Novos dados alteram ideias-chave sobre a história do clima da Terra

Um novo estudo poderá resolver um debate científico de longa data e mudar completamente a forma como pensamos sobre a evolução do clima da Terra. Saiba mais aqui!

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Este novo estudo refuta a ideia anterior de que os oceanos tinham temperaturas de 60 ºC, antes do surgimento das espécies.

Esta investigação desmistifica a ideia de que a superfície da Terra (terrestre e marítima) registou temperaturas muito elevadas nos últimos dois mil milhões de anos. Em vez disso, mostra que a Terra tem tido um clima relativamente estável e ameno.

A temperatura é um importante controlo das reações químicas que regem a vida e o nosso ambiente. Este novo estudo poderá ter implicações significativas para os cientistas que trabalham em modelos climáticos ou em questões relacionadas com a evolução biológica e climática.

"O conhecimento das temperaturas no passado pode ajudar-nos a compreender o funcionamento do sistema climático da Terra e a compreender as condições que permitiram a origem e a evolução da vida".

Dr. Terry Isson, geoquímico da Universidade de Waikato e principal autor do estudo.

Compreender as temperaturas passadas e a evolução da vida não é um exercício de história ou de pura curiosidade intelectual. A investigação sobre o clima do passado é importante para os investigadores que procuram compreender o clima atual e os cenários futuros a longo prazo.

Neste trabalho, o Dr. Isson e a estudante de Doutoramento Sofia Rauzi adotaram novos métodos, com o intuito de esclarecerem a história da temperatura da superfície da Terra.

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Utilizaram cinco registos de dados únicos derivados de diferentes tipos de rocha, incluindo xisto, óxido de ferro, carbonato, sílica e fosfato. Coletivamente, estes registos "geoquímicos" compreendem mais de 30.000 pontos de dados que abrangem a história de vários milhares de milhões de anos da Terra.

"Ao combinar registos de isótopos de oxigénio de diferentes minerais, os investigadores conseguiram conciliar uma história unificada da temperatura na Terra que é consistente em todos os cinco registos e na composição isotópica de oxigénio da água do mar."

Até à data, este estudo é a compilação e interpretação mais exaustiva de um dos registos geoquímicos mais antigos - os isótopos de oxigénio. Os isótopos de oxigénio são formas diferentes do elemento oxigénio. É também o primeiro estudo a utilizar os cinco registos existentes para traçar um "mapa" consistente da temperatura ao longo de uma enorme parte do tempo geológico.

Este estudo obteve resultados muito diferentes de estudos anteriores

Este estudo refuta a ideia de que os oceanos primitivos eram quentes, com temperaturas superiores a 60 °C antes de há cerca de 500 milhões de anos, antes do aparecimento de animais e plantas terrestres.

Os novos dados indicam que os oceanos primitivos eram relativamente estáveis e temperados e que as temperaturas rondavam os 10 °C, o que altera as ideias atuais sobre o ambiente em que a vida complexa evoluiu.

Este trabalho produz o primeiro registo de sempre da evolução da abundância de argila terrestre e marinha ao longo da história da Terra. Esta é a primeira prova direta de uma ligação íntima entre a evolução das plantas, as criaturas marinhas que fazem esqueletos e conchas de sílica (formas de vida siliciosas), a formação de argila e o clima global.

"Os resultados sugerem que o processo de formação de argilas pode ter desempenhado um papel fundamental na regulação do clima na Terra primitiva e na manutenção das condições temperadas que permitiram a evolução e a proliferação da vida na Terra".

Dr. Terry Isson.

De um modo geral, esta investigação fornece novas provas da história climática e geoquímica da Terra, que precisam de ser melhor compreendidas para informar e atualizar as ideias e a investigação atuais sobre o clima e a evolução.

Referência da notícia:
Isson T., Rauzi S. Oxygen isotope ensemble reveals Earth’s seawater, temperature, and carbon cycle history. Science (2024).