Novo modelo de IA poderá contribuir para o início de uma nova era de previsão meteorológica, mais rápida e mais fiável

Artigo científico apresenta o primeiro modelo de inteligência artificial (IA), desenvolvido pela Google DeepMind, que corre mais rapidamente que os sistemas atuais, fornecendo previsões em minutos, em vez das horas necessárias para os programas de previsão utilizados atualmente.

Inteligência artificial
Podemos estar a entrar agora numa nova era computacional para a elaboração da previsão meteorológica.

Este modelo de inteligência artificial gera previsões com 15 dias de antecedência, bem como a probabilidade de exatidão, com mais precisão do que o melhor sistema utilizado nos dias de hoje.

Modelo GenCast

As previsões meteorológicas têm sempre um determinado grau de incerteza, pelo que a previsão de cenários meteorológicos prováveis é crucial para decisões importantes. Estas são as chamadas previsões “probabilísticas”, que associam a cada previsão uma determinada probabilidade de ocorrência.

As previsões deste modelo de IA, desenvolvido pela Google DeepMind, foram comparados com previsões do melhor modelo operacional de médio prazo do mundo, o sistema de modelo de conjunto (Ensemble Prediction System - ENS) do Centro Europeu de Previsão do Tempo a Médio Prazo (ECMWF).

De acordo com os autores do estudo, este modelo denominado GenCast, supera o melhor sistema de Ensembles atualmente utilizado operacionalmente (ENS) na previsão de condições meteorológicas extremas, tais como, trajeto dos ciclones tropicais, calor, frio e vento extremo.

O GenCast gera um conjunto de previsões globais estocásticas, associadas a probabilidade de ocorrência, de 15 dias, com passos de 12 horas e uma resolução de 0,25° de latitude-longitude, para mais de 80 variáveis atmosféricas e de superfície, em 8 minutos.

Ciclones tropicais
O modelo GenCast dá melhores previsões no trajeto dos ciclones tropicais.

As previsões convencionais, incluindo as do ENS, baseiam-se em modelos matemáticos que simulam as leis da física que regem a atmosfera da Terra. Utilizam supercomputadores para analisar dados de satélites e estações meteorológicas, um processo que demora horas e requer grandes quantidades de poder de computação.

Segundo Ilan Price, investigador do Google DeepMind em Londres e autor do artigo, este modelo, o GenCast, pelo contrário, foi desenvolvido apenas com dados meteorológicos históricos, o que permite ao sistema estabelecer relações complexas entre variáveis como a pressão atmosférica, a humidade, a temperatura e o vento. Este facto ajuda-o a superar os sistemas estritamente baseados na física com a aprendizagem automática.

Evolução da IA na previsão meteorológica

A previsão meteorológica por IA tem avançado rapidamente, com várias empresas a desenvolverem novos e melhores modelos. No início deste ano, a Google lançou o NeuralGCM3, um sistema híbrido que combina modelos baseados na física com IA para produzir previsões a curto e longo prazo ao nível dos modelos convencionais.

Ondas de calor
Tem sido importante o desenvolvimento de modelos por IA, nomeadamente o GenCast na previsão de fenómenos extremos, tais como as ondas de calor.

Alguns dos sistemas de IA lançados até à data são modelos “determinísticos”, o que significa que oferecem apenas uma única previsão e não estimam a probabilidade da previsão estar correta. Em contrapartida, o GenCast gera previsões de “conjunto”, ou seja, um conjunto de previsões que foram produzidas a partir de condições iniciais ligeiramente diferentes.

Ao combinar estas previsões em diferentes conjuntos, os meteorologistas podem produzir uma previsão final e estimar a probabilidade de ocorrência do tempo previsto.

Os autores do estudo prepararam a IA com dados meteorológicos globais de 1979 a 2018 e de seguida previram o tempo de 2019. Para verificar a sua exatidão, compararam as previsões do GenCast com os dados meteorológicos reais e as previsões da ENS do ECMWF para esse ano.

O GenCast foi mais preciso do que o ENS em 97% das medidas utilizadas num quadro de pontuação para avaliar essas previsões “probabilísticas”. Foi também melhor na previsão de calor, frio e vento extremos, bem como no trajeto dos ciclones tropicais.

Os investigadores divulgaram o código subjacente e estão a disponibilizar os parâmetros do modelo, para utilização não comercial. Segundo Price, isto ajudará a “democratizar” a investigação e a aumentar o acesso do público à modelação meteorológica.

Perante isto, Matthew Chantry, coordenador de aprendizagem automática no Centro Europeu de Previsão do Tempo a Médio Prazo, em Reading, no Reino Unido, afirma que é necessário que se compreenda o desempenho destes modelos nos fenómenos meteorológicos mais extremos e que a publicação do modelo e dos dados permitirá que a comunidade científica os avalie, afirma.

Chantry, que já tinha lido um manuscrito do artigo, há um ano, implementou alguns dos principais avanços no próprio modelo de aprendizagem automática do ECMWF. O modelo resultante, denominado Sistema Integrado de Inteligência Artificial e Previsão (AIFS), será publicado em breve.

Referência da notícia

Ilan Price, Alvaro Sanchez-Gonzalez, et, al., Probabilistic weather forecasting with machine learning. Nature (2024).