“Luzes de terramoto”: que fenómeno é este?
Durante alguns terramotos noturnos, como o que aconteceu durante a madrugada de segunda-feira (6) entre a Turquia e a Síria, aparecem luzes no céu que impactam qualquer pessoa. Aqui dizemos-lhe do que se trata!
No dia de ontem (6) acordamos com a notícia de um terramoto de magnitude de 7,8 na escala de Richter perto da fronteira da Turquia com a Síria. Até ao momento, mais de 2300 pessoas já foram dadas como mortas e o número de vítimas poderá aumentar ainda ao longo dos dias.
Este é o terramoto mais intenso a atingir a Turquia desde 1939, sendo responsável por tamanha devastação. Segundo Roger Musson, da British Geological Survey, tal devastação deve-se ao facto das pessoas terem ficado “presas quando as suas casas desabaram” enquanto dormiam, às 04h17.
Durante este tipo de episódios mais pesarosos, há inúmeros relatos que dão conta das luzes coloridas no céu, que impactam quem as vê. Essas luzes aparecem apenas durante os terramotos noturnos e são designadas por “luzes de terramoto”. Embora muitas pessoas associem estas luzes à explosão de transformadores de luz, a realidade é que a intensidade não é a mesma.
Triboluminescência ou “Luzes de Terramoto”
Este fenómeno de luzes ocorre durante, ou horas antes, de alguns terramotos noturnos e pode ser designado por triboluminescência ou, como é mais comummente conhecido, “luzes de terramoto”. A primeira vez que foram documentadas foi em 1600, aponta a Seismological Society of America.
Segundo investigadores da Rutgers University, nos Estados Unidos, os flashes de luz ocorrem porque deslocações de terra perto de falhas geológicas acabam por gerar uma determinada carga elétrica. Tais resultados foram apresentados na reunião da American Physical Society, em 2014, pelo engenheiro biomédico Troy Shinbrot. O seu laboratório criou um modelo em miniatura das tensões, deformações e ruturas que ocorreram durante o terramoto, capazes de gerar relâmpagos no céu.
Esteban Quintero, coordenador dos Serviços Geofísicos do Instituto de Geofísica da UNAM, assinalou também num artigo para a Gaceta UNAM que a triboluminescência se deve ao facto de rochas da crosta terrestre, como o basalto ou o gabro, apresentarem imperfeições nos seus cristais, e ao serem atingidos por uma onda sísmica, o atrito que é gerado entre as rochas liberta cargas elétricas mais intensas.
Essas cargas são lançadas à superfície em grande velocidade, contribuindo para as descargas elétricas e luminosas que se manifestam no ar. Nessas ocasiões, ao olharmos para o céu é possível vermos “luzes de terramoto”, que geralmente são observáveis com cores como o azul, o vermelho, o amarelo, o verde e até o branco.
É comum ou trata-se de um fenómeno raro?
A ocorrência da triboluminescência associada a terramotos não é muito comum, mas há vários relatos em notícias e vídeos a documentar a sua ocorrência. Em 1906, dois dias antes do terramoto de São Francisco (Estados Unidos da América), um casal avistou raios de luz no chão. Em 1988, no Quebec, Canadá, foram avistadas luzes cor-de-rosa e roxas 11 dias antes do tremor de terra.
Mais recentemente, em 2007, no Pisco, no Peru, raios de luzes foram registados por câmaras de segurança durante um terramoto de magnitude de 8,0. Em Itália, na região de Abruzzo, em 2009, residentes viram luzes no centro histórico da cidade de L'Aquila segundos antes do terramoto.
Em 2011, no Japão, foram postados no Youtube esferas luminosas no contexto do terramoto, seguido de tsunami de Fukushima. Algo semelhante foi noticiado também, em setembro de 2017, no terramoto de magnitude 7,1, que atingiu Acapulco de Juarez, no sul do México. Algo semelhante aconteceu agora decorrente do terramoto da Turquia-Síria.
Um aviso que pode evitar desastres
Ainda não se conseguiu descobrir por que esta carga ocorre ou a razão pela qual estas luzes aparecem, de quando em vez, precedendo ou simultaneamente a um terramoto.
O que é um facto é que nem todos os grandes terramotos são precedidos deste tipo de fenómeno, mas há alguma correlação com terramotos com magnitude igual ou superior a 5 na escala de Richter. De qualquer forma, estes sinais de alerta são importantes e podem ajudar a prevenir eventuais desastres. A título de exemplo, durante o terramoto de L'Aquila, um indivíduo terá levado a sua família para um local seguro após ter avistado flashes dentro da sua habitação duas horas antes do terramoto.
Com base nestas evidências, são vários os projetos que estão a ser lançados para observar e registar as luzes nas áreas mais vulneráveis a movimentos sísmicos.