"Grande Morte": antigo evento de extinção em massa é aviso para a sociedade
A perda de biodiversidade pode ser uma indicação de um colapso ecológico mais devastador, de acordo com uma equipa internacional de cientistas.
A vida na Terra sofreu várias extinções em massa, a maior das quais foi o evento de extinção Permiano-Triássico há 252 milhões de anos. Os cientistas geralmente concordam sobre o que causou esta "Grande Morte", mas a forma como a extinção em massa se desenrolou e o colapso ecológico que se seguiu permanece um mistério.
A taxa de perda de espécies atualmente é superior à da "Grande Morte", e os investigadores que estudam a estabilidade e colapso dos ecossistemas marinhos durante este período ganharam uma visão preocupante da crise da biodiversidade moderna.
Desestabilização ecológica
Uma equipa internacional de investigadores analisou os ecossistemas marinhos antes, durante e depois da "Grande Morte" para compreender melhor a série de acontecimentos que levaram à desestabilização ecológica. Examinaram fósseis do Sul da China, que era um mar raso durante a transição Permiano-Triássico, para recriar o antigo ambiente marinho.
As espécies foram divididas em grupos que exploram os recursos de forma semelhante, permitindo à equipa analisar as relações entre predadores e presas e determinar as funções desempenhadas pelas espécies antigas. Estas teias alimentares simuladas forneceram prováveis representações do ecossistema antes, durante e após o evento de extinção.
"Os sítios fósseis na China são perfeitos para este tipo de estudo porque precisamos de fósseis abundantes para podermos reconstruir teias alimentares", explica o Professor Michael Benton, da Universidade de Bristol. "Além disso, as sequências de rochas podem ser datadas com muita precisão, para que possamos acompanhar passo a passo toda a crise, quando a vida nos oceanos foi morta pelo choque térmico, acidificação dos oceanos e perda de oxigénio do fundo do mar, e depois através das etapas de recuperação da vida".
A extinção Permiano-Triássico serve de modelo para estudar a perda de biodiversidade no nosso planeta hoje em dia", acrescenta o Dr. Peter Roopnarine, Curador de Geologia na Academia de Ciências da Califórnia. "Neste estudo, determinámos que a perda de espécies e o colapso ecológico ocorreram em duas fases distintas, tendo a última ocorrido cerca de 60.000 anos após o colapso inicial da biodiversidade".
O evento erradicou 95% da vida na Terra e foi provavelmente desencadeado pelo aumento da atividade vulcânica e por um subsequente pico no dióxido de carbono atmosférico. Provocou condições climáticas semelhantes aos desafios ambientais de origem antropogénica hoje observados - aquecimento global, acidificação dos oceanos, e desoxigenação marinha.
"Apesar da perda de mais de metade das espécies da Terra na primeira fase da extinção, os ecossistemas permaneceram relativamente estáveis", explicou Yuangeng Huang, anteriormente da Academia de Ciências da Califórnia e agora da Universidade de Geociências da China.
As interações entre espécies diminuíram apenas ligeiramente na primeira fase da extinção, mas diminuíram significativamente na segunda fase, causando a desestabilização dos ecossistemas. "Os ecossistemas foram empurrados para um ponto de viragem do qual não conseguiram recuperar", diz Huang.
Os ecossistemas são mais resistentes às mudanças ambientais quando existem múltiplas espécies que desempenham funções semelhantes. Se uma espécie se extinguir, outra pode preencher esse nicho e o ecossistema continua. Se apenas uma espécie detém o monopólio no ecossistema, este irá colapsar.
"Verificámos que a perda da biodiversidade na primeira fase da extinção foi principalmente uma perda nesta redundância funcional, deixando um número suficiente de espécies para desempenhar funções essenciais", diz Roopnarine. "Mas quando mais tarde ocorreram perturbações ambientais como o aquecimento global ou a acidificação dos oceanos, faltaram ecossistemas que reforçassem a resistência, o que levou a um colapso ecológico abrupto."
Ação urgente
As conclusões, publicadas em Current Biology, sublinham o significado de considerar a redundância funcional ao avaliar as estratégias de conservação modernas e realçam a necessidade urgente de ação para enfrentar a atual crise da biodiversidade impulsionada pelo Homem.
"Estamos atualmente a perder espécies a um ritmo mais rápido do que em qualquer dos eventos de extinção da Terra do passado. É provável que estejamos na primeira fase de outra extinção em massa, mais grave", diz Huang. "Não podemos prever o ponto de viragem que enviará os ecossistemas para o colapso total, mas é um resultado inevitável se não invertermos a perda de biodiversidade".