Mary Anning, a "Princesa da Paleontologia": conheça os seus incríveis contributos para a ciência que estuda os fósseis
Esta é a história de uma vida que teve tanto de incrível, como de trágico. De ávida caçadora de fósseis a exímia negociante, Mary Anning trouxe enormes contributos científicos para a Geologia e Paleontologia, sendo protagonista de um prestígio indelével nas páginas da História da Ciência.
Hoje amplamente aclamada pelos geólogos e pelos paleontologistas, Mary Anning nem sempre teve o prestígio e reconhecimento merecidos em relação ao inegável contributo que produziu para o mundo científico. No século XIX ser mulher num mundo em que a Ciência era dominada quase exclusivamente pelos homens revelou-se, logo à partida, como um grande entrave, sobretudo sendo pobre e pouco instruída.
No entanto, contrariando a maré do destino que cedo tragicamente parecia que lhe ia ser atribuído, Mary Anning galgou as barreiras impostas pelo género, da mesma forma que procurava avidamente cada fóssil descoberto pelas ondas nas praias de Inglaterra.
De simples caçadora de fósseis a um merecido lugar entre os nomes mais prestigiantes da Geologia
A “Princesa da Paleontologia”, designação pela qual Mary Anning ficou conhecida na sua época, nasceu a 21 de maio de 1799, em Lyme Regis, Dorset, Inglaterra e faleceu a 9 de março de 1847, em Lyme Regis. Anning foi uma frutífera caçadora de fósseis e anatomista amadora inglesa a quem se atribui a descoberta de vários espécimes de grandes répteis do Mesozóico, fulcrais para o lançamento dos alicerces iniciais da Paleontologia, enquanto disciplina científica.
As suas escavações foram também imensamente úteis para as carreiras de vários cientistas e estudiosos britânicos, providenciando-lhes espécimes para enquadrar e reconstruir uma parte significativa da história geológica da Terra. No mundo da Ciência houve quem tenha afirmado que os fósseis recuperados por Anning terão contribuído, parcialmente, para a teoria da evolução apresentada pelo célebre naturalista inglês Charles Darwin.
Como tudo começou: os primeiros anos de vida de Anning
Mary Anning foi um dos dois filhos sobreviventes do marceneiro e colecionador amador de fósseis Richard Anning e da sua mulher, Mary Moore. Uma das principais fontes de rendimento desta família que vivia em condições modestas consistia na venda de fósseis recolhidos nas falésias perto da sua casa, ao longo da costa do Canal da Mancha, em Inglaterra.
Após a morte de Richard, em 1810, a família passou a depender principalmente da caridade. Mary, o seu irmão Joseph e a sua mãe, que também eram colecionadores de fósseis, complementavam os seus escassos recursos através da venda de fósseis de invertebrados, como amonites e belemnites, a colecionadores e estudiosos.
Sete anos mais tarde, os fósseis atraíram a atenção do tenente-coronel britânico Thomas Birch, um famoso colecionador de fósseis, que se dispôs a ajudar financeiramente a família de Anning através da compra de alguns exemplares. Posteriormente, leiloou a sua coleção e doou os lucros à família de Mary num período particularmente desesperante das suas vidas.
As maiores descobertas de Anning
Em 1810, o primeiro espécime conhecido de Ictiossauro foi descoberto por Joseph Anning, irmão de Mary. Contudo, foi ela quem o escavou e algumas fontes também atribuem o crédito pela descoberta a Mary. Pouco tempo depois, o médico britânico Everard Home descreveu o espécime em vários artigos. O achado mais famoso de Anning teve lugar em 1824, quando descobriu o primeiro esqueleto intacto de Plesiossauro.
O espécime - enorme e em excelentes condições de preservação - atraiu a atenção de Georges Cuvier, um zoólogo francês que inicialmente duvidou desta descoberta, afirmando que era “fake”, até ver os desenhos do espécime num artigo do geólogo e paleontólogo inglês William Daniel Conybeare.
Quando Cuvier finalmente autenticou a descoberta, a comunidade científica começou a reconhecer o valor paleontológico dos fósseis escavados por Mary Anning e pela sua família.
Algumas das maiores descobertas protagonizadas por Mary Anning antes dos 30 anos de idade |
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Primeiro espécime conhecido de Ictiossauro. |
Primeiro esqueleto intacto de Plesiossauro. |
Pterossauro conhecido como Pterodactylus (ou Dimorphodon) macronyx. |
Squaloraja, peixe fóssil que pertencia a um grupo de transição entre tubarões e raias. |
Fonte: Britannica |
Em 1828, Mary descobriu um pterossauro que ficou conhecido como Pterodactylus (ou Dimorphodon) macronyx. Em termos geográficos, foi o primeiro exemplar de pterossauro encontrado fora da Alemanha. Um ano mais tarde escavou o esqueleto de Squaloraja, um peixe fóssil que os cientistas consideram pertencer a um grupo de transição entre os tubarões e as raias.
Aos poucos, as notícias sobre as escavações de fósseis de Anning tornaram-na uma celebridade, atraindo a comunidade científica (e não só) - paleontólogos, colecionadores e turistas - até Lyme Regis, apenas para lhe comprarem fósseis. Anning continuou a recuperar mais esqueletos de ictiossauro e plesiossauro das falésias.
Mary Anning, uma autêntica auto-didata que nem sempre recebeu o devido crédito pelas suas descobertas
Anning aprendeu sozinha geologia, anatomia, paleontologia e ilustração científica. Apesar da sua falta de formação científica formal, as suas descobertas, o seu conhecimento da área local e a sua capacidade de classificar os fósseis no terreno granjearam-lhe uma reputação entre os homens da paleontologia e, em grande parte, da classe alta.
Porém, alguns cientistas famosos da época, como o geólogo Henry De la Beche e o paleontólogo Gideon Mantell, ambos britânicos, atribuíram-lhe o crédito nos seus trabalhos.
Últimos anos de vida de Anning e o reconhecimento, em 2010, como uma das 10 mulheres cientistas mais influentes da História britânica
No final da sua vida, Mary Anning colecionou anuidades da Associação Britânica para o Avanço da Ciência e da Sociedade Geológica de Londres, que foram criadas em reconhecimento dos seus contributos para a ciência. Anning, diagnosticada com cancro da mama aos 46 anos, viu de repente alguns dos homens cientistas que até aí lhe vedavam a entrada na exclusiva Sociedade Geológica de Londres angariarem fundos para uma pequena pensão na qual poderia viver.
Dois anos mais tarde, após a sua morte por cancro da mama em 1847, o presidente da Sociedade Geológica de Londres elogiou-a no seu discurso anual, embora as primeiras mulheres só tenham sido admitidas em 1904. Em 2010, a Royal Society reconhece-a como uma das 10 mulheres cientistas mais influentes da história britânica.
Fontes e referências da notícia:Rafferty, John P.. "Mary Anning". Encyclopedia Britannica, 12 Jun. 2024.
Extra History. Mary Anning - Princess of Palaeontology - Extra History. YouTube. 2017.