Indonésia lidera o consumo global de microplásticos, revela estudo da Universidade Cornell

Indonésios consomem 15 gramas de microplásticos por mês, enquanto a média global é de 3,8 gramas. A inalação também é preocupante, com a China e a Mongólia a liderarem a lista.

Estudo da Universidade Cornell mapeou a ingestão de microplásticos em 109 países a nível mundial e identificou os principais consumidores de plástico.

Um novo estudo, conduzido por investigadores da Universidade Cornell, mapeou a ingestão de microplásticos em 109 países, revelando que a Indonésia lidera o ranking do consumo alimentar destes contaminantes. O trabalho, publicado na revista Environmental Science & Technology, estima a quantidade de microplásticos que as pessoas ingerem e inalam involuntariamente, devido à degradação e dispersão de detritos plásticos não tratados no ambiente.

Estudo avalia hábitos alimentares e a concentração de microplásticos em subcategorias

Para calcular o consumo de forma holística, o estudo considerou os hábitos alimentares de cada país, tecnologias de processamento de alimentos, dados demográficos por grupos etários e as taxas de respiração – fatores que influenciam a variação no consumo de microplásticos pela população.

“A ingestão de microplásticos a nível nacional é um indicador crítico da poluição por plásticos e dos riscos para a saúde pública”, afirma Fengqi You, co-autor do estudo e Professores Roxanne E. e Michael J. Zak. “O mapeamento global apoia os esforços locais de mitigação da poluição através do controlo da qualidade da água e da reciclagem eficaz de resíduos”.

O estudo avaliou também a ingestão alimentar compilando dados sobre a concentração de microplásticos em subcategorias dos principais grupos alimentares, como frutas, legumes, proteínas, cereais, laticínios, bebidas, açúcares, sal e especiarias.

Os modelos também utilizaram dados sobre o consumo destes alimentos em diferentes países. Por exemplo, o consumo de sal de mesa per capita é aproximadamente igual na Indonésia e nos Estados Unidos, mas a concentração de microplásticos no sal indonésio é 100 vezes superior.

No geral, o estudo indica que os indonésios consomem aproximadamente 15 gramas de microplásticos por mês (a quantidade mais elevada a nível global), sendo a maioria das partículas provenientes de fontes aquáticas, como o marisco. Este valor representa um aumento de 59 vezes no consumo diário de microplásticos entre 1990 e 2018, período utilizado nos modelos. A ingestão alimentar de microplásticos nos Estados Unidos é estimada em 2,4 gramas por mês, enquanto o Paraguai apresenta o valor mais baixo (0,85 gramas).

China e Mongólia lideram a lista, com mais de 2,8 milhões partículas ingeridas

Os dados sobre a concentração de microplásticos no ar, dados demográficos etários e taxas de respiração humana foram usados para calcular a quantidade de microplásticos inalados. A China e a Mongólia lideram a lista, com os residentes a inalarem mais de 2,8 milhões de partículas por mês. Nos Estados Unidos, a inalação é estimada em 300000 partículas por mês. Apenas os residentes na região do Mediterrâneo e áreas circundantes apresentam valores inferiores, com países como Espanha, Portugal e Hungria a registarem uma inalação entre 60000 e 240000 partículas por mês.

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“A industrialização nas economias em desenvolvimento, particularmente no leste e sul da Ásia, levou a um aumento do consumo de materiais plásticos, da geração de resíduos e da ingestão de microplásticos. Por outro lado, os países industrializados estão a viver uma tendência inversa, apoiada por maiores recursos económicos para reduzir e remover detritos plásticos livres”, afirma You, investigador sénior no Centro Cornell Atkinson para a Sustentabilidade.

O estudo realça ainda a importância na criação de estratégias de redução da ingestão de microplásticos adaptadas às realidades económicas e industriais locais. No entanto, tais esforços requerem colaboração internacional, incluindo o apoio tecnológico de países desenvolvidos para promover estratégias de redução de resíduos.

De acordo com o estudo, uma redução de 90% nos detritos plásticos aquáticos poderia conduzir a diminuições substanciais na exposição a microplásticos, potencialmente até 51% nos países desenvolvidos e 49% nas regiões em forte industrialização.

Colaboração internacional definida no Tratado da ONU necessita de ser reforçada

A publicação do estudo surge na sequência de uma reunião, realizada entre 23 e 29 de abril, de um comité internacional que negoceia o Tratado da ONU sobre Plásticos, um acordo juridicamente vinculativo que estabeleceria regras globais em torno da produção e eliminação de plástico. É expectável que o término do acordo ocorra no final deste ano, focando a colaboração internacional para reduzir os microplásticos no ambiente marinho.

“A limpeza do sistema global de águas superficiais é uma maratona influenciada por configurações industriais e socioeconómicas locais”, afirma Zhao.

Nesta senda, várias soluções que já vêm sendo apontadas ao longo dos anos, designadamente a utilização de embalagens sustentáveis e biodegradáveis, têm de começar a fazer parte do dia-a-dia dos cidadãos a nível mundial, reforçando-se a atenção sobre os problemas ambientais decorrentes do consumo excessivo de plástico na indústria.


Referência da notícia:
hao, X., & You, F. (2024). Microplastic Human Dietary Uptake from 1990 to 2018 Grew across 109 Major Developing and Industrialized Countries but Can Be Halved by Plastic Debris Removal. Environmental Science & Technology, 58(20), 8709-8723.