Marte está a girar cada vez mais depressa... o dia marciano está a ficar mais curto!
Dados do módulo InSight da NASA confirmam que a rotação do planeta vermelho está a acelerar cerca de quatro milissegundos de arco por ano, o que implica uma redução de um milissegundo por ano no dia marciano. Quais as causas?
Marte está a reduzir a duração dos seus dias devido à aceleração da sua taxa de rotação, segundo dados obtidos pelo módulo InSight da NASA antes do fim da sua missão, em dezembro de 2022.
A sonda InSight, que esteve posicionada no solo marciano durante 915 dias terrestres (890 dias marcianos), utilizou ondas de rádio para estudar o seu interior até ficar sem energia no final do ano passado. Os resultados, publicados na Nature, confirmaram que a rotação do planeta vermelho está a acelerar cerca de quatro milissegundos de arco por ano.
Para rastrear a velocidade de rotação do planeta, os autores do estudo recorreram a um transponder de rádio e a antenas coletivamente designadas por Rotation and Interior Structure Experiment, ou RISE.
"É realmente fantástico poder obter esta última medição, e com tanta precisão", disse o investigador principal da InSight, Bruce Banerdt, do Laboratório de Propulsão a Jato da NASA, no sul da Califórnia. "Há muito tempo que estou envolvido nos esforços para levar uma estação geofísica como a InSight a Marte, e resultados como este fazem com que todas esas décadas de trabalho valham a pena".
Quais poderão ser as causas de Marte estar a girar cada vez mais depressa?
A aceleração é muito subtil e os cientistas não têm a certeza absoluta da causa. No entanto, têm algumas hipóteses, incluindo a acumulação de gelo nas calotes polares ou a recuperação pós-glaciar, em que as massas de terra sobem depois de terem sido enterradas pelo gelo.
Os autores do estudo também utilizaram os dados do RISE para medir a oscilação de Marte, designada por nutação, devido ao turbilhão do seu núcleo líquido. A medição permite aos cientistas determinar o tamanho do núcleo: de acordo com os dados do RISE, o núcleo tem um raio de cerca de 1.835 quilómetros.
Os autores compararam então este valor com duas medições anteriores do núcleo obtidas a partir do sismómetro da nave espacial. Especificamente, analisaram a forma como as ondas sísmicas viajavam pelo interior do planeta, refletindo-se no núcleo ou atravessando-o sem obstáculos.
Tendo em conta as três medições, estimam que o raio do núcleo se situe entre os 1.790 e os 1.850 quilómetros. Marte como um todo tem um raio de 3.390 quilómetros, cerca de metade do tamanho da Terra.
"Os dados do RISE indicam que a forma do núcleo não pode ser explicada apenas pela sua rotação", disse o segundo autor do artigo, Attilio Rivoldini do Observatório Real da Bélgica. "Esta forma requer regiões de densidade ligeiramente superior ou inferior enterradas nas profundezas do manto".