permanentes de investigação de várias instituições.

Um acordo puramente científico

As trevas e a luz rivalizam neste território: de meados de abril até ao final de agosto de cada ano, o sol nunca se põe. O período noturno polar, sem nascer do sol, estende-se de meados de novembro até ao final de janeiro.

Os residentes da cidade são na sua maioria cientistas de todo o mundo (China, Alemanha, Coreia, Índia, Japão, França, Itália e Holanda) que aqui vêm para fins de investigação.

Em 1989, foi construída uma estação de investigação nos flancos de Zeppelinfjellet, a 472m acima do nível do mar, para ajudar os investigadores a estudar a poluição atmosférica.

Um dos locais mais importantes aqui é o Observatório Zeppelin, uma estação de investigação que é crucial para medir os níveis de gases com efeito de estufa que provocam as alterações climáticas.

Ar limpo, mas por quanto tempo?

A localização de Ny-Ålesund torna-a privilegiada: a qualidade do seu ar é pura. Isto faz com que seja um destino ideal para estudar como a humanidade contribui para a destruição do planeta. Sabemos que mesmo lugares distantes da civilização não estão isentos dos danos causados pela civilização.

Os peritos apontam para sinais de que a qualidade do ar aqui pode estar a mudar. De tempos a tempos, as correntes atmosféricas transportam ar da Europa e da América do Norte para esta parte de Svalbard, trazendo consigo a poluição proveniente destas regiões.

Os investigadores não só observam que os níveis de certos poluentes estão a aumentar, mas também há indicações de novos tipos de poluição transmitida pelo vento.

Devido à sua localização remota e à sua altitude acima das camadas atmosféricas que podem aprisionar a pouca poluição produzida localmente a partir da cidade, o Observatório Zeppelin é o local ideal para se ter uma ideia da situação atual do que está a acontecer na atmosfera da Terra.

Por outras palavras: se o ar em Ny-Ålesund estiver poluído, o resto do planeta encontra-se numa situação comprometida.

Os sensores do observatório medem não só gases com efeito de estufa, mas também gases clorados tais como CFC, metais pesados no ar, poluentes organofosfatados tais como pesticidas, e poluição tipicamente associada à queima de combustíveis fósseis, tais como óxidos de azoto, dióxido de enxofre e partículas em suspensão tais como fuligem.

É possível visitar a área?

Há turistas ocasionais em Ny-Ålesund, especialmente no Verão, mas não há infraestruturas suficientes para fazer dele um local turístico.

O pequeno aeroporto de Ny-Ålesund acolhe um voo regular de Longyearbyen várias vezes por semana, embora os lugares em voos só possam ser reservados através de Kings Bay.

Existe um pequeno museu que mostra a história mineira da cidade e um posto dos correios a partir do qual podem ser enviados postais para todo o mundo. Não existem hotéis ou restaurantes, por isso os cientistas residentes tomam as suas refeições na cantina três vezes por dia em horários determinados.

O refeitório está localizado num edifício de serviço, juntamente com a receção, lavandaria, estação de devolução de resíduos e serviços médicos. Para além disto, a maioria dos edifícios são utilizados para investigação.

Uma vida com Internet restrita

Este é talvez um dos aspetos mais peculiares da vida em Ny-Ålesund. A povoação é uma comunidade rádio-silenciada para proteger o equipamento científico altamente sensível.

Isto significa que Wi-Fi e Bluetooth não são permitidos. Os telemóveis e outros equipamentos eletrónicos devem ser colocados em modo de voo com Bluetooth desligado num raio de 20 km.

Existe um sistema telefónico com fios e portas ethernet para acesso à Internet em toda a povoação.