Exercício físico diário pode ser a chave para uma vida mais saudável
O exercício físico é fundamental para a saúde e bem-estar. Mas será que precisamos descansar entre os dias de esforço? É bom fazer exercício todos os dias? Para responder a estas perguntas, vamos ver o que a ciência diz sobre o assunto.
A frequência com que nos exercitamos está sempre relacionada com a intensidade do treino. Ou seja, se nos esforçamos muito um dia, é possível que no dia seguinte precisemos descansar e não consigamos exercitar.
No entanto, apenas quando a intensidade é muito alta a baixa frequência de exercício é benéfica, de acordo com um estudo apresentado, em 2005, na JAMA Internal Medicine. Do mesmo modo, estudos recentes demonstram que o exercício prolongado traz vantagens para os tecidos, com alterações substanciais na sua estrutura.
Mais frequência de exercício e intensidade adaptada
Estudos realizados em diversas instituições têm demonstrado que a alta frequência no exercício físico, seja em intensidade moderada ou alta, é sempre benéfica e produz mudanças no nosso estado físico, melhorando, entre outras coisas, os lipídios no sangue e o consumo máximo de oxigénio.
Também é expectável que para a reabilitação de pacientes cardíacos, a alta frequência, ou seja, treinar diariamente, produza melhores resultados, principalmente a nível psicológico, do que treinar poucas vezes por semana.
O mesmo acontece com adolescentes e no controlo da glicemia e da composição corporal em pessoas com diabetes tipo 2.
Por outro lado, sabe-se que para melhorar a saúde óssea, é melhor treinar diariamente do que exercitar em alta intensidade poucas vezes por semana.
Não menos importante, verificou-se que, quando se prescreve exercício de intensidade moderada e alta frequência, tem melhor adesão do que o de alta intensidade e baixa frequência. Portanto, se a investigação de várias décadas demonstra que faz bem treinar com frequência, estudos mais recentes demonstram que a resposta do corpo ao exercício é bem mais significativo.
São possíveis alterações em quase todos os tecidos
Mais recentemente um novo estudo publicado na Nature, demonstrou outros benefícios do exercício físico, designadamente em alterações a nível molecular. A investigação, realizada em ratos, demonstra que a resposta do corpo ao exercício prolongado é mais complexa.
A investigação, liderada pelo consórcio MoTrPAC, envolveu cientistas do Broad Institute, do Instituto Tecnológico de Massachusetts e da Universidade de Harvard, bem como da Universidade de Stanford e dos Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos.
Os cientistas analisaram alterações moleculares em ratos submetidos a semanas de exercício intenso, ao estudarem 19 órgãos, entre eles o coração, o cérebro e os pulmões. Descobriram que cada um dos órgãos muda com o exercício, ajudando o corpo a regular o sistema imunológico, responder ao stress e controlar vias relacionadas com doenças inflamatórias do fígado, doenças cardíacas e dos tecidos.
A investigação revelou também diferenças por sexo em diversos órgãos, principalmente na resposta imunológica. A maioria das moléculas de sinalização imunológica exclusivas das mulheres mostraram alterações nos seus níveis entre uma e duas semanas de treino, enquanto as dos homens mostraram diferenças entre quatro e oito semanas.
Para surpresa dos cientistas, o estudo também encontrou um aumento na acetilação de proteínas mitocondriais, envolvidas na produção de energia, e num sinal de fosforização que regula o armazenamento de energia, tanto no fígado como no organismo, muda durante o exercício.
O que devemos então fazer?
O ideal é adaptar a intensidade ao nosso estado físico, mas sempre tentar manter uma alta frequência de treino, ou seja, mover-nos todos os dias ou quase todos os dias da semana. Afinal, a regularidade faz a diferença no nosso corpo e na saúde. Por isso, as recomendações indicam que quanto mais nos pudermos mover (independentemente da intensidade), melhor para o organismo.
E as dicas para se exercitar diariamente são diversas e damos-lhe conta de algumas:
- Comece devagar e aumente gradualmente a intensidade e a duração dos treinos ao longo do tempo.
- Encontre atividades que goste e que se encaixem no seu estilo de vida.
- Varie os treinos para evitar tédio e lesões.
- Defina metas realistas e recompense-se por alcançá-las.
- Encontre um amigo ou parceiro de treino para se manter motivado.
De qualquer modo, não é de descurar a consulta de um médico antes de iniciar qualquer programa de exercícios, especialmente se tiver alguma condição médica pré-existente.
E lembre-se que o exercício físico é uma parte importante de um estilo de vida saudável. Ao exercitar diariamente, pode melhorar a saúde física e mental, reduzir o risco de doenças crónicas e viver uma vida mais longa e feliz.
Referências da notícia
Duncan, G. E., Anton, S. D., Sydeman, S. J., Newton, R. L., Corsica, J. A., Durning, P. E., ... & Perri, M. G. (2005). Prescribing exercise at varied levels of intensity and frequency: a randomized trial. Archives of internal medicine, 165(20), 2362-2369.
https://doi.org/10.1001/archinte.165.20.2362
MoTrPAC Study Group., Lead Analysts. & MoTrPAC Study Group. Temporal dynamics of the multi-omic response to endurance exercise training. Nature 629, 174–183 (2024). https://doi.org/10.1038/s41586-023-06877-w