Impacte de aeronave espacial a 15.000 km/h não impede deteção de vida em luas geladas
Uma investigação recente da Universidade da Califórnia San Diego revelou que aeronaves espaciais em alta velocidade podem atravessar áreas geladas de luas distantes, detetando substâncias orgânicas como aminoácido.
No campo avançado da investigação que procura sinais de vida em planetas e luas distantes, cada detalhe pode ser crucial. Um estudo recente da Universidade da Califórnia San Diego revelou que, mesmo a alta velocidade de uma espaçonave a atravessar áreas geladas de uma lua distante, não impediria a deteção de substâncias orgânicas, como aminoácidos.
Velocidades espaciais incríveis revelam detalhes cruciais na procura por vida em luas geladas
Os cientistas explicam, num artigo publicado na PNAS, os detalhes inerentes aos resultados de sua investigação, onde se realça que a procura por vida extraterrestre, especialmente no nosso sistema solar, é uma das maiores empreitadas da Humanidade. As luas geladas de Encélado, em Saturno, e Europa, em Júpiter, são particularmente promissoras, pois apresentam evidências dos três critérios essenciais: água, energia e compostos orgânicos. Ambas as luas libertam material dos seus oceanos subsuperficiais com pequenas partículas geladas.
Estas pequenas partículas de gelo oferecem condições ideais para que uma nave espacial as atravesse e levante amostras para análise. Diversas missões foram propostas ao longo dos anos, incluindo um projeto financiado por fundos privados, designado de Breakthrough Enceladus. Do mesmo modo, a sonda Cassini realizou o seu próprio levantamento da pulverização gelada há mais de uma década.
No entanto, sabe-se agora que aeronaves espaciais a viajarem a velocidades incríveis, atingindo entre 4 e 5 quilómetros por segundo durante um sobrevoo, o que equivale a mais de 15.000 quilómetros por hora, podem detetar a vida em luas geladas. A questão crucial prendia-se com o facto de verificar se substâncias orgânicas, como aminoácidos, poderiam sobreviver a um impacte tão intenso.
A resposta não estava clara no caso da Cassini, já que "velocidades elevadas causaram ambiguidade quanto à origem e identidade dos compostos orgânicos", conforme relatado pela equipa de investigação.
Cientistas validam método de amostragem orbital em alta velocidade para detetar vida em luas geladas
Para superar esta incerteza, os cientistas decidiram recriar o impacte em laboratório. Com a utilização de espectrómetros, a equipa criou as suas próprias partículas geladas de 800 nanómetros. Em seguida, aceleraram estas partículas numa velocidade até 4,2 km/s antes de colidir com um alvo.
Os resultados foram impressionantes. Os cientistas afirmam que "aminoácidos transportados em grãos de gelo podem ser detetados de modo intacto após o impacte a velocidades até 4,2 km/s, validando as previsões de outros sistemas de modelos".
Estes resultados estabelecem um padrão para o método de amostragem orbital, mostrando a sua eficácia na deteção de sinais de vida e ao fornecer uma base para a interpretação de dados passados e futuros.
Estas evidências científicas são um marco significativo na exploração espacial, destacando a viabilidade de levantar e analisar amostras de luas geladas em alta velocidade, sem comprometer a deteção de possíveis formas de vida. Além disso, a investigação lança luz sobre a complexidade e a promessa do que estes corpos celestes gelados podem conter, ao aumentar ainda mais o entusiasmo em torno da exploração espacial e da procura por vida extraterrestre.
Os avanços científicos enunciados reforçam a importância de explorar o sistema solar na procura de vida, ao identificar caminho para futuras missões e desvendar os mistérios que estes mundos gelados podem conter.
Referência da notícia:
Burke, S. E., Auvil, Z. A., Hanold, K. A., & Continetti, R. E. (2023). Detection of intact amino acids with a hypervelocity ice grain impact mass spectrometer. Proceedings of the National Academy of Sciences, 120(50), e2313447120.