Número de satélites em órbita terrestre pode vir a diminuir se não forem tomadas medidas, diz estudo publicado na Nature
Segundo uma nova investigação, os gases com efeito de estufa estão a corroer a capacidade de carga segura da órbita baixa da Terra.

Os sonhos de muitas empresas de aumentar drasticamente a escala e utilizar a região imediatamente acima da atmosfera terrestre para comunicações e não só estão ameaçados.
Aumento do número de satélites de órbita terrestre baixa – será sustentável?
A maior parte da investigação sobre as alterações climáticas provocadas pelos gases com efeito de estufa na atmosfera terrestre tem-se concentrado historicamente na camada da troposfera, camada da atmosfera junto ao globo, dado que as alterações nesta região têm consequências para quase todos os aspetos da vida na Terra.
Entre todas as consequências das alterações climáticas, uma que poucas pessoas consideraram, é o efeito no espaço dos gases com efeito de estufa, para além da troposfera.

Atendendo que nos últimos cinco anos, foram lançados mais satélites do que nos 60 anos anteriores, um dos principais objetivos que os autores deste estudo tentaram compreender foi se o caminho que se está a seguir atualmente é sustentável.
Embora isto seja claramente negativo para os pioneiros do espaço, é fácil assumir que o efeito seria tão pequeno que seria insignificante. No entanto, quando Parker e os seus co-autores analisaram os números, descobriram algo muito diferente.
Ou seja, os gases com efeito de estufa estendem a sua influência até para além da atmosfera, nomeadamente na termosfera, camada muito acima da atmosfera terrestre, onde a maioria dos satélites, os de órbita baixa, operam.
Aumento dos gases com efeito de estufa tem impacto no número de satélites de órbita terrestre baixa
De acordo com o estudo, a libertação de gases com efeito de estufa de origem humana causa arrefecimento e contração na termosfera.
Os autores referem que uma atmosfera mais condensada significa que o lixo espacial (ou detritos espaciais são objetos criados pelos seres humanos e que se encontram em órbita, mas que não desempenham mais nenhuma função útil, como por exemplo, as diversas partes de naves espaciais deixados para trás após seu lançamento) permanece no ar durante mais tempo e, por conseguinte, reduz o número de naves operacionais que podem orbitar sem o perigo de desencadear uma reação em cadeia de colisões, conhecida como Síndrome de Kessler.
Nesta investigação foram modeladas a “capacidade de carga” (conceito para calcular a dimensão de uma população que um ecossistema pode sustentar indefinidamente) de cada concha à volta da Terra de acordo com os cenários do IPCC para as emissões de gases com efeito de estufa.
Os autores chamam a atenção que as camadas de 900 e 1.400 quilómetros, em particular, estão já perigosamente desorganizadas e a atmosfera superior está num estado frágil à medida que as alterações climáticas perturbam o status quo.

Além disso, tem havido um aumento maciço do número de satélites lançados, especialmente para fornecer Internet de banda larga a partir do espaço.
Se não se gerir cuidadosamente o lançamento de satélites e se não se tomarem medidas para reduzir as emissões, o espaço poderá ficar demasiado povoado, dando origem a mais colisões e detritos.
Os autores do estudo sugerem às nações e empresas que lançam satélites que têm, pelo menos, três formas de resolver o problema. Podem levar a sério o combate às emissões de gases com efeito de estufa ou a remoção do lixo espacial, colocar os satélites em órbitas mais altas e mais caras, ou simplesmente ignorar toda a questão até que ocorra uma catástrofe e milhares de satélites sejam danificados e destruídos.
Referência da notícia
“Greenhouse gases reduce the satellite carrying capacity of low Earth orbit”, Nature Sustainability, William E. Parker, Matthew K. Brown & Richard Linares, Published: 10 March 2025.