Exposição a temperaturas extremas acelera a mortalidade entre espécies
A exposição a temperaturas extremas acelerará a mortalidade entre espécies devido às alterações climáticas. Para prever tais perdas, precisamos saber com que rapidez os organismos sucumbem perante situações de extremo calor. Saiba mais aqui!
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Uma das maiores consequências das alterações climáticas é o aumento de ondas de calor em frequência e intensidade até ao final do século. Estes eventos já causaram declínios populacionais e a reorganização de certas comunidades biológicas, mas a sua tendência será para continuar a aumentar. De qualquer modo, as taxas de “golpes de calor” variam entre as espécies e tais conclusões podem apoiar na avaliação dos efeitos perante um cenário de alterações climáticas.
Temperaturas extremas resultam em efeitos negativos surpreendentes para a sobrevivência de organismos
Num estudo recente publicado na Nature ficou patente que perante temperaturas extremas (stress térmico), um ligeiro aumento da temperatura podia resultar em efeitos negativos surpreendentes sobre a sobrevivência de organismos. Apesar do estudo se ter dedicado aos organismos ectotérmicos (insetos e répteis), ficou provado que existe uma capacidade limitada de regular a temperatura interna do corpo, podendo originar a falência irreversível associado ao calor (denominado de “golpe de calor”).
As temperaturas corporais ectotérmicas estão essencialmente relacionadas com as condições ambientais e a tolerância térmica acaba por influenciar, de modo significativo, a distribuição de espécies. Perante a sensibilidade dos processos biológicos à variação da temperatura, numa avaliação com mais de 300 espécies, ficou consistente que o movimento dos animais, a alimentação e o metabolismo são fortemente influenciados pelo indicador da temperatura.
Perante condições de temperatura extrema e de maior suscetibilidade a “golpes de calor”, o estudo estimou que o aumento na temperatura em 1 ºC diminuía significativamente a capacidade de sobrevivência das espécies. São também os peixes e anfíbios mais sensíveis às variações térmicas perante ondas de calor, sugerindo que os vertebrados são mais frágeis quando enfrentam condições extremas de calor próximas ao limite de sobrevivência.
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Efetivamente, não podemos esquecer que os “golpes de calor” em ecossistemas aquáticos e terrestres poderão aumentar entre duas a oito vezes devido às alterações climáticas. Algumas espécies, como formigas ou peixes, já estão a vivenciar temperaturas máximas que caem na região do stress térmico muito elevado.
É essencial agora compreender essas estimativas do risco de aumento das ondas de calor, considerando as temperaturas experimentadas pelos ectotérmicos na natureza, incluindo variações associadas ao momento, à gravidade e à duração das temperaturas máximas elevadas.
Além disso, é importante considerar que outros processos podem ajudar a proteger os organismos dos efeitos letais associados às ondas de calor, designadamente as estratégias fisiológicas e comportamentais para fazer face ao calor ou a capacidade de estabelecer uma resposta às temperaturas extremas após a pré-exposição aguda a temperaturas muito elevadas.
Novas investigações necessárias para estabelecer as faixas críticas de stress térmico
É essencial perceber uma série de questões que ainda não estão totalmente investigadas, designadamente a ordem relativa de decomposição de vários processos celulares e do sistema de vários grupos de espécies perante as temperaturas extremas.
Desta forma, tal como para os humanos, é fundamental instituir as faixas térmicas entre as temperaturas ótimas e aceitáveis e as faixas críticas de stress térmico, embora nem sempre seja possível este tipo de processo.
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Tal razão deve-se à ausência de testes letais em vertebrados, por razões éticas, ou por serem menos apropriados em estados de vida imóveis (como quando o animal está no ovo), em que a resposta comportamental é muito reduzida.
Há, efetivamente, a necessidade de se desenvolverem métodos mais inovadores para avaliar a progressão de resposta ao stress celular em situações que possam originar a morte por calor. A complexidade subjacente às faixas térmicas e a necessidade de determinar esses limites poderá contribuir para prever a vulnerabilidade de espécies perante o aquecimento global.