Há 41 mil anos, as auroras iluminavam o céu perto do equador
Se quiser ser deslumbrado por uma espetacular exibição das luzes do Norte, a sua melhor aposta é observar o céu perto do Pólo Norte. Mas não era esse o caso há 41 mil anos atrás, quando uma perturbação do campo magnético da Terra enviou auroras em direção ao equador.
A Terra está rodeada por uma força magnética chamada magnetosfera, que integra um sistema dinâmico e interligado que responde às condições solares, planetárias e interestelares.
De acordo com o LiveScience, há 41 mil anos houve uma perturbação geomagnética, conhecida como evento Laschamp, onde o norte e o sul magnéticos do planeta enfraqueceram e o campo magnético inclinou-se sobre o seu eixo, diminuindo para uma fração da sua força anterior.
Este evento diminuiu a atração magnética que normalmente direciona o fluxo de partículas solares de alta energia para os polos norte e sul, onde interagem com os gases atmosféricos para iluminar os céus noturnos.
Foram necessários cerca de 1300 anos para o campo magnético regressar à sua força e inclinação originais, e durante esse tempo as auroras desviaram-se para latitudes quase equatoriais onde normalmente nunca são vistas, afirmaram os cientistas na conferência anual da União Geofísica Americana (AGU), realizada em Nova Orleães.
Este período de intensa mudança geomagnética pode também ter moldado alterações na atmosfera terrestre que afetaram as condições de vida em partes do planeta, disse na conferência da AGU o cientista Agnit Mukhopadhyay, candidato a doutoramento no Departamento de Ciências Climáticas e Espaciais, da Universidade de Michigan.
O campo magnético da Terra
O campo magnético da Terra nasce na agitação do núcleo fundido do nosso planeta. Os cortes metálicos perto do centro da Terra e a rotação do planeta geram polos magnéticos à superfície no norte e no sul; as linhas do campo magnético ligam os polos em arcos curvos.
Estes formam uma zona de proteção, também conhecida como magnetosfera, que protege o planeta de partículas radioativas do espaço, de acordo com a NASA. A magnetosfera também protege a atmosfera terrestre de ser desgastada pelo vento solar.
Do lado da Terra que enfrenta o Sol (suportando o peso do vento solar), a magnetosfera é comprimida para aproximadamente 6 a 10 vezes o raio da Terra. No lado noturno da Terra, a magnetosfera corre para o espaço e pode estender-se por centenas de km, de acordo com a NASA.
Contudo, há cerca de 41 mil anos, a força da magnetosfera desceu "para quase 4% dos valores modernos" e inclinou-se para o seu lado, disse Mukhopadhyay. "Várias investigações no passado previram que a magnetosfera desapareceu completamente, quando enfrentava o sol", acrescentou.
Mukhopadhyay e os seus colegas utilizaram diferentes modelos para chegar a este resultado. Primeiro levantaram dados sobre o magnetismo do planeta, a partir de sedimentos rochosos antigos, bem como dados vulcânicos, numa simulação do campo magnético durante o evento Laschamp.
Combinaram estes dados com simulações das interações da magnetosfera com o vento solar, depois alimentaram esses resultados noutro modelo que calculou a localização, forma e força da aurora através da análise de parâmetros das partículas solares que originam as auroras, tais como a sua pressão iónica, densidade e temperatura.
Auroras acompanharam a deslocação dos polos para latitudes equatoriais
Esta é a primeira vez que os cientistas utilizam esta técnica "para simular o sistema geoespacial e prever configurações magnetosféricas, juntamente com a localização da aurora", disse Mukhopadhyay. A equipa descobriu que, embora a magnetosfera tenha diminuído para cerca de 3.8 vezes o raio da Terra, durante o evento Laschamp, nunca desapareceu por completo.
Durante este período de força magnética reduzida, os polos, que anteriormente estavam posicionados a norte e a sul, deslocaram-se para latitudes equatoriais - e as auroras acompanharam.