Nuvens noctilucentes em Portugal: relação com alterações climáticas?
As nuvens mesosféricas polares ou noctilucentes têm origem na alta atmosfera, razão pela qual são vistas à noite. Embora surjam principalmente nas regiões polares e subpolares, o seu aparecimento em latitudes médias pode servir como um indicador das alterações climáticas.
Nuvens noctilucentes, ou nuvens que brilham à noite, são formações de cristais de gelo em forma de nuvem que por vezes ocorrem na atmosfera média, designada por mesosfera, a cerca de 80 quilómetros acima da superfície da Terra e que só são visíveis durante o crepúsculo no verão.
Conhecidas também como nuvens mesosféricas polares, este tipo de nuvens são as que se formam na parte mais alta da atmosfera, permitindo que sejam observadas ao cair da noite ou de madrugada, bem antes do nascer do sol. Formam-se quando o vapor de água congela em torno de partículas de poeira dos meteoros que chegam. São mais frequentemente observadas durante os meses de verão, nas latitudes entre os 50° e 70°, quando o Sol já está abaixo do horizonte, mas enquanto as nuvens ainda estão à luz do sol.
Estas nuvens são muito fracas para serem vistas durante o dia. A classificação de nuvens noctilucentes é relativamente recente e a sua ocorrência parece estar a aumentar em frequência, brilho e extensão, o que convida a uma possível relação com as alterações climáticas.
O estudo que relaciona nuvens noctilucentes e alterações climáticas
Segundo um estudo publicado em 2018, pelo Instituto Leibniz de Física da Atmosfera em Kühlungsborn, Alemanha, o aumento do vapor de água na atmosfera da Terra provocado pelas atividades humanas, está a fazer com que as nuvens noctilucentes se tornem mais visíveis. Os resultados sugerem que essas nuvens, cada vez mais comuns, vistas apenas nas noites de verão, são um reflexo das alterações climáticas causadas pelo homem.
Para esta investigação, os cientistas usaram observações por satélite e modelos climáticos para simular como o aumento de gases com efeito de estufa da queima de combustíveis fósseis contribuíu para a formação de nuvens noctilucentes nos últimos 150 anos. A extração e a queima de combustíveis fósseis fornecem dióxido de carbono, metano e vapor de água na atmosfera, todos eles gases com efeito de estufa.
Os resultados do estudo estimam que as emissões de metano aumentaram as concentrações de vapor de água na mesosfera em cerca de 40% desde o final do século XIX, o que provocou um aumento mais do que o dobro da quantidade de gelo que se forma na mesosfera, zona da média atmosfera onde se formam as nuvens noctilucentes. Conclui-se assim, que as atividades humanas são a principal razão pela qual as nuvens noctilucentes são significativamente mais visíveis agora do que há século e meio atrás.
Observação e registos destas nuvens em Portugal
As nuvens noctilucentes são geralmente incolores ou azul pálido, embora ocasionalmente apresentem outras cores, incluindo vermelho e verde. A característica cor azul vem da absorção pelo ozono no caminho da luz solar que ilumina a nuvem noctilucente. Frequentemente mostram padrões distintos, como faixas, ondulações ou em forma de turbilhão.
Em Portugal e em Espanha foram captados vários registos ao longo das últimas semanas, em latitudes pouco habituais para a formação deste tipo de nuvens, o que sugere o reforço da tal ligação entre nuvens noctilucentes e alterações climáticas.
Surgem durante o verão, de meados de maio a meados de agosto no hemisfério norte e entre meados de novembro e meados de fevereiro no hemisfério sul. Embora as nuvens noctilucentes ocorram nos dois hemisférios, foram observadas milhares de vezes no hemisfério norte, mas menos de 100 vezes no sul. As nuvens noctilucentes do hemisfério sul são mais fracas e ocorrem com menos frequência; além disso, o hemisfério sul tem uma população menor e menos área de terra para fazer observações.