Inundações costeiras terão impacto desproporcionado à escala global

31 milhões de pessoas que vivem em deltas de rios correm o risco elevado de sofrer inundações e outros impactos de ciclones tropicais amplificados pelas alterações climáticas, segundo um estudo realizado por investigadores da Universidade de Indiana. Contamos-lhe mais aqui!

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As inundações costeiras e as marés ciclónicas podem colocar em risco milhões de pessoas que vivem em deltas de rios.

Mais de 30 milhões de pessoas que residem em deltas de rios correm o elevado risco de sofrer inundações costeiras, entre outros possíveis impactos derivados de ciclones tropicais e das alterações climáticas. De acordo com Douglas Edmonds, autor principal de um estudo resultante da colaboração entre o Instituto de Estudos Avançados da Universidade do Indiana (UI) e o Instituto de Resiliência Ambiental, “os deltas dos rios são há muito reconhecidos como focos de crescimento populacional, e com os impactos crescentes das alterações climáticas, apercebemo-nos da necessidade de quantificar corretamente quais são os riscos cumulativos nos deltas dos rios".

A análise efetuada pela equipa liderada por Douglas Edmonds, mostra que os deltas dos rios ocupam apenas 0,5% da superfície terrestre, no entanto contêm 4,5% da população global, um total de 339 milhões de pessoas. Os deltas dos rios formam-se no oceano, ao nível do mar ou abaixo dele, e por isso são altamente propensos a marés ciclónicas, que se espera que ocorram com maior frequência devido à subida do nível do mar provocada pelas alterações climáticas e às inundações costeiras.

Os investigadores da UI analisaram estas regiões geográficas, que incluem cidades como Nova Orleães, Banguecoque, e Xangai para determinar: quantas pessoas vivem em deltas dos rios; quantas são vulneráveis a um evento de maré ciclónica, e a capacidade dos deltas para mitigar naturalmente os impactos das alterações climáticas.

Para agravar a situação, 92% dos 31 milhões de pessoas que residem em planícies de inundação vulneráveis a marés ciclónicas, pertencem a economias em desenvolvimento ou menos desenvolvidas

A vulnerabilidade das comunidades que residem em deltas

Para além da ameaça de inundações, muitos dos residentes nos deltas dos rios possuem baixos rendimentos e estão expostos à poluição da água, do solo e do ar, de infraestruturas habitacionais pobres e em condições frágeis, tendo acesso limitado aos serviços públicos. De acordo com o estudo, dos 339 milhões de pessoas que vivem em deltas em todo o mundo, 31 milhões destas pessoas vivem em planícies de inundação vulneráveis a marés ciclónicas. Para piorar a situação, 92% dos 31 milhões vivem em economias em desenvolvimento ou menos desenvolvidas.

Deltas de rios; litoral; comunidades
Os deltas dos rios constituem um enorme desafio para a prevenção das inundações costeiras.

Os deltas dos rios constituem um enorme desafio para a prevenção das inundações costeiras, pelo que merecem mais atenção para os impactos futuros das alterações climáticas. Segundo Eduardo Brondizio, professor de Antropologia e co-autor do estudo, "estas comunidades já estão a lidar com riscos de saúde, falta de saneamento e serviços, pobreza, e exposição a inundações e outros riscos ambientais. As alterações climáticas estão a exacerbar todas estas questões e a criar mais impactos".

Décadas de engenharia expandiram a área de terra habitável dos deltas dos rios, mas também privaram as regiões dos sedimentos que evitam as cheias. Sem que os sedimentos sejam renovados naturalmente, as linhas costeiras continuarão a regredir, agravando os impactos das marés ciclónicas.

Os impactos desproporcionados das inundações costeiras

A conclusão principal deste estudo é que “para nos prepararmos eficazmente para futuras inundações costeiras mais intensas, precisamos de o reenquadrar como um problema que tem um impacto desproporcionado sobre os deltas dos rios nas economias em desenvolvimento e menos desenvolvidas", disse Edmonds.

Vão ser necessários melhores modelos para os impactos climáticos que sejam capazes de simular inundações em áreas densamente povoadas. Só dessa forma a exposição e o risco poderão ser mapeados para uma avaliação mais precisa do risco e da vulnerabilidade.