Investigadores revelam como as nossas emoções influenciam a memória
As emoções melhoram a recordação da memória, em particular dos pormenores contextuais, em vez de a dificultarem, afirmam os cientistas num estudo controverso.
A investigação sobre o impacto das nossas emoções na memória é certamente uma área de estudo muito fascinante. Há quem diga que as emoções podem interferir com a fluidez do pensamento e desfocar a memória, em particular os pormenores mais complexos.
No entanto, a investigação levada a cabo pelos dedicados investigadores do Beckman Institute for Advanced Science and Technology (Urbana, Illinois), revela provas do contrário, mostrando que as emoções enquadram a nossa memória, permitindo aos indivíduos captar pormenores contextuais.
A complexa interação entre as emoções e a memória
Num estudo publicado em 2020, investigadores da Universidade de Columbia propuseram-se registar a atividade neuronal no hipocampo e na zona do cérebro que regista o medo, quando submeteram ratos a ambientes assustadores. Os investigadores observaram a transmissão de sinais neuronais do hipocampo para a amígdala, o que era expectável. No entanto, a surpresa veio quando o rato recordou essa memória porque os disparos dos neurónios nas respetivas regiões cerebrais estavam sincronizados.
Os investigadores afirmaram que a sincronia é essencial para consolidar a memória do medo e que quanto mais forte for a sincronia, mais potente é a memória. Este estudo (entre outros) demonstra o papel importante que as emoções desempenham no registo e na recordação de memórias.
Emoções e a recordação de pormenores contextuais
A investigação destacada neste artigo centra-se em três estudos associados que investigam o impacto das emoções na memória e na atenção. Os investigadores procuraram compreender a influência das emoções na atenção, nomeadamente em circunstâncias emocionais em que os indivíduos tendem a concentrar-se em acontecimentos importantes e a ignorar pormenores periféricos.
Para o efeito, os investigadores integraram dados comportamentais, de atenção e de imagiologia neurológica. Durante estas experiências emocionais, seguiram os movimentos oculares dos participantes utilizando o rastreio ocular baseado na webcam e monitorizaram a atividade cerebral e a concentração da atenção dos participantes utilizando a ressonância magnética funcional (fMRI).
De acordo com a investigação, as emoções melhoram a recordação. As imagens de fMRI revelaram uma maior interação entre as áreas cerebrais responsáveis pela recordação e pelo processamento das emoções. Esta descoberta refuta noções preconcebidas e realça a forma como o envolvimento emocional pode melhorar a consciência do contexto ao recordar memórias.
Os resultados do estudo têm ramificações importantes para melhorar o bem-estar e tratar doenças como a perturbação de stress pós-traumático (PTSD), que está ligada à descontextualização da memória. Através do desenvolvimento de técnicas que ajudem à recontextualização da memória, o estudo poderá fornecer as bases para um tratamento que ajude a diminuir os fatores desencadeantes associados ao trauma.
Para além disso, ao encorajar a concentração na informação central e periférica, estes conhecimentos têm aplicações mais amplas para melhorar a memória, particularmente em pessoas idosas. Esta estratégia, que sublinha que ter uma mentalidade centrada na recordação pode melhorar a memória mesmo em condições de stress, pode ajudar a minimizar a perda de memória associada à idade.
Referência da notícia:
Bogdan, P. C., Dolcos, F., Katsumi, Y., et al. Reconciling opposing effects of emotion on relational memory: Behavioral, eye-tracking, and brain imaging investigations (2024) Journal of Experimental Psychology: General