Novo estudo científico prevê o período em que o sistema vital de correntes do Atlântico poderá entrar em colapso

Existem inúmeros estudos sobre as correntes no Atlântico Norte e em particular sobre a Circulação de Retorno Meridional do Atlântico (AMOC), visto que se trata de um sistema vital para o equilíbrio do nosso clima.

Oceano
Os sistemas de correntes que existem nos oceanos são fundamentais para a manutenção do clima no planeta.

Uma investigação recente, que utiliza um modelo de última geração para estimar quando a AMOC poderá entrar em colapso, sugere que isto poderá ocorrer ainda este século, entre 2037 e 2064.

Novo estudo sobre a Circulação de Retorno Meridional do Atlântico

A Circulação de Retorno Meridional do Atlântico (AMOC) é um sistema de correntes oceânicas que funciona como uma correia transportadora. A AMOC puxa a água quente de superfície do hemisfério sul e dos trópicos e distribui a mesmo no Atlântico Norte mais frio. A água mais fria e salgada afunda-se e flui para sul.

Este mecanismo impede que partes do hemisfério sul aqueçam demasiado e partes do hemisfério norte fiquem demasiado frias, ao mesmo tempo que distribui os nutrientes que sustentam a vida nos ecossistemas marinhos.

A AMOC influencia o clima em todo o mundo e o facto de poder entrar em colapso produziria uma catástrofe à escala planetária que transformaria o estado de tempo e o clima em todo o globo.

Até agora todos os estudos sobre a AMOC apontam para um possível colapso deste sistema de correntes devido ao seu enfraquecimento provocado por temperaturas oceânicas mais quentes e pela perturbação da salinidade causada pelas alterações climáticas induzidas pelo homem. No entanto este novo estudo vai mais longe e avança com uma previsão da altura em que este colapso poderá ocorrer.

Este novo estudo sugere mesmo que é mais provável que o colapso ocorra em 2050.

Este estudo está a ser revisto por pares e ainda não foi publicado numa revista. De acordo com a CNN, que entrevistou alguns autores deste estudo, os impactos de um colapso da AMOC deixariam algumas partes do mundo irreconhecíveis.

Globo
O colapso da AMOC transformaria o clima em muitas regiões do globo.

René van Westen, investigador marinho e atmosférico da Universidade de Utrecht, nos Países Baixos, e coautor do estudo alertou para a situação preocupante para o mundo caso este colapso aconteça.

Todos os efeitos secundários negativos das alterações climáticas antropogénicas vão continuar, como mais e mais intensas ondas de calor, fogos, secas e inundações, mas se, para além disso, houver um colapso da AMOC, o clima tornar-se-á ainda mais distorcido.

Embora os avanços na investigação sobre a AMOC tenham sido rápidos e os modelos que tentam prever o seu colapso tenham avançado à velocidade da luz, existe sempre um grau de incerteza associado a eles, pois não estão isentos de problemas.

Segundo Stefan Rahmstorf, um oceanógrafo físico da Universidade de Potsdam, na Alemanha, que não esteve envolvido neste último estudo, mas que também foi entrevistado pela CNN, enquanto especialista da área, estas previsões podem estar a subestimar a rapidez com que o colapso ocorrerá. Isto porque os modelos recentes não têm em consideração um fator crítico para o desaparecimento da AMOC, que é o derretimento do gelo da Gronelândia.

Grandes quantidades de água doce estão a desprender-se do manto de gelo e a fluir para o Atlântico Norte, o que perturba uma das forças motrizes da circulação, que é o sal.

Consequências do colapso da AMOC

O filme pós-apocalíptico “O Dia Depois de Amanhã”, de 2004, que se passa num mundo que sofre as consequências do aquecimento e do posterior arrefecimento global, baseia-se justamente num eventual colapso da Corrente do Golfo e, num cenário mais amplo, da AMOC.

No filme, Nova Iorque é devastada subitamente por tsunamis e ondas de frio intensas, mas na vida real, porém, as situações não aconteceriam com tanta velocidade assim. O oceano demora a responder às mudanças, que serão sentidas devagar e aos poucos.

Gelo
Com o colapso da AMOC o gelo do Ártico deslocar-se-ia para sul e zonas da Europa passariam a médio prazo a ficar geladas.

Nas décadas seguintes a um colapso, o gelo do Ártico começaria a deslocar-se para sul e, ao fim de 100 anos, estender-se-ia até à costa sul de Inglaterra. A temperatura média da Europa cairia a pique, tal como a da América do Norte.

A floresta amazónica veria uma inversão completa das suas estações; a atual estação seca passaria a ser o mês das chuvas e vice-versa, partes a Amazónia deixariam de ser floresta tropical e transformar-se-ia em savana.

As projeções também apontam para mudanças nos regimes de chuvas, com secas em algumas áreas e inundações em outras.