Novo composto tem melhor desempenho do que um medicamento contra a dor ao visar indiretamente os canais de cálcio
Cientistas identificam um composto com potencial para reverter quatro tipos de dor crónica.
Os investigadores identificaram um novo composto que mostra potencial para reverter a dor crónica sem os efeitos secundários da maioria dos tratamentos atuais.
A descoberta inovadora foi feita através de um estudo realizado pelo Centro de Investigação da Dor da Faculdade de Medicina Dentária da NYU, que analisou uma biblioteca de 27 milhões de potenciais medicamentos antes de descobrir uma pequena molécula que diz ser capaz de inverter quatro tipos de dor crónica.
A pequena molécula é diferente dos medicamentos existentes para a dor, na medida em que visa uma região interna de um canal de cálcio para o regular indiretamente.
Conseguir a redução da dor
Os canais de cálcio são cruciais na sinalização da dor, principalmente através da libertação de neurotransmissores como o glutamato e o GABA.
Rajesh Khanna, professor de patologia molecular na NYU Dentistry, refere-se a estes neurotransmissores como "a moeda do sinal da dor". O novo composto demonstrou ser mais eficaz do que a gabapentina, um medicamento comummente utilizado, sem os efeitos secundários que o acompanham.
A gabapentina, que funciona através da ligação ao exterior do canal de cálcio (conhecido como Cav2.2), tem sido um elemento básico no tratamento da dor nos nervos e da epilepsia. No entanto, a sua utilização é frequentemente afetada por efeitos secundários significativos.
Khanna sublinhou a importância de desenvolver um tratamento eficaz da dor, minimizando simultaneamente estes efeitos secundários.
"Em vez de procurar diretamente alvos conhecidos para o alívio da dor, o nosso laboratório está concentrado em visar indiretamente proteínas que estão envolvidas na dor", afirmou.
A equipa de investigação, liderada por Khanna, concentrou-se numa proteína chamada CRMP2. Esta proteína desempenha um papel crucial na regulação do canal de cálcio Cav2.2, que é importante na resposta do organismo à dor.
Ao fazê-lo, descobriram um péptido, uma pequena parte da proteína CRMP2, que podia separar a CRMP2 do canal de cálcio. Isto reduziu a libertação de sinais de dor em estudos com animais.
Utilizar os péptidos como medicamentos é complicado
No entanto, o estudo refere que a utilização de péptidos como fármacos pode ser difícil porque não duram muito tempo e podem ser facilmente decompostos no estômago. Para resolver este problema, a equipa desenvolveu um medicamento de pequenas moléculas baseado num péptido chamado CBD3, derivado do CRMP2.
Em colaboração com a Universidade de Pittsburgh, utilizaram uma simulação informática para analisar 27 milhões de compostos e encontraram o CBD3063 como a melhor opção.
Em testes com modelos animais, verificou-se que o CBD3063 era eficaz na redução da dor causada por lesões, tendo mesmo um melhor desempenho do que o conhecido medicamento para a dor, a gabapentina, exigindo também doses mais baixas.
A equipa descobriu que o CBD3063 também funcionou bem no tratamento de diferentes tipos de dor crónica, como a dor causada pela quimioterapia, inflamação e dor nos nervos da face.
Uma grande vantagem do CBD3063 é o facto de não ter os efeitos secundários habituais da gabapentina, como a sonolência e as alterações do pensamento.
Os investigadores estão agora a aperfeiçoar a composição química do CBD3063 e a efetuar mais testes de segurança. O seu objetivo é testar eventualmente um medicamento baseado no CBD3063 em ensaios clínicos.
Khanna, que dedicou mais de 15 anos a esta investigação, espera que o CBD3063 seja uma melhor alternativa à gabapentina para o tratamento da dor crónica, o que representaria um grande avanço no domínio do tratamento da dor.