Grupo de cientistas pretende criar um super coral que sobreviva ao aquecimento dos mares, saiba como

Os recifes de coral, segundo os cientistas, resultam de um dos processos menos compreendidos na natureza. No entanto, devido ao aquecimento das águas dos oceanos está a registar-se um fenómeno de branqueamento dos mesmos. Venha saber mais!

Branqueamento dos recifes de corais
O fenómeno de branqueamento num recife de coral acontece sob um stress severo em que as algas simbióticas são expulsas, fazendo com que estes fiquem enfraquecidos.

De acordo com um grupo internacional de investigadores liderado pelo Wellcome Sanger Institute, "os recifes de coral são as manifestações mais espetaculares da simbiose" e, compreender os seus mecanismos tornou-se numa tarefa urgente, uma vez que o aquecimento global desencadeou o colapso generalizado dos recifes em todo o planeta.

Numa tentativa de travar esta destruição, os investigadores, através de poderosos sequenciadores de ADN estão agora a desvendar os segredos genéticos dos corais, dados que poderão ser vitais para salvar os recifes do mundo e compreender os misteriosos processos que conduzem à simbiose.

Todavia, o branqueamento generalizado dos recifes devido ao aquecimento global está agora a causar devastação a nível mundial.

Por vezes, os recifes recuperam, mas à medida que os fenómenos de branqueamento se tornam cada vez mais frequentes, perdem a capacidade de recuperar a saúde. Alguns dos locais mais afetados incluem a Grande Barreira de Coral na Austrália, segundo um artigo avançado pelo The Guardian.

Os recifes de coral encontram-se em mais de 100 países, sustentam pelo menos um quarto das espécies marinhas e oferecem proteção costeira, segurança alimentar e económica a centenas de milhões de pessoas.

Estes protegem as linhas costeiras das tempestades, que provavelmente se tornarão mais extremas com a aceleração das alterações climáticas. São também vitais para a biodiversidade, pois oferecem alimento e abrigo aos animais marinhos.

As florestas tropicais dos mares

De acordo com as estatísticas do Observatório dos Recifes de Coral da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos EUA, este ano 54% dos oceanos que contêm recifes sofreram um stress térmico suficientemente elevado para causar um branqueamento destrutivo.

“Ao ritmo atual de branqueamento, cerca de 90% dos recifes de coral do mundo estarão funcionalmente extintos até 2030 e deixarão de ser capazes de suportar a vida”.

Mark Blaxter, investigador no Wellcome Sanger Institute.

Assim, tornou-se num importante foco compreender a relação exata entre o coral e o seu parceiro simbiótico, as algas.

Os corais protegem as algas que, por sua vez, convertem a energia do sol em alimento para os corais. Isto dá ao coral a energia necessária para crescer, reproduzir-se e construir o seu esqueleto. As algas também dão ao coral a sua cor.

O impacto das alterações climáticas nos recifes de coral já se faz sentir

Cerca de 14% dos corais do mundo foram perdidos entre 2009 e 2018 e uma diminuição de 70% a 90% dos corais vivos nos recifes pode ocorrer até 2050 sem "ações drásticas" para limitar o aquecimento global a 1,5 graus Celsius acima dos níveis pré-industriais, de acordo com o Programa das Nações Unidas para o Ambiente.

Temperatura do oceano
O aumento da temperatura da água dos oceanos pode causar o branqueamento de corais que poderá resultar na sua morte, no declínio da sua cobertura ou ainda em alterações de organismos residentes.

Desta forma, este grupo de investigadores, através da análise de amostras de ADN de corais e os seus genomas, pretendem identificar os parceiros simbióticos que tornam os corais mais capazes de resistir ao impacto do aumento da temperatura do mar, bem como às doenças associadas ao aumento do calor.

Contudo, ao desenvolverem novos métodos para a extração do ADN dos seus esqueletos de pedra e também para separar o genoma do animal coral das algas simbióticas, fizeram várias descobertas cruciais. Por exemplo, algumas espécies comuns de corais recolhidas pela equipa são constituídas por várias espécies distintas.

“Isto é importante. Significa que alguns dos corais mais comuns que se pensava não estarem em risco podem ser constituídos por espécies locais, cada uma das quais pode ser vulnerável às alterações climáticas de formas diferentes”.

Michael Sweet, da Universidade de Derby.

Além disso, os cientistas descobriram que, embora o animal coral seja o principal parceiro na simbiose, os genomas das algas são muitas vezes duas vezes maiores do que os do coral. Esta complexidade reflete provavelmente a dificuldade em transformar a energia do sol em açúcares para alimentar toda a parceria coralina.

Com esta metodologia os cientistas esperam poder criar colónias a partir de uma amostra ou utilizar a edição genética para manipular o ADN de um tipo diferente de coral, um que cresça rapidamente, por exemplo, para que adquira uma caraterística desejada, como a tolerância térmica ou a resistência a doenças, com o objetivo de se criar um super-coral.