Fóssil de crânio de pássaro descoberto no Brasil é o ‘elo perdido’ entre dinossauros e aves

O fóssil bem preservado de 80 milhões de anos, único no mundo, encontrado no estado de São Paulo, ajuda a explicar a evolução do cérebro dos pássaros da ‘Era dos dinossauros’. Veja mais detalhes abaixo.

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O fóssil do pássaro Navaornis hestiae, com 80 milhões de anos, da Era dos dinossauros. Crédito: S. Abramowicz/Instituto de Dinossauros/Museu de História Natural do Condado de Los Angeles.

Investigadores encontraram um crânio fóssil de uma espécie de pássaro, até então desconhecida, do tamanho de um pardal, que habitava num ambiente árido há cerca de 80 milhões de anos, durante o Período Cretáceo, a última fase da 'Era dos dinossauros'.

A nova espécie de ave foi chamada de Navaornis hestiae, e o seu fóssil estava tão bem preservado que foi possível reconstruir digitalmente seu cérebro e o ouvido interno com base no formato da caixa craniana.

Fóssil revela a inteligência das aves da era dos dinossauros

O pequeno fóssil foi encontrado na cidade de Presidente Prudente, no estado de São Paulo. O seu nome (Navaornis hestiae) foi dado em homenagem ao paleontólogo que o encontrou, William Nava, diretor do Museu Paleontológico de Marília em São Paulo.

O fóssil inclui o crânio completo e o esqueleto do pássaro. Mas o que chamou a atenção dos investigadores é o seu estado de conservação excecional, que inclusive permitiu a realização de uma tomografia computadorizada para reconstruir o cérebro do animal.

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O fóssil do crânio do pássaro (acima) e a reconstrução do crânio feita a partir da tomografia computadorizada (abaixo). Crédito: Guillermo Navalón Fernández e Stephanie Abramowicz.

Ainda não está claro para a ciência como e quando as capacidades cognitivas mais avançadas das aves evoluíram. Mas é aqui que esta descoberta entra para clarear um pouco as ideias, preenchendo uma lacuna de 70 milhões de anos entre os Archaeopteryx – um grupo de dinossauros que são considerados as primeiras aves – e as aves modernas.

Segundo os investigadores, a Navaornis hestiae tem um cérebro maior do que os Archaeopteryx, indicando habilidades cognitivas avançadas; mas outras estruturas cerebrais, como o cerebelo, permanecem menos desenvolvidas.

"A estrutura cerebral do Navaornis é quase exatamente intermediária entre o Archaeopteryx e as aves modernas. Foi num destes momentos em que a peça que faltava se encaixou de forma absolutamente perfeita" - disse Guillermo Navalón Fernández, coautor do estudo, em entrevista à Discover Wildlife.

Ou seja, a nova espécie apresentava características intermediárias entre o Archaeopteryx e as aves modernas. O tamanho e o formato intermediários do seu telencéfalo, uma estrutura que nas aves atuais contém áreas envolvidas na cognição complexa, sugerem que esta era mais avançada cognitivamente do que as aves mais primitivas, mas menos do que as aves modernas.

“O cérebro desta nova espécie também combina características arcaicas que observamos no Archaeopteryx – uma das primeiras aves – e nos dinossauros não-aviários (pequeno cerebelo) e peculiaridades que até agora acreditávamos serem exclusivas das aves modernas, como o cérebro e conexão ventral da medula, por exemplo”, resalta Fernández.

Antes desta descoberta, o conhecimento sobre a transição evolutiva entre o cérebro do Archaeopteryx e o das aves modernas era praticamente inexistente.

Reconstrução do pássaro Navaornis hestiae
Reconstrução do pássaro Navaornis hestiae. Crédito: J. d'Oliveira.

Suas semelhanças com as aves modernas incluem a ausência de dentes, olhos grandes e um crânio alto e globular. Além disso, a Navaornis hestiae exibe algumas características únicas, como um aparelho vestibular, órgão do equilíbrio no ouvido interno, maior do que o de qualquer outra ave conhecida.

O cérebro da Navaornis hestiae - com cerca de 10 mm de largura - era menor em relação ao tamanho do crânio das aves modernas, mas maior e mais complexo do que o dos Archaeopteryx.

Segundo os autores, ainda é necessário um entendimento muito mais detalhado da ligação entre a forma do cérebro e a ecologia cognitiva ou comportamental das aves que viveram durante a era dos dinossauros. Mas esta descoberta já ajuda a esclarecer o momento e a ordem em que as características neuroanatómicas das aves modernas evoluíram.

Referências da notícia:

Chiappe, L. M. et al. Cretaceous bird from Brazil informs the evolution of the avian skull and brain. Nature, v. 635, 2024.

SINC. “Un pájaro de la era de los dinosaurios revela las raíces de la inteligencia aviar”. 2024.