Fósseis descobertos no Brasil revelam a evolução dos mamíferos

Um novo estudo publicado na revista Nature lança luz sobre a evolução das caraterísticas dos ossos da mandíbula e do ouvido médio dos mamíferos.

cinodontes brasil
Representação artística de Riograndia e Brasilodon. Crédito: Jorge Blanco

Um novo estudo publicado na revista Nature descreve duas espécies precursoras de mamíferos, Brasilodon quadrangularis e Riograndia guaibensis. Estes fósseis oferecem uma visão sobre o desenvolvimento do ouvido médio e da mandíbula dos mamíferos, revelando caraterísticas evolutivas que ocorreram milhões de anos antes do que se supunha anteriormente.

Evolução dos ossos da mandíbula e do ouvido médio

Os mamíferos têm estruturas maxilares distintas e a presença de 3 ossos do ouvido médio. Esta transição dos primeiros vertebrados - animais com coluna vertebral - tem fascinado os investigadores, uma vez que os primeiros vertebrados tinham apenas um osso do ouvido. O novo estudo descreve como os cinodontes, os antepassados dos mamíferos, desenvolveram estas características.

Os investigadores criaram tomografias computorizadas dos fósseis para reconstruir, pela primeira vez, as articulações dos maxilares destes cinodontes. Descobriram um contacto de estilo mamífero entre o crânio e o maxilar inferior em Riograndia guaibensis, uma espécie de cinodonte que viveu 17 milhões de anos antes do animal anteriormente conhecido por ter esta estrutura. No entanto, essa estrutura não foi encontrada no Brasilodon quadrangularis, uma espécie mais próxima dos mamíferos. Esta descoberta sugere que a definição das características da mandíbula dos mamíferos teria evoluído várias vezes em diferentes grupos de cinodontes, e muito mais cedo do que o esperado.

Os resultados sugerem que os antepassados dos mamíferos teriam experimentado diferentes funções da mandíbula, o que teria levado à evolução de “traços mamíferos” de forma independente em diferentes linhagens. Isto mostra que a evolução inicial dos mamíferos foi muito mais variada e complexa do que se pensava anteriormente.

O autor principal, James Rawson, da Escola de Ciências da Terra de Bristol, explicou: "A aquisição do contacto da mandíbula dos mamíferos foi um momento-chave na evolução dos mamíferos. O que estes novos fósseis brasileiros mostraram é que diferentes grupos de cinodontes estavam a experimentar vários tipos de articulações da mandíbula e que algumas características outrora consideradas exclusivamente mamíferas evoluíram inúmeras vezes também noutras linhagens”.

Evolução em 'mosaico'

Os resultados do estudo têm amplas implicações para a compreensão da evolução inicial dos mamíferos, sugerindo que características como o ouvido médio e a articulação da mandíbula dos mamíferos evoluíram em mosaico nos diferentes grupos de cinodontes.

O Dr. Agustín Martinelli, do Museo Argentino de Ciencias Naturales de Buenos Aires, afirmou: “Nos últimos anos, estas minúsculas espécies fósseis do Brasil trouxeram informações maravilhosas que enriquecem o nosso conhecimento sobre a origem e a evolução das características dos mamíferos. Estamos apenas no início e as nossas colaborações multinacionais trarão mais novidades em breve”.

A equipa de investigação deseja continuar a estudar o registo fóssil sul-americano, que tem fornecido uma fonte rica de novas informações sobre a evolução dos mamíferos.

A Professora Marina Soares do Museu Nacional, Brasil, afirmou: “Em nenhum outro lugar do mundo existe uma variedade tão grande de formas cinodontes, intimamente relacionadas com os primeiros mamíferos.”

Combinando os resultados deste estudo com os dados existentes, a equipa de investigação espera aprofundar a compreensão do funcionamento das articulações dos maxilares primitivos.

James acrescentou: “O estudo abre novas portas para a investigação paleontológica, uma vez que estes fósseis fornecem provas inestimáveis das experiências evolutivas complexas e variadas que acabaram por dar origem aos mamíferos modernos”.


Referência da notícia:

Rawson, J.R.G., Martinelli, A.G., Gill, P.G., Soares, M.B., Schultz, C.L. and Rayfield, E.J. (2024). Brazilian fossils reveal homoplasy in the oldest mammalian jaw joint. Nature. [online]