Microclima na Ilha da Madeira
Os fenómenos naturais extremos podem causar graves desequilíbrios nas estruturas social, económica e ambiental de uma comunidade insular. Na Ilha da Madeira, os riscos considerados mais relevantes decorrem das condições meteorológicas e das características geomorfológicas da ilha.
A Região Autónoma da Madeira tem sofrido acidentes importantes, alguns dos quais originados ou agravados pela ação do Homem, com perdas de vidas humanas, alterações ambientais e avultados prejuízos materiais, o que justifica a abordagem com especial atenção por todos aqueles que gerem o território.
Os problemas mais comuns estão relacionados com as cheias rápidas, que, ao longo da história da Madeira, se têm revestido de aspetos trágicos. Estes eventos são provocados pelas chuvas torrenciais frequentes, sobretudo entre outubro e abril, e por vezes desastrosas, por originarem caudais de enorme poder erosivo e transportador, estando também na origem de grande parte dos movimentos de vertente, que, para além dos danos humanos e materiais, resultam na destruição dos solos e do coberto vegetal da ilha.
Estas situações extremas acontecem sobretudo devido ao microclima da Ilha da Madeira, sendo este fortemente influenciado pela situação geográfica da região, assim como a sua orografia.
Por norma, o Sul apresenta-se sempre como o lado mais quente da ilha. Quanto mais para o Norte, mais a temperatura desce, e no interior da Ilha, onde as zonas são mais altas, as temperaturas tendem a apresentar-se mais baixas e até com alguma precipitação. Há até quem lhe chame a ilha das 4 estações. O clima é determinado pelo anticiclone dos Açores. Em alguns dias do ano, um vento oriundo do Sahara - o Leste - faz com que a temperatura suba até aos 30 ºC, que juntamente com a humidade que paira no ar, tornam estes os dias mais quentes do ano.
Os sistemas depressionários que, no Inverno, atravessam o Atlântico e chegam à latitude da Madeira, ou os que se formam entre o arquipélago e Portugal Continental podem provocar precipitação copiosa, que quando ocorre num curto espaço de tempo, representa um elevado risco de movimentos de vertente e de cheias rápidas.
O efeito Foehn
No entanto, há uma forte variabilidade da precipitação, característica do próprio clima, mas também das convergências orográficas, uma vez que quando uma massa de ar encontra uma encosta, começa a subir a elevação, arrefece e condensa (efeito foehn).
Na Ilha da Madeira, onde os desastres atingem frequentemente grandes proporções, com perdas de vidas humanas, alterações ambientais e avultados prejuízos materiais, os riscos considerados mais relevantes são os decorrentes das condições meteorológicas e associados às características geomorfológicas da ilha, nomeadamente as cheias rápidas, os deslizamentos e desabamentos, e as tempestades.
Domingos Rodrigues, professor da Universidade da Madeira, na VI Conferência do Atlântico, afirma que as elevadas precipitações, acentuados declives e, cada vez mais, a influência do Homem, sobretudo com o abandono da agricultura e a edificação em zonas inadequadas, são os fatores antrópicos que mais influenciam os movimentos de vertente, o desastre natural que aponta como mais frequente na Ilha da Madeira.
Sendo as ilhas espaços que possuem um elevado grau de vulnerabilidade face aos eventos naturais, resultado, entre outros aspetos, da sua insularidade, o conhecimento acerca desses fenómenos assume particular importância.
Na realidade, os processos naturais extremos são um dos fatores que podem causar graves desequilíbrios em toda a estrutura económica e social de uma comunidade insular.