Fitoplâncton: a maior fábrica de ar!
Todo o oxigénio atmosférico resulta da existência de vida no planeta. Ao longo de cerca de 2 biliões de anos, minúsculos seres como as cianobactérias, produziram e libertaram oxigénio que se foi acumulando, representando atualmente, 21% dos gases que compõem a atmosfera.
Refém de radicais transformações químicas, a atmosfera terrestre representa uma dinâmica reorganizacional em constante evolução. Adentando-se a idade da Terra em 4,5 giga anos, toda uma alquimia físico-química propiciou ao aparecimento de água em estado líquido à cerca de 3,8 giga anos, potenciando à formação de um manto protetor em redor do planeta.
Uma proto-atmosfera que ajudou a incubar minúsculas primitivas formas de vida, organismos unicelulares que à mercê da lenta escala geológica, atuaram como agentes modificadores da superfície e atmosfera terrestres. Consumiam certos compostos e produziam outros, competiam por substratos, proliferaram e ocuparam novos nichos, enquanto outros pereceram. Sobreviver foi um desafio constante, superado pelos mais capazes de aproveitar os recursos disponíveis no preciso local e momento.
Um processo de seleção natural que adaptativamente acompanha a história da evolução do planeta e da atmosfera. Com efeito, a morosa métrica temporal, potenciou sucessivas gerações com capacidade de produzir novas estruturas, novos órgãos, novas espécies, como resposta automática à pressão seletiva de constantes mudanças climáticas.
Neste primordial contexto metabólico, o resultado de sucessivas mutações refletiu-se num gigantesco passo adaptativo quando as cianobactérias passaram a extrair eletrões da água em vez de H2S (sulfeto de hidrogénio), contribuindo determinantemente para o aumento dos níveis atmosféricos de oxigénio. E, num colossal salto temporal, a vida evoluiu atá às formas atuais, onde o oxigénio é primordial para a sobrevivência da maioria das espécies de seres vivos.
Representando, na atualidade, cerca de 21% da composição do ar seco da atmosfera, o oxigénio molecular resulta de vários processos, particularmente da fotossíntese. Ora, este processo de conversão da energia solar em energia química é realizado pelos organismos autotróficos fotossintetizantes, diga-se plantas, algas e alguns procariontes. Assim, comumente se associam extensas áreas de coberto vegetal, como a Amazónia, ao papel de pulmão do planeta, por quão responsável por manter os necessários níveis de oxigénio na atmosfera.
O papel do fitoplâncton na atmosfera terrestre
Não obstante as plantas produzirem oxigénio como resultado da fotossíntese, elas respiram, dia e noite, consumindo também oxigénio, particularmente as árvores de um estágio de desenvolvimento avançado, as mais velhas, que libertam maior quantidade de carbono do que a que absorvem, durante o seu processo de respiração. Boa parte do oxigénio produzido pelas florestas, acaba por ser consumido lá mesmo, na respiração e decomposição de animais e plantas.
Na verdade, os maiores responsáveis pela produção de oxigénio são microscópicos seres aquáticos, grupos de algas denominados de fitoplâncton. Aluda-se que cerca de 71% da superfície da Terra é coberta por água. Aproximadamente, 1,4 biliões de km3 de água preenchem o planeta. Torna-se assim proporcionada a asserção de que cerca de 90% do oxigénio atmosférico seja produzido pelo fitoplâncton!
A insólita comunidade fitoplanctónica é representada por microscópicos organismos fotossintéticos, vegetais, algas unicelulares, de dimensões que variam de 1 a 500nm (nm = nanómetro = milionésimo de milímetro), que vivem suspensos na coluna de água das zonas fóticas, podendo chegar aos 200 m em oceano aberto e menos de 15 m em zonas costeiras. Reduzidos seres que, para além de constituírem a base da cadeira alimentar dos ecossistemas aquáticos, serem responsáveis por cerca de 95% da produção de matéria orgânica, são ainda capazes de absorver, através da fotossíntese, sensivelmente 1,8 giga toneladas de carbono / ano.
Oscilações espácio-temporais de variáveis climatológicas, hidrológicas, hidrodinâmicas, químicas e biológicas, inferem determinantemente no comportamento da comunidade fitoplanctónica, reflectindo-se na sua distribuição, qualitativa e quantitativamente.
Porque é crucial a adaptação das espécies de fitoplâncton?
Estas microalgas, com curto ciclo de vida, entre 4 a 5 dias, apresentam uma fantástica diversidade de formas, e essa característica contribui muito para a sua flutuabilidade e permanência na zona fótica, onde conseguem realizar a fotossíntese, convertendo o material inorgânico em orgânico, e oxigenando a água.
Incrivelmente vulnerável a oscilações na, temperatura da água, radiação incidente, e poluição, a dinâmica do fitoplâncton é consequência de complexas interacções entre recursos ambientais, sendo por isso também um relevante bioindicador de alterações químicas e físicas na água. É fundamental no balanço do oxigénio, do dióxido de carbono e dos compostos azotados, particularmente da amónia. Qualquer mudança na composição, e/ou na abundância do fitoplâncton, afecta consequentemente a dinâmica das relações tróficas.
Não obstante as inevitavelmente cíclicas alterações que ocorrem no clima do planeta, é crucial uma contínua aclimatação e adaptação das espécies do fitoplâncton, imune à inferência da pressão humana. Considere-se a água como fonte de vida, num planeta onde 71% da sua área é coberta por oceanos de água, povoados por microalgas produtoras de oxigénio, que o fabricam em maior quantidade do que a que precisam, e o excesso deste crucial gás, é libertado para a atmosfera, ficando disponível para os demais seres vivos.
Não anulando a indispensável colossal importância ecológica das florestas, é incontornável a determinante relevância destes micro seres, que vai além da inferência no mecanismo fotossintético. O fitoplâncton alicerça a cadeia alimentar dos ambientes aquáticos, servindo de alimento para organismos maiores, sendo fulcral para a biosfera, fundamental para a sobrevivência dos seres vivos! A sua casa, o oceano, enquanto regulador climático, tem assim indubitavelmente de ser cuidado, e o seu equilíbrio como um todo, respeitado.