Forças antropogénicas invertem intensificação da célula de Hadley do Hemisfério Norte causada por forçamentos naturais
Circulação de Hadley no Hemisfério Norte enfraquece devido à atividade humana: estudo revela que forçamentos naturais intensificaram a circulação no último milénio.
A Circulação de Hadley (CH) desempenha um papel central na determinação da localização e intensidade do ciclo hidrológico nas latitudes tropicais e subtropicais. Por isso, o enfraquecimento projetado da CH no Hemisfério Norte, induzido pelo ser humano, tem impactes sociais consideráveis. No entanto, atualmente não se sabe o modo como se sucede este enfraquecimento em relação à resposta da circulação aos forçamentos naturais nos séculos passados.
Mudanças dinâmicas induzidas pelo humano são de grande incerteza, as causas naturais também devem ser avaliadas
Através do uso de modelos climáticos de última geração, um novo estudo publicado na Nature Communications por Hess e Chemke, do Departamento de Ciências da Terra e Planetárias, do Instituto de Ciências Weizmann, em Israel, demonstra que, ao contrário do enfraquecimento causado pela CH induzido pela atividade antrópica, os forçamentos naturais atuaram para intensificar a circulação ao arrefecer o clima ao longo do último milénio.
A reversão de uma tendência multissecular forçada naturalmente pelas emissões humanas destaca os seus impactes sem precedentes na circulação atmosférica. Dado o efeito amplificador dos forçamentos naturais na CH, a análise do artigo evidencia a importância de incorporá-las adequadamente nas projeções dos modelos climáticos para melhor limitar as mudanças climáticas tropicais, a longo prazo.
Para realçar a influência humana no sistema climático, o último relatório do IPCC mostra que as mudanças termodinâmicas induzidas pela atividade antropogénica, como o aquecimento da superfície e o aumento do nível do mar, não têm precedentes em relação aos séculos passados. No entanto, há grande incerteza sobre como ocorrem as mudanças dinâmicas em grande escala induzidas pelo ser humano.
Neste estudo, com o uso de modelos climáticos de última geração, os investigadores avaliaram a evolução do CH do Hemisfério Norte ao longo do período de 850 a 2100 e descobriram que o enfraquecimento forçado pela ação humana de CH no Hemisfério Norte nas últimas e próximas décadas não têm precedentes em relação às mudanças forçadas naturalmente de CH durante o último milénio pré-industrial.
Como atuaram os forçamentos naturais ao longo do último milénio? E quais as consequências?
Além disso, as evidências mostram que, ao contrário do aquecimento induzido pelo ser humano nos séculos XX e XXI, o arrefecimento induzido por forçamentos naturais ao longo do último milénio atuou de modo a intensificar a CH do Hemisfério Norte nos séculos passados. Assim, não só o enfraquecimento induzido pela humanidade da CH não tem precedentes, mas também inverte uma tendência de fortalecimento multissecular forçada naturalmente.
Os resultados destacam o impacte inequívoco das emissões humanas na circulação atmosférica, mas, dados os grandes impactes da CH no ciclo hidrológico, também que as mudanças da CH podem causar impactes climáticos regionais em latitudes baixas a subtropicais. É importante notar que, semelhante ao impacte menor das emissões antropogénicas na força da CH do Hemisfério Sul ao longo dos séculos XX e XXI, os forçamentos naturais também têm efeitos menores na força do fluxo no Hemisfério Sul.
Por último, o fortalecimento significativo da CH no Hemisfério Norte ao longo do último milénio pré-industrial e a análise adicional sobre o mecanismo físico subjacente realçam que os forçamentos naturais afetaram a circulação ao longo do último milénio. Portanto, não incorporar adequadamente os forçamentos naturais nas projeções dos modelos climáticos reduz a precisão das estratégias de adaptação e mitigação perante as alterações climáticas.
Este estudo sublinha a importância de investigar mais como os forçamentos naturais influenciaram e irão influenciar a dinâmica atmosférica, juntamente com a investigações existente sobre os impactes das forçamentos antropogénicas.
Referência da notícia:
Hess, O. & Chemke, R. (2024) Anthropogenic forcings reverse a simulated multi-century naturally-forced Northern Hemisphere Hadley cell intensification. Nature Communications, 15, 4001. https://doi.org/10.1038/s41467-024-48316-y