Evidências de água quente antiga em Marte sugerem um passado habitável no planeta vermelho, diz novo estudo
A análise de um grão de zircão com 4,45 mil milhões de anos sugere a existência de água quente em Marte no passado. Esta descoberta levanta novas perspetivas sobre a habitabilidade do planeta vermelho.
Uma equipa de investigadores da Universidade de Curtin, na Austrália, descobriram o que poderá ser a mais antiga prova direta da presença de água quente em Marte, uma descoberta que levanta novas questões sobre a habitabilidade do planeta vermelho no seu passado distante.
O estudo, publicado na revista Science Advances com o título “Zircon trace element evidence for early hydrothermal activity on Mars”, aponta para a existência de fluidos ricos em água durante as fases iniciais da formação da crosta marciana.
Segundo Aaron Cavosie, coautor do artigo e investigador da Curtin's School of Earth and Planetary Sciences, esta descoberta pode lançar luz sobre os antigos sistemas hidrotermais marcianos e a possível habitabilidade do planeta durante o seu período de formação.
Água quente: um ingrediente chave para a vida
“Utilizámos técnicas geoquímicas à nanoescala para identificar provas elementares de água quente em Marte há 4,45 mil milhões de anos”, explicou Cavosie. Esta descoberta sugere que Marte possuía ambientes com água líquida, um ingrediente essencial para a vida tal como a conhecemos, numa altura em que a formação da crosta marciana estava na sua fase inicial.
A equipa utilizou técnicas avançadas de espectroscopia e de imagem nanométrica para analisar um zircão único do meteorito Black Beauty. Este grão de zircão contém padrões geoquímicos distintos, incluindo vestígios de elementos como o ferro, o alumínio, o ítrio e o sódio. Os investigadores concluem que estes elementos foram incorporados no mineral durante a sua formação, indicando interação com fluidos ricos em água num ambiente hidrotermal primitivo.
Marte e a sua história inicial
A investigação também explora a forma como a crosta marciana sofreu impactos maciços de meteoritos durante o período Pré-Noachiano, há mais de 4,1 mil milhões de anos. Apesar destes eventos catastróficos, as provas sugerem que a água estava presente na subsuperfície marciana durante este período.
“Sabemos que os sistemas hidrotermais desempenharam um papel essencial no desenvolvimento da vida na Terra”, disse Cavosie. "As nossas descobertas indicam que Marte partilhou pelo menos uma característica fundamental com o nosso planeta: água quente nas suas fases iniciais. Este facto aumenta a possibilidade de Marte ter sido habitável em algum momento do seu passado distante".
O estudo também relaciona as descobertas atuais com investigações anteriores. Em 2022, a equipa de Curtin identificou que o mesmo grão de zircão tinha sofrido o impacto de um meteorito, tornando-o o único zircão conhecido de Marte com provas diretas de um evento de impacto. Esta nova análise acrescenta uma peça crucial ao puzzle, mostrando que a água estava presente durante a formação do grão, fornecendo um marcador geoquímico de atividade hidrotermal na crosta marciana.
Implicações para a exploração futura
A descoberta não só lança luz sobre o passado marciano, como também tem implicações para a futura exploração do planeta vermelho. “Estas descobertas abrem novos caminhos para a investigação da geologia e da habitabilidade de Marte”, disse Cavosie. Também sublinham a importância de estudar amostras marcianas tanto na Terra como in situ, com missões como a Mars Sample Return, que deverá trazer amostras para o nosso planeta na próxima década.
Os resultados deste estudo reforçam a ideia de que a água, e possivelmente as condições para a vida, estiveram presentes nos primórdios da história do planeta, constituindo um marco na nossa compreensão de Marte e do seu potencial para suportar vida em algum momento da sua história.
Referência da notícia:
Jack Gillespie et al., Zircon trace element evidence for early hydrothermal activity on Mars. Sci. Adv.10, eadq3694 (2024). DOI:10.1126/sciadv.adq3694