Molusco misterioso das profundezas do mar descoberto por robô na “zona da meia-noite” era difícil de definir, até agora

Os investigadores do Monterey Bay Aquarium Research Institute (MBARI) descobriram a lesma das profundezas através da utilização da sua tecnologia subaquática avançada.

O cientista sénior do MBARI Bruce Robison liderou a missão de descrever a misteriosa criatura e explicou que, como resultado, “conseguimos preparar a descrição mais completa de um animal de profundidade alguma vez feita. Investimos mais de 20 anos na compreensão da história natural desta fascinante espécie de nudibrânquio. A nossa descoberta é uma nova peça do puzzle que pode ajudar a compreender melhor o maior habitat da Terra”.

Foi originalmente observada por um veículo de operação remota (ROV) chamado Tiburon. Este robô subaquático mergulhou ao largo da Baía de Monterey, a uma profundidade de cerca de 2614 metros, em 2000. Um ROV como este difere dos veículos subaquáticos autónomos (AUVs), que são ativamente pilotados em tempo real por um operador, ao contrário dos AUVs que são normalmente pré-programados para as missões.

A tecnologia forneceu-lhes informações sobre os mistérios do molusco, mas seriam necessários mais avistamentos. Com o tempo, chegaram a obter 150 avistamentos com o ROV. Após duas décadas de investigações no oceano profundo, publicaram finalmente uma descrição pormenorizada do animal.

A sua definição acabou por ser difícil devido à sua aparência invulgar. A criatura tinha uma cauda com franjas, órgãos internos coloridos e uma estrutura substancial em forma de capuz numa das extremidades. Por isso, era difícil colocá-la em qualquer grupo animal. Com base no seu pé semelhante a um caracol, o animal mais próximo com o qual poderia estar relacionado é um caracol, pelo que o apelidaram de “molusco misterioso”.

Como surgiu o tipo de animal

Os cientistas tiveram de recolher cuidadosamente um espécime e analisá-lo em laboratório para aprofundar cientificamente a sua definição. Descobriram que, incrivelmente, se trata de um nudibrânquio - um grupo que inclui as lesmas-do-mar.

Os nudibrânquios são comuns em zonas costeiras, como poças de maré, recifes de coral e florestas de algas, embora alguns vivam em zonas profundas do mar. Este “molusco misterioso” em particular é o primeiro que se conhece a viver na coluna de água profunda do oceano - também conhecida como a zona da meia-noite do oceano. Trata-se de um ambiente expansivo de águas abertas que se estende de 1.000 a 4.000 metros abaixo da superfície.

É ainda mais peculiar o facto de, em comparação com outras lesmas-do-mar que usam a língua para se alimentarem das presas, esta criatura usar o seu capuz para as prender - um pouco à semelhança do que vemos na superfície terrestre nas plantas carnívoras que prendem as moscas. Mais estranho ainda, pode iluminar-se com bioluminescência para dissuadir os predadores quando se sente ameaçado. A visão deste fenómeno surpreendeu a equipa de investigação que se encontrava na sala de controlo do ROV.

O cientista sénior Steven Haddock refletiu que todos estavam “encantados com a visão”. Explicou que “só recentemente é que as câmaras se tornaram capazes de filmar a bioluminescência em alta resolução e a cores. O MBARI é um dos únicos locais do mundo onde levámos esta nova tecnologia para as profundezas do oceano, permitindo-nos estudar o comportamento luminoso dos animais das profundezas do mar no seu habitat natural”.

Curiosamente, o molusco misterioso é tecnicamente macho e fêmea e desce ao fundo do mar para desovar. Este animal das profundezas do mar não só cativou a imaginação da equipa científica que o observou ao longo das últimas duas décadas, mas agora o mundo. Mostra quantas mais descobertas estão à espera no oceano profundo e como este é um ambiente importante a proteger.

Referência da notícia:

Discovery and description of a remarkable bathypelagic nudibranch, Bathydevius caudactylus, gen. et. sp. nov. Deep Sea Research. DOI: 10.1016/j.dsr.2024.104414