Os incêndios florestais como causadores de tempestades severas

Não é novidade que os incêndios florestais podem causar tempestades (trovoadas), mas a intensidade dos incêndios, bem como a intensidade das tempestades consequentes neste ano estão a surpreender a comunidade cientifica. Fique a saber tudo sobre este assunto connosco!

Incêndio.
Nuvem de fumo em formação, numa fase inicial de um incêndio que afetará a atividade agrícola e a mancha florestal.

No início do milénio, cientistas americanos do Naval Research Laboratory (NRL) da Marinha Americana comprovaram, pela primeira vez, que as colunas de fumo emitidas para a atmosfera, resultantes dos incêndios florestais, poderiam gerar tempestades de grandes dimensões, lançando fumo e fogo a altitudes superiores à altitude de cruzeiro da aviação comercial (36 mil pés, aproximadamente 11 km).

Antes dos anos 2000, os cientistas acreditavam que apenas eventos extremos como tempestades atmosféricas com trovoadas intensas e erupções vulcânicas de grande escala conseguiam elevar materiais a tamanha altitude. No entanto, a partir dessa data, os cientistas conseguiram perceber que os incêndios florestais também poderiam ser responsáveis pela criação de “pirocumulonimbus” (ou piroCb), conhecidas igualmente como “nuvens cuspidoras de fogo”.

Com os incêndios florestais a serem cada vez mais numerosos e intensos, os piroCb’s são cada vez mais frequentes e podem ter impactes na distribuição da temperatura e no clima a nível global.

Cada vez mais cientes do comportamento deste tipo de nuvens e das tempestades associadas, os cientistas não deixam de estar surpreendidos com o comportamento cada vez mais extremo destes eventos, com especial expressão no último verão do Hemisfério Sul e no verão corrente no Hemisfério Norte. Aliás, os últimos exemplos deste tipo de tempestades verificaram-se na América do Norte, no final de junho e no início de julho deste ano, aquando da ocorrência de vagas sucessivas de calor que criaram grandes incêndios florestais nas florestas norte americanas e canadianas.

Desde o início do ano, cientistas do NRL e da NASA, utilizando dados de satélites meteorológicos, bem como de outros satélites, já identificaram 61 piroCb’s na América do Norte, sendo que essa região está apenas a meio da época de incêndios. O pico de atividade registou-se no dia 16 de julho, quando se registaram 10 piroCb’s no mesmo dia, na fronteira entre as províncias de Saskatchewan e Manitoba, no Canadá.

Este dia recorde procedeu um outro evento, denominado “piroCb monstro”, que ocorreu no dia 30 de junho no Oeste do Canadá, onde uma célula de tempestade se espalhou por uma área superior a 160 km2 alimentada pelos intensos incêndios florestais que lavravam na região, lançando fumo a uma altitude de 16 km.

Efeitos dos pirocumulonimbus nas condições atmosféricas e nos incêndios florestais

A nuvem avistada no dia 30 de junho foi a maior pirocumulonimbus jamais registada na América do Norte, tendo gerado mais de 113 mil descargas elétricas (raios). Esta trovoada intensa é extremamente incomum nesta região, sendo que este evento em específico gerou cerca de 5% do total dos relâmpagos anuais no Canadá.

Este tipo de nuvens tem como característica única o facto de as partículas de fumo limitarem o tamanho das gotículas de água, assim sendo, este tipo de eventos produz muito pouca precipitação, ou seja, produz as chamadas “trovoadas secas”. Com estas características, a ocorrência de trovoadas pode potenciar a criação de mais focos de incêndio, acelerando a propagação dos eventos existentes. É de salientar que os dois momentos anteriormente descritos ocorreram quando as temperaturas no Canadá e nos Estados Unidos da América atingiram valores recorde.

Com os incêndios florestais a serem cada vez mais numerosos e intensos, os piroCb’s são cada vez mais frequentes e podem ter impactes na distribuição da temperatura e no clima a nível global. Por um lado, há a preocupação em manter a população, os agentes de proteção civil e a aviação seguros durante a sua atividade. Por outro, a chegada de partículas de fumo a camadas superiores da atmosfera (estratosfera) pode formar uma espécie de “chapéu” enorme, tendo consequentemente um efeito de arrefecimento em áreas específicas do globo.