Eunice Foote, a feminista que provou o efeito de estufa

Quando o proeminente físico e químico irlandês John Tyndall publicou as suas descobertas revolucionárias sobre o efeito de estufa em 1859, não mencionou a pessoa que anos antes tinha feito uma descoberta semelhante. Saiba tudo aqui!

Sol
Eunice Foote teria ficado na história como a primeira pessoa a provar a existência do efeito de estufa.

Eunice Foote podia ter ficado para a história não fosse o facto de, após a publicação das suas descobertas relacionadas com efeito de estufa, ter sido completamente esquecida pela ciência.

Durante mais de 150 anos, ninguém conhecia o nome Eunice Foote. Nem sequer entre os cientistas. Pouco se sabe da sua vida, para além de que em 1856 realizou uma experiência simples, mas eficaz, com tubos cheios de diferentes gases e expostos à luz solar.

No entanto, essa simples experiência foi a chave para compreender a ciência climática e as alterações climáticas, anos mais tarde. E fê-lo antes de qualquer outra pessoa, numa altura da história em que as mulheres não estavam envolvidas na ciência.

Não é claro se John Tyndall ignorou Foote porque não a considerou relevante, ou se ele simplesmente desconhecia o seu trabalho.

O campo da ciência era quase inteiramente dominado por homens

Sabe-se que ela nasceu Eunice Newton a 17 de julho de 1819 em Connecticut, EUA, e que viveu em Nova Iorque. A Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA) descreve-a como uma "cientista amadora", que na sua época era conhecida como uma filósofa natural.

Para combater o domínio masculino na ciência, as mulheres lutaram por uma situação de igualdade que lhes conferisse os mesmos direitos que os homens. O seu nome aparece na lista de signatários da "Declaração de Sentimentos", um documento assinado em Nova Iorque, durante a Convenção de Séneca Falls, em 1848.

Foi a primeira convenção sobre os direitos da mulher, que abordou, entre outras coisas, o sufrágio das mulheres. Foote assinou juntamente com 67 outras mulheres e 32 homens. O seu marido, Elisha Foote, com quem se casou em 1841, também assinou. Oito anos após a convenção, Eunice faria a sua primeira investigação científica.

A experiência

Em 1856, as descobertas de Foote foram apresentadas na Reunião Anual da Associação Americana para o Progresso da Ciência. A experiência foi baseada no efeito do calor do sol sobre diferentes gases e um desses gases era o dióxido de carbono - conhecido por ser um gás com efeito de estufa.

Para a sua experiência, Foote utilizou dois cilindros de vidro nos quais colocou termómetros de mercúrio. Utilizando uma bomba de ar, esvaziou um dos tubos. No outro, o gás estaria comprimido. Ao certificar-se que os cilindros estavam à mesma temperatura, expô-los à luz solar.

E o que ela descobriu foi revelador, apesar da simplicidade do teste. O tubo que continha CO2 ficou muito mais quente do que os outros - mais de 50°C. Para além disto, também demorou muito tempo a aquecer e a arrefecer, quando removido da fonte de calor.

Foote já sabia que o CO2 estava presente na atmosfera e que os seus níveis variavam em função das idades do planeta. Assim, concluiu que "uma atmosfera composta por este gás poderia dar à nossa Terra uma temperatura elevada". A sua metodologia não foi pioneira. Porém, isto nunca tinha sido feito com dióxido de carbono.

Desta forma, Foote provou que o CO2 e o vapor de água modulam o aquecimento a partir do sol. E fê-lo três anos antes de Tyndall.

Questão de género

Mas não foi Foote que apresentou as suas conclusões à associação. Foi o seu colega masculino, o eminente cientista Joseph Henry. Embora não proibidas, as mulheres não participavam habitualmente nestas reuniões. Nem a investigação nem a apresentação de Henry foram incluídas nos manuais da conferência.

Apesar de ter sido Eunice Foote a desenvolver a experiência e a concluir a mesma, não foi ela quem a apresentou, mas sim, Joseph Henry.

Em 1857, o estudo foi publicado no American Journal of Science and Arts, e um resumo do mesmo no Annual of Scientific Discovery sob o nome de David Ames Wells. Pouco se sabia das descobertas de Foote na Europa, e a receção da comunidade científica foi bastante silenciosa. Apenas dois periódicos europeus fizeram eco à investigação de Foote e fizeram-no de uma forma muito resumida.

Sabe-se que Foote conduziu mais investigações científicas pelo menos até à década de 1860. Morreu em Massachusetts a 30 de Setembro de 1888.