Ilhas de calor urbanas têm desvantagens, mas também benefícios para os habitantes das cidades

Um estudo científico publicado na revista Nature avaliou os impactos benéficos e prejudiciais do facto de as cidades terem temperaturas ambiente mais elevadas do que as zonas rurais circundantes, ou seja, do efeito da ilha de calor urbana.

Ilha de calor
A ilha de calor é causada pela concentração de estruturas artificiais, como edifícios, calçadas e asfalto, que absorvem e reúnem mais calor do que as áreas naturais circundantes.

O efeito da ilha de calor urbana pode aumentar a mortalidade nas estações quentes, mas os seus potenciais benefícios para a saúde durante os períodos de frio são frequentemente ignorados.

Ilhas de calor urbanas – impactos benéficos e prejudiciais

O efeito de ilha de calor urbana contribui para um aumento da exposição humana ao calor e eventualmente morte a nível mundial durante as estações mais quentes. No entanto, este fenómeno também pode ter impacto na taxa de mortes relacionadas com o frio em condições mais frias.

Este duplo impacto pode variar consoante as regiões e as estações, mas o estudo publicado recentemente na Nature centrou-se no efeito à escala local.

Os autores do estudo analisaram várias fontes de dados, incluindo dados de deteção remota e fatores climáticos e socioeconómicos, como o Produto Interno Bruto, para estabelecer relações entre mortalidade e temperatura em mais de 3000 cidades de todo o mundo, bem como as estratégias de arrefecimento associadas à mortalidade relacionada com a temperatura.

O estudo concluiu que a redução da mortalidade relacionada com o frio sob o efeito da ilha de calor urbana é 4,4 vezes maior do que o aumento da mortalidade relacionada com o calor.

O estudo revelou ainda que as cidades em latitudes elevadas registaram uma redução ainda maior, como foi o caso de Moscovo, por exemplo, que registou uma redução de mortes relacionadas com o frio 11,5 vezes superior às associadas ao calor.

Estratégias específicas por região e por estação do ano para atenuar o efeito de ilha de calor urbana

No contexto das alterações climáticas e da rápida urbanização, é importante compreender o impacto mais alargado do efeito da ilha de calor urbana nas mortes relacionadas com o calor e com o frio para as estratégias de mitigação do calor urbano.

Os autores do estudo analisaram ainda o papel do aumento da vegetação e da refletividade dos edifícios, albedo, que são estratégias atuais para atenuar o efeito de ilha de calor urbana.

Telhados revestidos
Há cidades que utilizam a vegetação a cobrir os telhados para diminuir o calor.

Tornando as cidades mais ecológicas, manutenção de parques e plantação de árvores, e os telhados frios, pintados de branco, são intervenções que também reduzem o aumento do calor nas cidades e estão associados a uma redução da mortalidade relacionada com o calor.

No entanto, os autores verificaram que estas estratégias podem resultar num aumento de mortes relacionadas com o frio que ultrapassa as mortes relacionadas com o calor a nível global, dependendo da magnitude da intervenção e da estação do ano em que é implementada.

O estudo sugere assim que as cidades devem adotar uma abordagem sazonal para atenuar o efeito de ilha de calor urbana.

O estudo aponta o facto das estratégias de arrefecimento urbano amplamente implementadas, incluindo infra-estruturas verdes e refletoras, poderem ter um efeito adverso nas cidades de latitude elevada, mas beneficiam algumas cidades tropicais.

Deste modo são propostos ajustes sazonais ao albedo do telhado como uma estratégia acionável para reduzir a mortalidade relacionada com o calor e o frio.

Por exemplo, a cidade de Copenhaga, plantou árvores de folha caduca que oferecem sombra no verão para reduzir o calor urbano, ao mesmo tempo que perdem as folhas no inverno para deixar entrar a luz solar. Assim árvores de folha caduca ajudam a arrefecer a cidade no verão sem intensificar o frio do inverno.

Árvores de folha caduca
A adaptabilidade sazonal das árvores de folha caduca torna-as uma ferramenta eficaz contra o efeito de ilha de calor urbana.

Os resultados do estudo destacam que o calor urbano pode proteger contra a mortalidade na maioria das cidades não tropicais na estação fria, enfatizando a importância de estratégias sazonais e locais de mitigação do efeito da ilha de calor urbana para reduzir a mortalidade relacionada com a temperatura.

Os autores sublinham que as suas conclusões não devem ser interpretadas como uma minimização dos resultados negativos para a saúde do efeito de ilha de calor urbana, mas sim como uma forma de fornecer informações cruciais sobre as especificidades do seu impacto ao longo das estações.

As conclusões do estudo sublinham a importância de desenvolver estratégias específicas por região e por estação do ano para atenuar o efeito de ilha de calor urbana.

No entanto, há que ter em conta que a mortalidade relacionada tanto com o calor como com o frio também varia consoante a idade e os fatores socioeconómicos, como a riqueza, o tipo de habitação e a etnia.

Uma pessoa pode demorar até um mês a morrer de frio, ao passo que, devido ao calor, demora entre 3 dias a uma semana.


Referência da notícia

“Dual impact of global urban overheating on mortality”, Nature Climate Change, Shasha Wang, Wenfeng Zhan et al., Published: 21 April 2025.