Influência do calor extremo na saúde
São muitos os estudos que relacionam os episódios de altas temperaturas, especialmente as ondas de calor -cada vez mais extremas e que afetam cada vez mais áreas -, com o aumento associado das taxas de mortalidade. Os idosos são um dos grupos mais vulneráveis.
Da longa lista de impactos das alterações climáticas, um deles afeta-nos muito diretamente: o da exposição prolongada a temperaturas elevadas, com o consequente impacto negativo na saúde. A relação entre as ondas de calor e o aumento da mortalidade é bem conhecida há já algum tempo, e há um grande número de estudos que a abordam em pormenor no contexto atual do aquecimento global. À medida que a baixa atmosfera e a superfície dos oceanos se tornam mais quentes, o número de ondas de calor aumenta, tornando-se maior em magnitude e afetando mais áreas da Terra, muitas delas densamente povoadas.
Tendo em conta as projeções climáticas, mesmo nos cenários mais favoráveis (os de muito baixas e de baixas emissões), é previsível que o calor extremo aumente nos próximos anos, forçando-nos a adaptar-nos o melhor possível ao impacto que as temperaturas mais elevadas terão nas nossas vidas.
A fim de evitar que as taxas de mortalidade disparem, temos de jogar o trunfo das medidas preventivas, bem como conseguir o acesso universal aos sistemas de aviso precoce, para que qualquer cidadão em qualquer país receba atempadamente o aviso de uma onda de calor que o possa afetar em cheio. A este respeito, a Organização Meteorológica Mundial está empenhada em assegurar que os sistemas de aviso cheguem a toda a população mundial dentro de 5 anos.
Muitos fatores estão envolvidos no estudo da relação entre as altas temperaturas e a mortalidade associada. Um deles é geográfico. A mesma temperatura não tem o mesmo impacto nas pessoas de uma região do mundo como tem noutra. Atingir 38 °C numa localidade siberiana (como foi o caso em Verkhoyansk em junho de 2020) não é o mesmo que atingir 38 °C no Médio Oriente, onde esse valor é ultrapassado em muitos dias do ano. Por outro lado, dentro da mesma região ou país também existem diferenças significativas, que são tidas em conta ao estabelecer o limiar de temperaturas a partir do qual dispara o número de admissões em salas de emergência hospitalares, com condições ligadas à exposição ao calor intenso.
Grupos vulneráveis ao calor extremo
Os efeitos na saúde também variam em função das circunstâncias em que a pessoa é exposta a temperaturas elevadas, do seu estrato social e do grupo de risco a que pertence. Qualquer pessoa, a priori, pode ser afetada por uma insolação. Este é o nome dado à desordem causada pelo sobreaquecimento do corpo humano como resultado da exposição prolongada a calor intenso. Ocorre quando a temperatura corporal atinge 40 °C, o que desencadeia falhas em cadeia em vários órgãos devido à perda da capacidade de termorregulação. O organismo é incapaz de eliminar o excesso de calor, desidrata e desmaia. Em tais circunstâncias, o risco de morte é muito elevado.
Da população como um todo, existem grupos bem identificados que são mais vulneráveis ao impacto das altas temperaturas. Um deles são os idosos, particularmente os que vivem em grandes cidades. Em muitos casos, estes idosos vivem sozinhos (muitos deles mulheres viúvas), em habitações mal adaptadas às ondas de calor, que, como estamos a ver, já não ocorrem apenas no verão, e onde as temperaturas anormalmente elevadas - tanto diurnas como noturnas - estão a tornar-se cada vez mais extremas.
Embora as medidas para combater o calor intenso da melhor maneira possível se repitam com insistência (boa hidratação, evitar sair à rua a meio do dia, manter as nossas casas frescas...), as doenças cardiovasculares e respiratórias fazem-se sentir num número variável de idosos de cada vez que uma onda de calor rebenta.
As estatísticas confirmam isto, se bem que, desde que a histórica onda de calor na Europa no verão de 2003 fez disparar as taxas de mortalidade de forma extraordinária (estima-se que 70.000 pessoas morreram direta ou indiretamente em resultado das altas temperaturas, sendo a França o país com o maior número de mortos), as medidas de prevenção, adaptação e os sistemas de avisos salvaram muitas vidas desde então.
Para além dos idosos, existem outros grupos muito vulneráveis às ondas de calor, tais como pessoas cuja atividade laboral envolve trabalho físico ao ar livre, sendo o exemplo mais ilustrativo um trabalhador da construção civil ou manutenção de estradas. A regulação do seu horário de trabalho, não só no verão mas também quando se espera um episódio muito destacado de calor, é a chave para evitar os temidos golpes de calor neste grupo. As pessoas obesas, as crianças e aqueles que sofrem de doenças crónicas suscetíveis de agravamento pela ação implacável do calor extremo também são muito vulneráveis.